POR QUE KAMALA HARRIS PERDEU A ELEIÇÃO PARA A PRESIDÊNCIA DOS EUA?
Muitos foram os fatores e diversas foram as causas da derrota eleitoral de Kamala.
Poderia ficar discorrendo sobre as causas identitárias, tão na moda no capitalismo 5.0, nessas duas décadas do século XXI, contudo, deixo para os especialistas em análises sobre o machismo, a misoginia e o racismo, os três eixos causais, nesse contexto dos preconceitos, que influíram na decisão dos estadunidenses sobre que presidente escolher para liderar os EUA.
Vou me ater aos fatores, e desses, opinar sobre o principal: a absoluta falta de posicionamento e liderança de Kamala Harris no exercício da vice-presidência dos EUA.
Devemos nos lembrar que quando Joe Biden se elegeu, para o mandato presidencial, derrotando Donald Trump, o mundo se excitou com sua vice-presidenta, uma mulher não branca, com ascendência afro-indiana, culta e ex-procuradora do maior estado democrata dos EUA, a Califórnia.
Houveram muitas expectativas com a Harris, dentro e fora dos EUA, mas fico nas relacionadas as questões sociais, notadamente, os direitos humanos, a questão migratória, previdência e saúde, a questão do aborto, autonomia das mulheres, e obviamente o racismo estrutural que prossegue ativo na autoproclamada maior democracia do mundo.
Diante dessas espectativas, e outras relacionadas a geopolítica e geoeconomia, a vice-presidenta Kamala Harris capitulou ou foi omissa em quase todas, uma verdadeira sombra do Joe Biden, submissa ao Departamento de Estado, o que aqui no Brasil chamamos de "vice decorativo".
Biden, após vencer eleitoralmente, o trumpismo, e diante do histriônico comportamento do derrotado e seus seguidores mais radicais, fez um governo neoliberal, financista-rentista e intervencionista, no que assistimos os EUA se metendo e financiando guerras híbridas e num teatro de operações bélicas na Eurásia e Oriente Médio.
Onde ficou Kamala Harris e qual foi sua postura diante da guerra híbrida e da carnificina genocida, em Gaza/Palestina, na guerra sionista expansionista no Oriente Médio?
Harris não se posicionou a favor da multipolaridade, além de apoiar e se submeter a todas as políticas estadunidenses lideradas por Joe Biden, que penso ser uma verdadeira negação democrática, num partido político que tem democracia no nome e nada de política progressista, que pelo menos defendesse o walfaire state para o povo estadunidense e a pacificação, ao menos subjetiva, nas relações internacionais.
Kamala chega ao final de sua vice-presidência completamente rendida aos interesses do Stablishment e diante da visível senilidade de seu líder-presidente, num partido democrata descaracterizado e sem novos quadros de liderança popular, se lança candidata à presidenta da Nação, que quer preservar a hegemonia global e luta ferozmente contra a decadência, no mundo capitalista dominado pelo norte-ocidental, diante da ascensão da China, da Índia, do BRICS+, da provável multipolaridade e da ascensão do Sul Global, que representa um perigo para o poder dos EUA.
O que Kamala Harris faria de diferente na Casa Branca?
Essa foi a principal pergunta feita aos eleitores estadunidenses, mesmo que subliminarmente, às margens das mídias e da máquina política do Departamento de Estado dos EUA.
Os estadunidenses votaram pela lógica da mudança, e isso não importa de que mudança esperamos ou pensamos, nós outros, no nosso campo progressista, de centro-esquerda ou de esquerda, mas na lógica do 'libertarismo' contemporâneo, que é fascista, identitário, individualista, empreendedorista, enfim, desprendido de ideologia comunitária e profundamente enraizado no pragmatismo da vida diária, neste mundo competitivo, descaracterizado e diante da distopia capitalista, que apaga, cancela e/ou fulmina seus divergentes e opositores.
Num mundo assim, que muitos de nós outros sequer ainda compreendemos, do 'cada um por si e o mercado por todos', figuras como Donald Trump e genéricos fazem muito mais sucesso que dissimulações do tipo Kamala Harris e similares.
Por isso, aqui no Brasil, o Guilherme Boulos perdeu a eleição, sobretudo, ao querer incorporar as teses do fascista P.M.., e nós que nos atentemos, com um Lula III encilhado, perdendo forças, se acomodando, ao neoliberalismo, e abrindo mão de ser um presidente da República altivo e ativo.
Donald Trump volta a presidir os EUA na maluquice que se encontra o Ocidente e virulência do Capital Rentista.
Pode ser um alerta e uma lição, para evitarmos a nossa derrota, em 2026, já com amostragens, neste 2024, nas nossas municipais, diante do fascismo em movimento.
Kamala Harris foi derrotada pelo fastio, que causou as omissões, que Lula retome a liderança do Brasil, para não seguir por esse mesmo destino.
Marco Paulo Valeriano de Brito
Enfermeiro-Sanitarista
Coordenador do Coletivo Brasil Democrático-Popular
Filiado ao Partido dos Trabalhadores