Vivas à Liberdade! Abaixo a Liberdade!
Vivemos numa época - a nossa, que tem os seus bens e os seus males, e neste quesito não difere de nenhuma outra época -, em que recursos tecnológicos oferecem às pessoas meios para usufruírem de liberdade jamais imaginada pelos nossos antepassados; muita gente, gente que se arvora em lídima e nobre propugnadora da Liberdade, assim, mesmo, com a inicial em maiúscula, todavia, tem horror à Liberdade, e tal horror não vem desacompanhado de mentalidade autoritária - o que se percebe na conduta de tal gente, por mais que ela queira de todos ocultar. Penso eu que tal gente sente-se bem, confortável, segura, num mundo em que as fontes de conhecimento limitam-se a reproduzir, dela, a visão-de-mundo; e não é por outra razão que tal gente pede, exige, mesmo, que governos imponham limites à liberdade de expressão e a certos meios tecnológicos restrições à liberdade - meios tecnológicos que estão além do raio de ação de governos e outras instituições que sustentam um aparato opressor.
Não se está, aqui, saliente-se, a se tratar de gente que ocupa posições de poder na estrutura de governos e instituições outras; está-se a se falar de gente comum, gente, digo, do baixo clero, cidadãos comuns. E quantos dentre estes, inseguros num mundo em que as pessoas têm liberdade invejável, com a qual muitos de nossos ancestrais sonharam e pela qual não poucos deles lutaram e em nome dela morreram, pedem por limites à liberdade, por restrições ao livre pensar, ao livre dizer, por controle dos meios de comunicações, tendo em vista extinguir vozes que expressam idéias que eles não apreciam ouvir, não querem ouvir, idéias que os incomodam porque não sublinham e põem em negrito o que está em consonância com as crenças deles? Tais cidadãos têm horror à liberdade, e tal horror está de mãos dadas com a mentalidade autoritária que lhes anima o espírito. E porque não têm poder para se imporem, para os outros fazerem calar, recorrem ao, e se socorrem no, governo, instituição, esta, na qual projetam os seus desejos de fazer valer as suas vontades egoistas, as suas vaidades, as suas veleidades, as suas idiossincrasias, o seu, enfim, desejo de, calando quem pensa diferente, viverem num mundo em que, porque todos compartilham das mesmas idéias, nada lhes atormenta o espírito, num mundo que, entendem, é um paraíso.
É o que se vê, e vê quem quer ver, por exemplo, quando o assunto é a educação. Tal gente (os cidadãos que se autoproclamaram legítimos defensores da Liberdade) não admite que tenham as pessoas licença para se educarem em casa, se assim o desejarem. Quer tal gente que todas as pessoas fiquem sob regras estabelecidas por governos, que, tal gente quer dar a entender, sabe o que é bom para todos, qual é o melhor método de ensino, o que todos têm de aprender e o que não têm de aprender. Imagine-se: se cabe aos governos determinar, e com autoridade para punir quem não se submete às suas determinações, qual é o método pedagógico apropriado e qual é o conteúdo das disciplinas a se ensinar, o que pode se aventar contra eles se eles se arrogarem a determinar quais livros as pessoas podem ler e quais elas não podem ler? Penso mal, e muito mal, se pensar que muita gente sonha com um governo que pune, e pune severamente, quem lê livros que não está na lista - lista que tal gente elaborou - de livros permitidos? Ora, se muitas das idéias que tal gente não quer nem ouvir falar estão guardadas em certos livros, então que tais livros sejam queimados em praça pública - não penso bobagem se isto eu pensar, pois é conclusão óbvia a que se chega (além disso, por que permitir que vivam as pessoas que pensam idéias as quais tal gente diz ser reprovável, inadmissível? Talvez tal gente nem queira que tais pessoas venham à luz!).
Além de métodos de educação - que são muitos -, e de livros, há que se falar, também, de recursos outros que servem de meios de transmissão de conhecimento: emissoras de televisão, emissoras de rádio, sites (sitios, dizem os nossos amigos lusitanos), redes sociais, aplicativos de mensagens, e a boa e velha conversa olho-no-olho.
E aqui chegamos às redes sociais, hoje tão malfaladas! tão caluniadas! tão difamadas! coitadas! que parece, até, que foi com o advento delas que o mundo degringolou, e de vez, irremediavelmente. Seria esta a razão para os autoproclamados heróis da Liberdade quererem exterminá-las?
E está a liberdade, hoje, tão à mão das pessoas que elas a podem pegar bastando, para tanto, estender os braços; mas não é tão fácil pegá-la, pois, para tanto, tem quem a quer nas mãos se bater contra si mesmo, livrar-se das correntes mentais que lhe inibem os movimentos, e contra muito espírito-de-porco que não a quer nas mãos de ninguém. É uma luta que vale a pena. E que não se ignore que muitos inimigos da Liberdade são aqueles nossos conhecidos, gente do nosso convívio, pessoas que tecem loas à Liberdade...
Quem tem conhecimento para transmitir transmite-o para quem está interessado em adquiri-lo. É assim desde que o mundo é mundo. E transmite-o, livremente, usando dos meios à disposição. Mas há gente que não aprecia tal idéia...