Desafiar a maioria: o rigor que move a história /ᐠ。‿。ᐟ\
A citação "Se nós tivéssemos sempre a opinião da maioria, atribuída ao inesquecível Lima Barreto, estaríamos ainda no Cro-Magnon" provoca uma reflexão profunda que é indispensável. O que ela revela? Que o progresso humano depende de mentes que desafiam o consenso. A história é repleta de exemplos: Galileu Galilei enfrentou a Igreja para defender o heliocentrismo. Sem sua teimosia lúcida, talvez a ciência moderna tivesse se atrasado ainda mais. O pensamento independente e a coragem são os motores da evolução humana. Discordar disso é fechar os olhos para a história.
Seguir a maioria é reconfortante. Dá sensação de segurança. Mas o conformismo, muitas vezes, perpetua erros seculares. No século XIX, a grande maioria aceitava a escravidão como algo natural. No entanto, vozes dissidentes, como Zumbi dos Palmares e os abolicionistas, mudaram o curso do escravismo no Brasil. Até onde devemos ir quando a consciência diz não, mas o mundo inteiro diz sim? Dados históricos mostram que revoluções científicas e sociais surgem de minorias ousadas que desafiaram o senso comum.
Por outro lado, é fato também que o consenso não é, por definição, irracional. A maioria pode refletir sabedoria coletiva. Vacinas, por exemplo, são embasadas no rigor científico. Lembro que o médico paulista Oswaldo Cruz, nomeado diretor da Saúde Pública em 1903, enfrentou a febre amarela e erradicou ela do país. Mas a imposição da vacina contra a varíola gerou reações violentas nas ruas: barricadas, saques, depredações e mortes.
Desafiar por desafiar, sem embasamento, é irresponsável. Não passa de ruído. A diferença fundamental está na fundamentação. O pensamento independente exige rigor, não rebeldia estrábica. Ou seja, é preciso equilibrar ceticismo com humildade.
A citação de Barreto nos lembra que o progresso exige coragem para divergir. E que questionar é ato sério, não jogo de vaidades. Refletir, argumentar, propor. O que não vale é crítica pela crítica. Sem proposição. Pois bem, assim avançamos. Que cada um ouse pensar por si, como afirma o Iluminismo. Para concluir, foi a inquietação lúcida que nos tirou das cavernas.
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