IMPRESSÕES DE UM MARXISTA SOBRE A GUERRA DA RÚSSIA À UCRÂNIA
Publico abaixo um texto que escrevi sobre a Guerra da Ucrânia, polemizando com um amigo, que mandou-me uma mensagem que traz implicita, uma posição pró-Rússia no conflito.
Prezado Amigo G.
Você levanta alguns pontos que acho importante conversar sobre ele.
1. Compreendo sua preocupação com a "sacralização" dos trabalhadores ucranianos. A consciência de um trabalhador, não vem definida e acabada pelo simples pertencimento à classe trabalhadora. Isso vale para o Brasil, para Ucrânia e para qualquer país do mundo. Na verdade, a consciência de classe é um processo dialético que se desenvolve através da luta e da experiência histórica concreta. O papel dos revolucionários, organizados em, como vanguarda do proletariado, é fundamental nesse processo de formação e elevação da consciência de classe.
Conforme Lenin argumentou em "Que Fazer?", a consciência socialista não surge espontaneamente das lutas econômicas imediatas, mas é introduzida "de fora", pelos revolucionários organizados em partido. Por isso é que nossos militantes buscam atuar como "tribunos do povo", denunciando todas as formas de opressão e exploração, e vinculando as lutas imediatas à necessidade da revolução socialista.
É preciso combater tanto o oportunismo de direita, que se adapta à consciência atrasada das massas, quanto o sectarismo ultra esquerdista, que se isola das lutas reais dos trabalhadores. O partido deve saber combinar a firmeza nos princípios com a flexibilidade tática, intervindo nas lutas concretas para elevar o nível de consciência e organização do proletariado.
Nesse sentido, é tarefa primordial disputar a consciência dos trabalhadores, tanto na Ucrânia quanto em qualquer outro lugar, contra as influências reformistas, nacionalistas e de extrema-direita que buscam desviar os trabalhadores de seus interesses históricos de classe. Essa disputa ideológica e política é parte essencial da luta de classes e da atuação de um partido revolucionário.
Assim, longe de "sacralizar" os trabalhadores, buscamos compreendê-los dialeticamente, reconhecendo suas contradições e potencialidades revolucionárias. O papel dos marxistas é justamente ajudar a classe trabalhadora a superar suas limitações iniciais e desenvolver uma consciência socialista e internacionalista, capaz de liderar a luta pela emancipação de toda a humanidade.
2. Quanto a sua alegação de que a população, especialmente fora de Donbas, é "majoritariamente aderente à corrente nazista", penso que se trata de afirmações que precisam de cautela. A presença de grupos de extrema-direita na Ucrânia é inegável, e a veneração de figuras como Stepan Bandera é um fato. No entanto, generalizar essa influência para toda a população ucraniana é problemático. A Ucrânia é um país diverso, com diferentes visões políticas e históricas. Não perca de vista que, embora a Rússia use a presença de neofascistas na Ucrânia como justificativa, a própria Rússia tem conexões com grupos de extrema-direita, tanto dentro do país quanto no exterior. A Rússia tem sido acusada de apoiar grupos neofascistas e de extrema-direita na Europa, com o objetivo de desestabilizar a União Europeia e promover sua agenda geopolítica.
A utilização de grupos paramilitares com ideologias de extrema direita, tanto do lado Russo quanto do lado Ucraniano, é uma realidade no conflito, como também o é a veneração de figuras como Bandeira pelos ucranianos, e a relação da Rússia com grupos neofascistas. No entanto, me parecer equivocado, dizer que, pelo lado que for, a guerra está sendo travada contra neofascistas, quando em verdade, ela é a face armada da disputa interimperialista, entre EUA e China.
3. Sua alegação de "política de extermínio da população russa no Donbas" também merece ressalvas. Embora o conflito em Donbas tenha causado sofrimento significativo, a acusação de genocídio é contestada, inclusive, por observadores internacionais.
4. Quanto à responsabilidade pela quebra dos Acordos de Minsk, a situação é complexa. Tanto a Ucrânia quanto a Rússia foram acusadas de violações. A influência de atores externos, como os EUA e a Inglaterra, também é um fator a ser considerado. Minsk foi mantido apenas enquanto interessava aos interesses das potencias imperialistas.
5. Sua afirmação de que a Ucrânia "acabou como país por escolha deles próprios" revela uma compreensão pouco profunda da complexidade da luta de classes e das dinâmicas imperialistas em jogo. Reflete uma visão campista, presente em grande parte da esquerda, que divide o mundo em "mocinhos" e "vilões", pois ela obscurece a verdadeira natureza do conflito. Sou marxista e como tal, busco uma análise materialista e dialética de toda a situação, baseada na compreensão das contradições de classe e das disputas interimperialistas que moldam o cenário global.
O conflito na Ucrânia não é resultado de simples "escolhas" nacionais, mas sim o produto de intensas contradições geopolíticas e econômicas entre as potências imperialistas, principalmente EUA e China, não podendo deixar de lado as aspirações imperiais de Putin. A classe trabalhadora ucraniana, assim como a russa e a de outros países envolvidos, não tem interesse nessa guerra fratricida que serve apenas aos interesses do capital monopolista internacional, entretanto, essa compreensão, faz parte da disputa da consciência que falei na abertura deste texto.
Nossa tarefa, como revolucionários, é desmascarar o caráter imperialista desse conflito, denunciar tanto o imperialismo russo quanto o ocidental, e lutar pela unidade internacional da classe trabalhadora contra todas as formas de opressão nacional e exploração capitalista. Devemos defender uma posição independente de classe, que rejeite o nacionalismo burguês de ambos os lados e promova a solidariedade proletária internacional como única saída para os trabalhadores. É o que tentamos fazer, inclusive, promovendo brigadas com ajuda humanitária para classe trabalhadora do país agredido, no caso a Ucrânia.
Portanto, em vez de cair na armadilha de culpar este ou aquele país, devemos focar nossa análise e ação na luta contra o sistema capitalista-imperialista como um todo, que é a verdadeira raiz desses conflitos.
6. Desculpe se fui duro, mas o debate aberto e honesto é essencial na relação entre lutadores como você e eu.
Adriano
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Abaixo a msg do meu amigo, que respondi acima:
Adriano,
E u já tinha assistido este vídeo.
Só não concordo com a "sacralização" dos trabalhadores ucranianos.
Principalmente nas regiões fora do Donbas, a população é majoritariamente aderente à corrente nazista.
Os "trabalhadores" apoiaram o Euro Maidan, deram 90% de aprovação a Zelenski, Stephan Bandera é tido como ídolo.
Isso não é defender a Rússia, mas é uma constatação dos fatos.
A política de extermínio da população russa no Donbas foi o mote ucraniano desde o golpe e aquela gente sofreu sozinha por muito tempo.
Quem quebrou o Acordo de Minsk foi a Ucrânia pir imposição dos EUA e da Inglaterra que enviou o próprio Boris Johnson para ditar o rumo da guerra por procuração.
A Ucrânia acabou como país por escolha deles próprios.