Trump e a falácia do daltonismo e engenharia social de raça e gênero /ᐠ。‿。ᐟ\
A declaração de Donald Trump sobre acabar com a "engenharia social de raça e gênero" e promover uma sociedade "daltônica" baseada no mérito é, em sua essência, uma falácia que ignora as desigualdades históricas e estruturais. Embora a ideia de meritocracia pareça justa à primeira vista, ela parte de uma premissa equivocada: a de que todos começam em condições iguais. Na realidade, grupos marginalizados, como negros, latinos e mulheres, enfrentam barreiras sistêmicas que tornam essa igualdade de partida uma ilusão. Políticas de reparação, como ações afirmativas, não são engenharia social, mas sim tentativas necessárias para corrigir séculos de opressão e exclusão.
Trump utiliza o termo engenharia social de raça e gênero para deslegitimar políticas públicas que buscam enfrentar desigualdades históricas. No entanto, essa retórica conservadora falha ao não reconhecer que a escravidão, as leis de segregação racial e o racismo estrutural criaram ciclos de pobreza e exclusão que persistem até hoje. A ética da reparação, defendida por filósofos sustenta que uma sociedade justa deve priorizar os mais desfavorecidos, especialmente quando as desigualdades são fruto de sistemas opressivos. Ignorar essa necessidade é perpetuar as injustiças do passado.
A proposta de uma sociedade daltônica, onde raça e gênero seriam irrelevantes, é outra falácia perigosa. Ignorar as diferenças não resolve as disparidades; pelo contrário, mascara as desigualdades e impede que sejam enfrentadas de forma efetiva. Nos Estados Unidos, por exemplo, a população negra ainda enfrenta taxas mais altas de desemprego, menor acesso à educação de qualidade e salários inferiores em comparação com brancos. Dados do Pew Research Center mostram que, em 2020, a renda média de famílias brancas era quase o dobro da renda de famílias negras. Essas desigualdades não são resultado de falta de mérito, mas de um sistema que historicamente privilegiou alguns grupos em detrimento de outros.
Além disso, a noção de meritocracia defendida por Trump pressupõe que o sucesso é exclusivamente fruto do esforço individual, desconsiderando fatores como acesso a redes de apoio, oportunidades educacionais e privilégios herdados. Essa visão simplista ignora que o mérito é, em grande parte, moldado pelo contexto social e econômico em que uma pessoa está inserida. Por exemplo, um jovem negro criado em um bairro periférico, com escolas subfinanciadas e poucas oportunidades de emprego, enfrenta desafios muito maiores do que um jovem branco de classe média alta. Ignorar essas diferenças é perpetuar um sistema que beneficia os já privilegiados.
O discurso de Trump, ao promover uma sociedade daltônica e baseada no mérito, não apenas desconsidera as condições históricas e estruturais, mas também reforça um status quo desigual. A verdadeira justiça social exige reconhecimento das diferenças e ações concretas para promover a igualdade. A verdade: políticas de reparação, como ações afirmativas, não são um privilégio, mas uma tentativa de nivelar e corrigir desigualdades e injustiças históricas. Uma sociedade verdadeiramente justa não pode ser daltônica; ela deve enxergar as desigualdades e agir para eliminá-las.
Martin Luther King Jr.: "A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar."