Algo não cheira bem no reino da Dinamarca.

Deu o que falar uma portaria (ou porcaria?) do governo federal: a que dita regras de monitoramento do Pix e dos cartões de crédito.

Estabeleceu-se o limite máximo de R$ 5.000,00 mensais para quem movimenta dinheiro digital livrar-se do monitoramento federal. E fedeu o negócio.

Há poucos dias, um vídeo de um deputado federal, o Nikolas mais famoso do Brasil, de todos os brasileiros já conhecido, espalhou-se como um rastilho de pólvora pelos quatro cantos do Brasil, provocando um explosão inédita por estas terras, as nossas, ferindo profundamente o governo brasileiro, que, vendo-se na iminência de ter de enfrentar uma revolta popular, revogou a tão malfalada e malfadada portaria (ou porcaria?). Dizendo em linguagem popular, e chula: o governo deu pra trás.

Acusaram os defensores do governo o Nikolas mais famoso do Brasil de espalhar notícias falsas, as tais, em português castiço, feiquenius. Quais notícias falsas? As que disseram que ele espalhou não são falsas, pelo que se diz por aí e por aqui.

E viu-se a seguir: os defensores do governo, no alto de sua, deles, majestade, declararam que antes da publicação da portaria (ou porcaria?) em questão monitorava o governo contas que movimentavam, em um mês, no mínimo, R$ 2.000,00, e que com a nova portaria (ou porcaria?l) monitoraria contas que todo mês movimentam mais de R$ 5.000,00; consequentemente, é a dedução óbvia que se tira do caso, quem se levantou contra a tal portaria (ou porcaria?) deu um tiro no próprio pé. E não se pode deixar de dizer: os defensores do governo declaram que são duas as intenções do governo com a portaria (ou porcaria?) que fez um inferno na Terra: inibir a evasão fiscal - em palavras mais amigáveis, dar fim à sonegação de impostos -; e combater o tráfico de drogas.

Afinal, senhor cronista, o que está a feder no Reino da Dinamarca?

E à pergunta responde o cronista: Se tinha o governo uma portaria (ou porcaria? - ou resolução, ou medida provisória, ou sabe-se lá o que) que não se sabe há quantos anos monitora contas que mexem, em um mês, mais de R$ 2.000,0, por que ele não disse isso antes? Se são duas as suas intenções (pegar em flagrante sonegadores de impostos; e encontrar traficantes), por que o governo elevou o limite mínimo (de R$ 2.000,00 para R$ 5.000,00) de movimentação financeira mensal das contas que ficarão sob a lupa das autoridades competentes? (Competentes?!) Não seria o correto reduzir o limite? Não há sonegadores de impostos e traficantes que movimentam menos de R$ 5.000,00? E ao aumentar o limite, não estaria o governo federal facilitando a vida de sonegadores de impostos e de traficantes? E por que os defensores do governo federal, para sustentarem a defesa que dele fazem, neste episódio, recorrem a publicações de imprensa (jornais, revistas, sites, etecétera, e tal) alinhada ao governo, em vez de irem às tais resoluções, portarias (ou porcarias?), as sabe-se lá o que, publicá-las na íntegra, e debatê-las publicamente, em vez de ameaçarem quem critica a tal portaria (ou porcaria?)?

Neste embate (embate, diga-se de passagem, legítimo num país que se tem democrático) entre as forças do governo e as que se lhe opõem, quem está a manipular a opinião pública?

Pensa o cronista, que não leu nenhuma portaria (ou porcaria?) - instrução normativa, medida provisória, ou o que o valha - que o diabo mora nos detalhes, detalhes que os que chamam a atenção para os valores R$ 2.000,00 e R$ 5.000,00 não dão a público. O que dizem os detalhes das portarias (ou porcarias?) ora evocadas, e invocadas, pelos que defendem o governo e pelos que o criticam?

Para resumir a ópera: independentemente de quem está com a razão, duas coisas ficam à vista de todos: o brasileiro está a olhar, com uma pulga atrás da orelha, para o governo - o que é bom, sejamos sinceros; e há uma parcela da sociedade, pequena, parece-me, que tem um, e só um, objetivo em vista: silenciar as vozes que vão de encontro à do governo federal.

Não sei quem foi que disse que o preço a se pagar pela liberdade é a eterna vigilância. E seja quem for tenha dito o que está na frase anterior, mesmo que o tenha feito com outras palavras, disse-o bem.

Que lição se tira deste episódio? Não vivemos no melhor dos mundos, e no pior tampouco. Podemos respirar, ainda...

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 20/01/2025
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