A desigualdade social começa no nascimento

A meritocracia pode ser definida como o sistema no qual o sucesso depende exclusivamente do esforço e competência do indivíduo. No entanto, essa visão ignora os fatores que ocultam os privilégios que moldam as oportunidades, como desigualdades econômicas, sociais e raciais, e perpetua a falsa ideia de justiça social.

Pesquisas mostram que, em sociedades desiguais, o ponto de partida das pessoas é determinante. Indivíduos privilegiados têm acesso a recursos como educação de qualidade e segurança material, enquanto os menos favorecidos enfrentam duras barreiras que limitam seu desenvolvimento. Pois bem, a suposta igualdade de oportunidades , na lógica meritocrática, não se sustenta na prática.

Casos de superação individual, embora reais, são exceções e não a regra. Essas histórias, frequentemente usadas para justificar o sistema, mascaram a reprodução desigual de privilégios e desviam o foco das desigualdades estruturais que impedem a mobilidade social da maioria.

No Brasil, onde desigualdades históricas são uma realidade, a meritocracia, na prática, reforça e legitima ciclos de exclusão e valida a realidade estrutural estabelecida. Para romper com essa lógica, é fundamental reconhecer que a desigualdade começa no nascimento e que o mérito individual não pode ser avaliado apenas no contexto das condições estruturais. A construção de uma sociedade mais justa exige políticas públicas, justiça social e condições em que se garantam igualdade no acesso a oportunidades desde cedo.