Professores param o giz, o silêncio grita

A greve dos professores da rede estadual de São Paulo, marcada para 25 de abril de 2025, reflete desafios estruturais enfrentados pelos educadores. A reivindicação por um aumento de 6,27% no salário-base, conforme o Piso Nacional do Magistério, é apenas uma das questões em debate. De acordo com a Apeoesp, o governo estadual tem utilizado bônus para compensar parte desse reajuste, mas esses valores não são incorporados ao salário permanente, afetando aposentadorias e outros direitos.

Outro ponto em discussão é o reajuste de 10,15%, determinado pelo STF em 2017, que ainda não foi integralmente cumprido. Essa pendência impacta diretamente a valorização da categoria, que já lida com salas superlotadas e metas pedagógicas exigentes. Pesquisas da USP (2023) indicam que o salário atual de R$ 5.300,00 para 40 horas semanais não corresponde às demandas reais do trabalho docente.

A falta de professores efetivos também é um problema crônico. Embora o governo tenha aberto concurso para 15 mil vagas, apenas 12.800 foram preenchidas até o momento. Essa carência leva à contratação de temporários, o que, segundo estudos da ANPAE (2020) e da UNESCO (2022), compromete a estabilidade e a qualidade do ensino.

As condições físicas das escolas são outro obstáculo. Apenas 2,7% das salas de aula possuem climatização adequada, colocando São Paulo entre os piores índices do país. O governo anunciou investimentos de R$ 350 milhões para melhorias, mas especialistas questionam se esse valor será suficiente diante da dimensão do problema.

Casos como o da professora Analu Cristina, que faleceu durante uma reunião pedagógica em 2023, levantaram debates urgentes sobre saúde e condições de trabalho. Embora as circunstâncias específicas de seu óbito dependam de apuração técnica, o episódio reforçou a necessidade de discutir a sobrecarga enfrentada pelos docentes, tema frequentemente destacado por entidades sindicais e pesquisadores.

A greve, portanto, não se resume a uma demanda salarial, mas busca chamar atenção para questões estruturais que afetam toda a educação pública. Se não houver avanços concretos, os impactos negativos no ensino podem se aprofundar, prejudicando as futuras gerações. A solução exige diálogo e políticas públicas eficazes, não apenas promessas.

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REFERÊNCIAS:

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VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível . Campinas: Papirus, 2020.

Filosofiaehistoriafacil
Enviado por Filosofiaehistoriafacil em 24/03/2025
Reeditado em 25/03/2025
Código do texto: T8292862
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