Medo, fé e a extrema-direita
A extrema-direita contemporânea utiliza estratégias que ecoam práticas históricas de manipulação política e consolidação de poder. Essas táticas, que são antiquíssimas, exploram medos e frustrações populares, desviando o foco das causas reais das desigualdades sociais. Desde os regimes autoritários do século XX, como o fascismo e o nazismo, a criação de inimigos imaginários tem sido um recurso eficaz para unir as massas em torno de narrativas polarizadoras e vazias de conteúdo. Hoje, essas práticas são atualizadas e potencializadas exponencialmente pelo uso das redes sociais, que amplificam a disseminação de desinformação e simplificam questões complexas por meio de slogans e discursos rasos.
A crise social e econômica, que sempre serviu como terreno fértil para discursos simplistas e ditaduras, é um componente central na ascensão da extrema-direita. Durante períodos de instabilidade econômica, regimes autoritários historicamente criaram bodes expiatórios para justificar suas políticas e consolidar o apoio popular. Na atualidade, observa-se a mesma lógica aplicada a temas como imigração, direitos das minorias e questões culturais. O uso de ferramentas digitais modernizou e alavancou essas práticas, permitindo um alcance mais amplo e uma adesão mais rápida a narrativas manipuladoras que oferecem explicações reducionistas para problemas complexos.
Outro elemento indispensável é o uso estratégico da religião e dos valores morais tradicionais: Deus, Pátria e Família. Desde a Idade Média, a aliança entre poder político e fé foi utilizada para garantir lealdade e justificar ações governamentais. A extrema-direita contemporânea revitaliza essa prática ao se apresentar como defensora e guardiã dos valores tradicionais, utilizando a moralidade como bandeira. No entanto, tais discursos frequentemente escondem a perpetuação de estruturas de exclusão, reforçando desigualdades e marginalizando grupos que não se encaixam no ideal promovido.
O baixo nível educacional de parte da população é outra ferramenta utilizada para facilitar a manipulação. A desinformação se espalha com mais eficácia em contextos onde o acesso ao conhecimento crítico é limitado. Historicamente, elites políticas restringiram a educação como forma de manter seu domínio, e a extrema-direita perpetua essa estratégia ao priorizar narrativas que escondem as causas reais dos problemas sociais. Isso cria um eleitorado mais propenso a aderir, sem questionar, a promessas vazias e soluções miraculosas.
Além disso, outra estratagema usada pela a extrema-direita é a ideia falsa da meritocracia como uma ferramenta poderosa para manter desigualdades, desviar a atenção das causas reais dos problemas e justificar políticas excludentes. Essa narrativa serve para culpar os indivíduos por sua pobreza, enquanto protege os interesses das elites e perpetua estruturas imutáveis de poder injustas.
Por fim, a promessa de mudanças que não se concretizam é um elemento central dessa dinâmica histórica. Desde regimes absolutistas até o populismo, promessas grandiosas e irreais direcionam as aspirações populares, enquanto perpetuam as estruturas de poder que dizem ser contrárias. A análise histórica revela que as práticas da extrema-direita não são novas, mas sim a repetição de estratégias recicladas que foram usadas no passado e que se mostraram muito eficazes em momentos críticos. Portanto, reconhecer esses padrões é essencial para resistir à manipulação e buscar soluções que, de fato, enfrentem as causas estruturais das desigualdades sociais.