O legado de Jair Bolsonaro, Zambelli e seus reflexos

Um episódio relevante, ocorrido pouco antes do segundo turno, aliado a uma postura inflexível após a derrota, pode ter desempenhado papel determinante no resultado das eleições de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. A confusão envolvendo a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que exibiu uma arma em São Paulo, gerou repercussão imediata. Foi catastrófica. Durante uma conversa no podcast Inteligência Ltda., Bolsonaro reconheceu que o incidente impactou negativamente sua campanha, possivelmente, reforçando uma visão desfavorável sobre sua política de segurança pública. Em São Paulo, onde as sondagens indicavam uma vantagem de Bolsonaro sobre Lula (PT) dias antes da votação, a situação virou. Lula obteve 48,4% dos votos, enquanto Bolsonaro ficou com 46,2%. Não seria essa imagem de Zambelli, com a arma em mãos, capaz de afastar eleitores indecisos, associados à ideia de uma campanha marcada por confrontos diretos?

Esse episódio explodiu na mídia e tomou proporções gigantescas e levou a um processo contra a deputada no STF, que segue em andamento. No entanto, reduzir o desfecho eleitoral a esse único fato não seria simplificar demais a complexidade do cenário? Outro aspecto fundamental foi o descumprimento de promessas feitas durante a campanha: a redução de ministérios, a reforma tributária, isenção de impostos para quem ganha até R$ 5.000, o combate à corrupção, a extinção da reeleição e a diminuição da representação parlamentar. Com apenas 15% de suas promessas cumpridas, a discrepância é real entre o discurso e a ação se tornou evidente.

Além disso, Bolsonaro se dedicou a contestar a integridade das urnas eletrônicas, sem apresentar provas concretas, o que gerou intensas discussões e desconfianças. Uma pesquisa do Datafolha em 2023 revelou que 79% dos brasileiros confiavam no sistema de votação, contrastando com as dúvidas sem base que o presidente alimentou. Essa postura não teria intensificado as divisões e fragilizado ainda mais a confiança nas instituições democráticas?

Sua trajetória no governo foi marcada por obstáculos consideráveis. Durante a pandemia, os atrasos na compra de vacinas e a defesa de tratamentos sem respaldo científico, como o uso de cloroquina, alimentaram controvérsias. A exemplo disso, as questões relacionadas às joias recebidas da Arábia Saudita e as investigações sobre condutas de aliados políticos, ainda sem desfechos claros, também, atraíram muita atenção. Como esses episódios não pesaram na imagem do governo e não exigem um exame mais profundo?

Após a derrota eleitoral, Bolsonaro continuou criticando o STF e o TSE, sem apresentar documentos que validassem suas acusações. Sua hesitação em repudiar, claramente, os atos de 8 de janeiro de 2023 levantou questões sobre seu compromisso com os valores democráticos e as instituições. O episódio com Zambelli, por sua vez, expôs os riscos de uma campanha dominada por atritos. A relutância em aceitar o veredito das urnas não teria acentuado as preocupações sobre o papel das lideranças na preservação da estabilidade institucional?

Contudo, apesar das turbulências, o período sob seu comando, também, revelou a resistências das instituições democráticas do país, que souberam resistir às adversidades. Assim, seu legado político permanece em análise: um governo marcado por crises e polarização, e pela capacidade das instituições de se superarem. Ademais, entre os anos 1990 e os dias atuais, o presidente e seus familiares participaram de transações imobiliárias envolvendo 107 propriedades. Notícias do UOL indicam que, dessas transações, pelo menos 51 envolveram pagamentos em dinheiro vivo, algo atípico e que levanta questionamentos sobre a transparência de tais operações. Será que o uso desse tipo de pagamento não exige um maior exame por parte das autoridades?

Outro ponto que gerou controvérsia durante sua gestão foi a nomeação de integrantes do Centrão para cargos estratégicos no governo federal. Essa decisão, que visava garantir sustentação política e governabilidade, contraria as críticas anteriores de Bolsonaro à atuação do Centrão. Não seria essa mudança de postura um reflexo de um pragmatismo político que, no final, frustrou parte de seus eleitores, que viam nisso uma quebra de compromissos assumidos?

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Filosofiaehistoriafacil
Enviado por Filosofiaehistoriafacil em 25/03/2025
Reeditado em 25/03/2025
Código do texto: T8293798
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