Os apedeutas dominam o mundo digital e o RL /ᐠ。‿。ᐟ\

Sabe aquele sentimento de angústia ao ver, num piscar de olhos, notícias e boatos correndo soltos pela internet? Vivemos dias em que a verdade e a mentira dançam lado a lado na palma da nossa mão, compartilhadas em velocidade vertiginosa. É desesperador perceber que, enquanto alguns questionam ideias científicas consolidadas – como o consenso de que o homem tem responsabilidade no aquecimento global –, outros negam fatos históricos irrefutáveis: há quem jure que a ditadura militar no Brasil nunca existiu ou que o Holocausto foi invenção de uma “indústria da memória”. Essa negação do óbvio dói na gente, como se tentassem apagar cicatrizes que ainda sangram.

Quando falamos de mudanças climáticas, o coração aperta: sabemos que as torres de fumaça e a queima de combustíveis fósseis mancham o céu e aquecem a Terra, mas nem todo mundo quer enxergar isso. Em certos círculos, sobretudo do ultra-conservadorismo radical, ecoa um discurso conspiratório de que tudo não passa de exagero científico. Dá vontade de gritar: “Olha para o derretimento das geleiras! Olha para as plantações que já não existem mais no sertão!” Ignorar esse grito da natureza só vai nos levar a poços de destruição ambiental que, cedo ou tarde, vão atingir o mais pobre dos seres humanos – e, a verdade é que, se você se importa com o futuro de seus filhos ou netos, não dá para ficar omisso.

E o colonialismo? Ah, o colonialismo. Quantas vezes vimos, em sala de aula ou em debates, alguém falar dele como se fosse uma fase romântica de “cortejo civilizatório”? É revoltante pensar nas trajetórias de povos indígenas e africanos arrancados à força de suas terras, na violência incalculável, na perda de histórias inteiras que jamais voltarão. Há quem defenda que o colonialismo trouxe progresso – mas a que preço? Quantos genocídios e traumas culturais se enterraram para que uns poucos se enriquecessem? A gente precisa chorar essa dor e reconhecer que, por trás das ruas largas e dos palácios erguidos, existiram chagas profundas que ecoam até hoje.

E a discriminação que insiste em nos cortar como faca quente, mesmo neste século XXI? Tem gente que ainda diz que racismo ou machismo são invenções, que basta “ralação” ou “mérito” para resolver tudo. Mas basta olhar para as escolas abandonadas nas periferias, para as mulheres sendo assediadas no transporte público, para tantos cortes de oportunidades baseados em cor de pele ou gênero: a injustiça está aí, escancarada. Números e pesquisas não mentem – e não se trata apenas de estatística, mas de histórias de vida, de sonhos solapados por preconceitos que nós, como sociedade, teimamos em fingir que não existem.

Nesse turbilhão, a mídia e as redes sociais aparecem como espelhos quebrados: refletem uma imagem distorcida do mundo. Um estudo do Massachusetts Institute of Technology, lá em 2018, já mostrava que notícias falsas voam 70% mais rápido do que informações checadas no Twitter. Pensa: boatos atingem uma multidão muito maior — e, para cada pessoa que apaga ou contesta a mentira, há cinco que saem compartilhando tudo sem parar para pensar. Aqui no Brasil, em 2020, a Fundação Getulio Vargas descobriu que 20% dos brasileiros caíram em fake news sem base científica. É como estar num palco onde os “idiotas da aldeia” – para usar a frase certeira do Umberto Eco – agora têm microfones e megafones. Queremos justiça, mas acabamos sentindo medo de nos expor, de questionar, porque as redes amplificam o ódio e a ignorância.

É claro que duvidar e questionar são atitudes saudáveis – precisamos disso para evoluir. Mas há uma linha tênue entre questionamento honesto e ataque doentio à verdade. Precisamos defender o debate fundamentado, regado a estudos, a documentos, a relatos confiáveis. É urgente incentivar o pensamento crítico na sala de aula, no café da manhã em família e nos grupos de WhatsApp. Cada vez que aceitamos mentiras disfarçadas de “ponto de vista alternativo”, damos um passo atrás na construção de uma sociedade justa e solidária.

Por isso, mais do que nunca, é essencial encarar essa guerra de narrativas com coragem. Valorizar quem dedica horas investigando, fact-checkers que se debruçam sobre cada artigo, professores que ensinam a garotada a distinguir notícia de boato. E, acima de tudo, lembrar que só com empatia conseguimos transformar o choque entre o factual e o emocional em diálogo sincero. Só assim construiremos uma realidade que não se abale aos primeiros ventos da desinformação.

No fim, a mensagem é simples, mas poderosa: não aceitamos reduzir a história a mentiras, nem trocar ciência por achismos, nem fingir que injustiças estruturais são meras “coincidências”. É nossa responsabilidade preservar cada pedaço da verdade, para que as próximas gerações possam viver num mundo onde a razão e o respeito falem mais alto do que o barulho assordante da ignorância.

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