Ditadura militar: verdades e mentiras

Entre 1964 e 1985, o Brasil foi governado por uma ditadura militar, que por meio de um golpe afastou o presidente João Goulart (1961-64) do poder em 31 de março. Jango não tinha apoio do Congresso e dos militares. A economia ia mal e havia muita insatisfação popular. Para os militares, o governo queria impor um governo comunista no país. Portanto, era fundamental acabar com a corrupção e restaurar a democracia no país. Essa foi a justificativa para o golpe. Não se pode esquecer que civis apoiaram a ditadura: empresariado, grandes jornais (O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo...), parte da Igreja Católica, Igrejas Evangélicas e os EUA... Assim, durante 21 anos, o país foi governado por cinco generais – Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo – e foi adotado um modelo de governo autoritário banhado a sangue e terror. Assim, o dia a dia do cidadão passou a ser: convivência com abusos, violações, agressões, ausência do Estado de Direito, torturas e silêncio político. E é claro a perseguição implacável aos sindicatos, artistas, índios e quilombolas. Tudo isso em nome da Segurança Nacional. O período mais sanguinário da ditadura veio com os atos institucionais. O pior deles: o AI-5. Esse ato institucionalizou a violência e tortura. Por meio dele, o presidente podia decretar a suspensão do Congresso e efetuar cassações de mandatos e direitos políticos. Mais, o presidente tinha plenos poderes para fazer o que quisesse aos opositores do regime. Como é sabido, os militares fizeram ampla propaganda publicitária para justificar a violência e a tortura como algo necessário e benéfico para o país. Para calar a opinião pública, eles concederam benefícios a classe média. E da noite para o dia, a Constituição e os direitos dos cidadãos foram rasgados. Jango se exilou no Uruguai.

Em relação ao chamado milagre econômico (1969-73), ele ocorreu na gestão Médici. Foi um período de construção de grandes ''obras faraônicas'': exemplo a Ponte Rio-Niterói. Essas obras permitiram enormes rombos de dinheiro público e o aumento considerável da dívida externa. A realidade: os gastos militares não foram auditados. Houve, sim, inúmeros casos de corrupção e enriquecimento ilícito. Desse modo, o milagre econômico ocorreu ante a situação econômica internacional favorável. No entanto, quando chegou ao seu fim e a inflação aumentou, os militares perderam apoio. A verdade: o milagre promoveu o crescimento econômico, contudo beneficiou apenas a minoria mais rica da população. A verdade veio à tona: Médici reconheceu o aumento da pobreza, apesar do crescimento econômico. O que parece certo é que neste período houve aumento abissal da miséria e pobreza nos quatro cantos do país. Outra coisa, nos governos militares a inflação atingiu 223% ao ano e a dívida externa ultrapassou os US$ 100 bilhões. No governo Jango a inflação era de 85%. Enfim, o saldo da ditadura para o país é extremamente negativo: houve recuo e deterioração na saúde, na educação, na cultura, no transporte público, no aumento da desigualdade social, na institucionalização da tortura, na precarização das relações de trabalho, na instalação da censura aos meios de comunicação, no acréscimo absurdo da inflação e da dívida externa. Mais ainda: violação dos direitos humanos, implantação de uma cultura autoritária no país, superfaturamento de obras, roubo de dinheiro público e aumento da população urbana, aliás, isso acarretou a ampliação da violência nas cidades. Outra mentira contada é que a ditadura foi branda: não foi, aliás, 434 pessoas foram mortas. Houve ainda mais de 6 mil denúncias de tortura: homens e mulheres sofreram violência sexual. A violência das polícias militares é herança da ditadura. Por fim, em 1984, o movimento das 'diretas já' tomou as ruas do país. Os sindicatos, também, tiveram uma participação importante na luta pela democracia. Sem saída, o governo Figueiredo promoveu a reabertura política e a criação de vários partidos políticos. Vale registrar que vários militares eram contrários ao golpe. Muitos tiveram suas carreiras destruídas.