No jogo do poder, quem dá as cartas?
O Brasil apresenta-se como uma república onde o poder é formalmente dividido entre o presidente da República, o Congresso Nacional e o Judiciário. Contudo, essa configuração não reflete plenamente a realidade concreta. Entre nós, o discurso da democracia representativa está profundamente enraizado em uma desigualdade histórica. Em outras palavras, o Estado brasileiro foi tomado por interesses privados que moldam seu funcionamento para atender a agendas poderosas, frequentemente em detrimento do bem comum.
O presidente da República, que ocupa o mais alto cargo do Executivo, opera em um cenário cercado por pressões constantes. Grupos econômicos e elites tradicionais preservam seu domínio por meio de alianças oportunistas com o Congresso Nacional, deslegitimando a autonomia do Executivo. Assim, o chefe do Executivo, na maior parte do tempo, tem seu papel reduzido a um mero mediador de interesses poderosos, em vez de exercer uma liderança soberana em prol da população.
O Congresso Nacional, por sua vez, reflete as contradições e dinâmicas mais profundas da política brasileira. Embora devesse ser o guardião da vontade popular, quase sempre atua como um palco de negociatas, clientelismo e trocas espúrias de interesses. O resultado é que os interesses corporativos e econômicos se sobrepõem aos da cidadania, transformando o Legislativo em um mercado político que privilegia interesses privados em detrimento do coletivo. O financiamento empresarial de campanhas e o lobby intensivo perpetuam essa dinâmica, consolidando o Congresso como um agente de exclusão social e desigualdade.
O Judiciário, cuja função deveria ser a aplicação imparcial das leis, também não está imune às pressões estruturais de uma sociedade marcada por profundas desigualdades. Suas decisões frequentemente refletem o peso de interesses poderosos, enquanto processos envolvendo figuras influentes se arrastam em uma interminável batalha jurídica que favorece a impunidade. Na realidade, a independência do Judiciário é comprometida por um sistema que beneficia os mais privilegiados.
No centro desse sistema desigual encontra-se o empresariado, cuja influência é enorme e abrangente. Desde a ditadura militar, quando consolidaram sua posição em troca de benefícios concedidos pelo regime, grandes grupos econômicos tornaram-se protagonistas da política brasileira. Utilizando-se de financiamento de campanhas, lobby agressivo e cooptação de representantes públicos, esses grupos asseguram que suas agendas prevaleçam. Dessa forma, atuam como verdadeiros detentores do poder, estruturando a realidade nacional em benefício próprio e perpetuando um sistema que favorece uma minoria.
Em paralelo a isso, a elite tradicional, herdeira de uma mentalidade escravocrata, mantém sua hegemonia com notável eficácia. Detentora de vastos recursos econômicos — terras, bancos e grandes empresas —, essa elite molda as políticas públicas para perpetuar seus privilégios. Não apenas sabota reformas estruturais, como a tributária, que poderia aliviar a carga fiscal sobre as classes média e baixa, mas também enfraquece programas sociais cuja função é reduzir desigualdades históricas.
O resultado dessa dinâmica, que vem desde o Império, é um ciclo repetitivo de desigualdade abissal, alienação e descrédito nas instituições. O Congresso Nacional não cumpre o seu papel de guardião da vontade popular. Ele é apenas um espaço de poder e barganhas políticas, que reforçam estruturas excludentes. Ou seja, de modo geral, os parlamentares brasileiros são estrábicos e estão preocupados apenas com a manutenção de seus mandatos e privilégios. Portanto, do jeito que as coisas funcionam, não há transparência e responsabilidade. E isso impede o pleno funcionamento da democracia que foi sequestrada por interesses particulares.
Nesse contexto, a população, oprimida pela desigualdade e pela ausência de oportunidades, sente-se cada vez mais impotente diante de um sistema disfuncional que atua exclusivamente em benefício da elite econômica e política. Movimentos sociais, sindicatos e organizações civis buscam resistir a essas estruturas opressoras, mas enfrentam desafios enormes devido à força consolidada das elites e ao seu controle sobre as estruturas de poder.
Pois bem, superar esses desafios exige uma transformação estrutural profunda. Combater a corrupção, reformar o sistema de financiamento de campanhas, desmantelar monopólios econômicos e redistribuir o poder político e econômico são medidas que urgem. Portanto, a validação de uma cidadania ativa, aliada à redistribuição justa de recursos, representa a chave para reverter os legados históricos de exclusão e desigualdade no país.
Em conclusão, o futuro do Brasil depende de sua capacidade de revisar as estruturas políticas e sociais que sustentam desigualdades e comprometem o ideal democrático, legado de um processo histórico disfuncional e uma realidade distópica. A mudança dessa condição requer a atuação firme da sociedade civil, que deve mobilizar-se em busca de reformas significativas. Em paralelo a isso, o Estado deve atuar como um agente do bem público e abandonar práticas clientelistas que privilegiam interesses privados. Apenas com essa conjugação de esforços será possível criar um país que reflita os valores de igualdade, justiça e democracia.
FELIZ NATAL!