Quem crê em ditadura no Brasil 2025 tem razão? /ᐠ。‿。ᐟ\

Essa indagação, que reverbera em debates acalorados, redes sociais e análises acadêmicas, nos convida a examinar com rigor o que define um regime ditatorial e como o Brasil contemporâneo se posiciona nesse espectro. Em um contexto global de crises democráticas e avanços tecnológicos, abordar essa questão exige clareza conceitual, embasamento histórico e filosófico, e um compromisso com o diálogo que evite tanto o alarmismo quanto a complacência.

DEFININDO DITADURA E AVALIANDO A DEMOCRACIA

Uma ditadura se revela, antes de tudo, na ausência de liberdade real: eleições manipuladas, censura oficial, perseguições organizadas e o poder concentrado em mãos que não admitem contestação. O Brasil já viveu isso. O regime militar entre 1964 e 1985 sufocou vozes, calou jornais, prendeu sem justificativa e cassou mandatos. O medo era regra. Havia tanques, espiões, silêncio imposto.

Hoje, em 2025, esse cenário não se repete. As eleições de 2022 ocorreram com transparência reconhecida e urnas auditáveis. A imprensa circula livremente. Críticas ao Executivo, ao Judiciário e ao Congresso aparecem em todos os meios. O Parlamento continua com autonomia para legislar e fiscalizar. O STF, o Ministério Público e o TCU seguem ativos, mesmo que nem sempre em sintonia com a expectativa popular.

Ainda assim, a existência formal dessas instituições não basta para que se afirme uma democracia plena. Aristóteles já nos alertava sobre os desvios da democracia, quando se transforma em instrumento da demagogia ou da elite. Para ele, o exercício da cidadania ativa era o coração da democracia. Não basta votar. É preciso compreender, participar, questionar, construir.

A pluralidade de vozes, a tensão entre os poderes, o espaço para o dissenso: tudo isso sustenta a estrutura democrática. Sem esse terreno fértil, sem uma população consciente, a democracia murcha. E o que surge no lugar nem sempre tem nome, mas tem consequências.

REFERÊNCIAS HISTÓRICAS E FILOSÓFICAS: UM CHAMADO À CAUTELA

Hannah Arendt nos ensinou que o mal pode ser banal. Pode nascer de omissões, do hábito, da burocracia que mata sem mostrar o rosto. Montesquieu nos mostrou a importância de dividir o poder, para que ninguém o use contra todos. E Aristóteles, mais uma vez, reafirma: sem o cidadão, não há república.

Fazendo eco a esses pensadores, é preciso evitar comparações apressadas. O Brasil atual não vive sob uma ditadura militar, tampouco se encontra livre de riscos. Decisões do STF, como prisões por desinformação ou bloqueios de conteúdos nas redes, geram inquietações legítimas. Parte da população vê nessas ações um cerceamento da liberdade de expressão. Por outro lado, setores do Executivo mantêm discursos beligerantes, desafiando normas democráticas. Esses fatos preocupam.

Contudo, tudo isso se dá num ambiente onde há debate, contestação, resistência. Medidas judiciais são revisadas. O governo é questionado. O povo protesta. Essa dinâmica, apesar das fricções, ainda aponta para a existência de canais democráticos abertos. É preciso olhar com atenção, sem ingenuidade, mas também sem desespero.

A revolução digital, por sua vez, bagunçou o tabuleiro. As redes sociais misturam fatos, boatos, ódio e engajamento. A inteligência artificial acelera esse fluxo. A polarização se alimenta da desinformação, e a democracia sofre os impactos de um cenário onde a dúvida virou regra e a manipulação, moeda corrente.

FRAGILIDADES DO CENÁRIO ATUAL

Não há como negar: a democracia brasileira está fragilizada. Desde 2018, a polarização transformou divergências em trincheiras. O diálogo se tornou exceção. O Supremo Tribunal Federal se viu obrigado a arbitrar temas espinhosos, o que gerou críticas e acusações de ativismo. Isso abalou a confiança de parte da população.

A vigilância digital, usada para combater crimes cibernéticos, levanta dilemas sobre privacidade e liberdade. A participação política ainda é desigual. Populações indígenas, moradores de periferias e outros grupos historicamente marginalizados continuam com pouco acesso aos espaços de decisão.

O Congresso avançou em diversidade, mas a representação real ainda é distante do ideal. Isso limita a pluralidade de vozes nas políticas públicas.

Apesar disso, não vivemos sob ditadura. Há oposição, há protestos, há alternância de poder. As vozes dissonantes não são eliminadas. Elas ecoam nos plenários, nas ruas, nas redes. A disputa política se dá dentro das instituições, ainda que com tensões. O que temos é uma democracia imperfeita, em disputa constante, desafiada a amadurecer.

O PERIGO DA BANALIZAÇÃO E O PODER DO ENGAJAMENTO

Chamar de “ditadura” tudo o que desagrada é um erro perigoso. Banaliza a dor de quem viveu o autoritarismo. Confunde. Espalha medo. E enfraquece a crítica séria. A democracia precisa de vigilância, não de pânico. Precisa de engajamento, não de resignação.

A inquietação popular, nesse cenário, não é um problema: é um sinal de vitalidade. ONGs, movimentos sociais, jornalistas independentes e cidadãos comuns têm se mobilizado. Em 2024 e 2025, vimos crescer iniciativas de checagem de fatos, projetos de educação política e redes de enfrentamento à desinformação. Isso fortalece a democracia de dentro para fora.

O que ainda falta é um salto na consciência cívica. A alfabetização política é baixa. Muitos brasileiros não sabem como funcionam os poderes. E isso os torna alvos fáceis de discursos simplistas e falsos salvadores.

Educar para a cidadania é educar para a liberdade. Como dizia Aristóteles, só é justo o regime em que o cidadão participa com razão e consciência. E isso se aprende. Em casa, na escola, nos coletivos, na vida.

SÍNTESE CONSTRUTIVA PARA O FUTURO

O Brasil de 2025 não é uma ditadura. Não está à beira do abismo, mas também não pode se dar ao luxo de cochilar. As instituições estão de pé. As eleições funcionam. A imprensa é livre. O debate existe. Tudo isso importa. Muito.

Há problemas, sim. Polarização, desinformação, judicialização excessiva. Falta de representatividade. Falhas institucionais. Mas tudo isso pode ser enfrentado dentro do jogo democrático. Não é hora de pânico. É hora de responsabilidade.

Como ensinou Aristóteles, a democracia só se sustenta com cidadãos conscientes. E como advertiu Tocqueville, ela depende daqueles que não esperam apenas ser governados, mas se sentem responsáveis por governar juntos.

O Brasil de 2025 tem erros e acertos. Tem feridas e esperanças. É imperfeito, como toda democracia. Mas está vivo. E isso, por si só, já é motivo para lutar por mais justiça, mais participação, mais liberdade. Porque quem conhece o silêncio imposto por uma ditadura sabe reconhecer o valor de poder falar, discordar e construir.

PS: A área de comentários do RL é um espaço plural e aberto à troca de ideias, onde valorizamos o debate respeitoso e construtivo. Para manter um ambiente equilibrado e produtivo, opiniões ofensivas, grosseiras ou inapropriadas serão imediatamente removidas. Contamos com a colaboração de todos para promover diálogos enriquecedores e respeitosos.

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