A Culpa é do Presidente?

 

Quando o arroz sobe, a culpa é do presidente.

Quando falta ovo no mercado, é o presidente.

Quando o ônibus atrasa, o gás encarece, a gasolina estoura, a carne vira artigo de luxo…

Mais uma vez: o presidente.

 

Mas será que é mesmo assim?

 

O Brasil é uma engrenagem política complexa. Um país continental, com mais de 5 mil municípios, 27 unidades federativas, centenas de deputados, senadores, juízes, governadores, prefeitos — e um único rosto para levar pedrada ou aplauso: o do presidente da República.

 

Isso não é justo. Nem inteligente.

 

A inflação, por exemplo, é um fenômeno global. Depende do preço do petróleo, do dólar, das guerras em outros continentes, do clima, da especulação no mercado interno.
 

A política econômica do presidente tem peso? Sim. Mas ele não imprime dinheiro nem controla o clima. O Banco Central é autônomo e toma decisões muitas vezes independentes da vontade presidencial.

 

E a escassez de alimentos? Vem de secas, enchentes, desmonte de políticas públicas anteriores, falta de incentivo à agricultura familiar e da ganância de grandes conglomerados do agronegócio. O presidente pode agir, mas não governa sozinho. Sem apoio do Congresso, sem boa vontade dos governadores, sem articulação dos prefeitos, qualquer política vira papel molhado.

 

Por que, então, a culpa é sempre concentrada no presidente?

 

Porque é mais fácil.

Porque é o rosto que aparece no noticiário, na rede social, nos memes.

Porque vivemos uma era de polarização em que se ama ou se odeia o chefe do Executivo — e se esquece dos outros 594 parlamentares que aprovam (ou boicotam) o orçamento da merenda escolar, do posto de saúde, do Bolsa Família, da farmácia popular.

 

O Congresso tem responsabilidade? Muita.

Aprovam gastos bilionários em emendas de interesse próprio, travam pautas sociais, protegem lobbies empresariais — e seguem quase invisíveis, longe da bronca do povo.

 

E os governadores? São eles que cuidam da segurança pública, dos hospitais regionais, da logística de distribuição, da defesa civil em caso de catástrofe.

Mas também passam ilesos na maior parte das críticas.

 

A verdade é simples: a responsabilidade pelo país não é individual. É coletiva.

Mas enquanto estivermos ocupados jogando pedra num só poste, a escuridão vai continuar — e os verdadeiros culpados seguirão operando nas sombras.

 

O Brasil não precisa de um salvador.

Precisa de cidadãos que compreendam o sistema e cobrem todos os que têm poder — e dever.

 

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Julio Cesar Fernandes
Enviado por Julio Cesar Fernandes em 20/04/2025
Código do texto: T8313981
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