Nacionalismo Cristão Brasileiro II
INTRODUÇÃO
Para entendimento satisfatório sobre o nacionalismo cristão brasileiro, julgou-se necessário o desenvolvimento de cinco artigos anteriores.
“Nacionalismo Cristão” em que se abordou: as duas teologias influenciadoras de sua construção – Teologia da Prosperidade e Teologia do Domínio; seu conceito, significado; origem; e características.
“Nacionalismo Cristão Norte Americano I”: fundamentalismo cristão norte americano – base da formação da direita cristã norte americana; e as principais lideranças nessa formação.
“Nacionalismo Cristão Norte Americano II”: dois destaques históricos, para ilustrar ser um ressurgimento desse movimento; um diagnóstico dos USA pelo movimento nacionalista cristão; e como se deu o engajamento político desse movimento.
“Nacionalismo Cristão Norte Americano III”: a estratégia utilizada para implantação do projeto de poder do nacionalismo cristão norte americano; destaques para ações ilustrativas do êxito do movimento.
“Nacionalismo Cristão Brasileiro I”: as principais divisões do cristianismo; destaques históricos -para ilustrar não se tratar de movimento novo, mas de ressurgimento; origem do nacionalismo cristão brasileiro; e igrejas e lideranças neopentecostais no Brasil.
Devido aos fatos: de se encontrar pouco material relacionado ao nacionalismo cristão no Brasil e bem mais relacionado ao norte americano; de semelhança entre os mesmos em sua origem e processo de implantação, utilizar-se-á, sempre que possível, o recurso de comparações entre o objeto deste artigo “nacionalismo cristão brasileiro” e o norte americano.
Esses artigos, resultantes de a organização de informações pesquisadas em diversos sítios, apesar de não terem qualquer atributo acadêmico, julga-se como satisfatórios ao entendimento.
Assim, organizou-se Nacionalismo Cristão Brasileiro II: Introdução; Conceitos Relevantes; Principais Divisões do Cristianismo; NCB - Nacionalismo Cristão Brasileiro - Características; NCB - Estratégia de Projeto de Poder; NCB - Engajamento Político; Frente Parlamentar Evangélica; Destaques para fatos e Declarações; e Considerações Finais.
CONCEITOS RELEVANTES
Conservadorismo
É um pensamento político que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais – como a família, a comunidade local e a religião -, além dos usos, costumes, tradições e convenções. Portanto, não é um conjunto de ideias políticas definidas, pois os valores conservadores variam enormemente de acordo com os lugares e com o tempo.
Nação
Grupamentos humanos, cujos membros, fixados ou não em um território, têm sentimento de pertencimento, estão unidos, vinculados por convicção de um querer viver coletivo e compartilhando, muitas vezes, conjunto mais ou menos definido de culturas, práticas sociais, idiomas, entre outros.
Estado
É estrutura política e organizacional com poder soberano para governar um povo dentro de um território formada pelos seguintes elementos: poder político soberano; povo, organizado em sociedade; território; e ordenamento jurídico impositivo, leis.
Estado é que trata da gestão da vida em sociedade, por meio das funções: políticas (direitos, deveres e relações); executivas (políticas e serviços públicos); jurisdicionarias (litígios); fiscalizadoras (cumprimento da ordem jurídica e regulação estatal); e de defesa da ordem e integridade territorial. Funções organizadas e distribuídas por instituições permanentes, os chamados três poderes – legislativo, executivo e judiciário.
Estado-nação
Estrutura unificadora de a instituição política (Estado) com a unidade cultural (Nação). Forma de organização política dos governos somados às organizações sociais ao seu redor.
É o modelo mais comum e sua formação. na maioria das vezes. tem origem por iniciativa da sociedade em movimentos de independência e ou separatistas.
O Brasil é exemplo de um Estado-nação multinacional. Várias nações unidas num único Estado: povos originários, etnias diversas: asiáticas, africanas, europeias e uma etnia resultante de grande e continuo processo de miscigenação (etnia brasileira?)
Estado Laico (ou secular)
É aquele caracterizado por:
Separação administrativa da religião do Estado e das instituições governamentais - Os dogmas de fé e as concepções morais religiosas não devem determinar ou guiar nem as decisões de estado e nem o conteúdo dos atos estatais; e, por outro lado, o Estado não pode intervir sobre as decisões e conteúdos religiosos; e
Liberdade e proteção de crença - Permite, respeita, protege e trata de forma igual todas as religiões, fés e compreensões filosóficas da vida, inclusive a não religião e as posições que negam a existência de quaisquer divindades ou seres sobrenaturais, como o ateísmo.
Não são laicos os estados confessionais – Aqueles que adotam uma ou mais religiões, como o caso da Inglaterra que adota oficialmente o Cristianismo Anglicano, a Arábia Saudita, o Islamismo, a Rússia, o Cristianismo Ortodoxo, o Vaticano, o Cristianismo Católico; os estados ateus – Aqueles onde não existe liberdade de crença e até perseguição aos que ousam expressá-las como a Coréia do Norte e, ou aqueles, nos quais não existe separação entre Estado e Igreja, como as teocracias, caso do Irã.
Fé (cristã)
Confiança absoluta no cristianismo – é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou por meio de Jesus de Nazaré e que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade.
Gênesis
Significa origem, nascimento, criação, princípio. Livro Gênesis é o primeiro livro tanto da Bíblia Hebraica como da Bíblia cristã. Descreve a criação da Terra e da vida nela, a queda de Adão e Eva e a introdução do pecado no mundo, a origem da casa de Israel e o estabelecimento dos convênios feitos por um misericordioso Pai Celestial a fim de salvar os seus filhos.
Nacionalismo
É uma ideia e um movimento que: defende a nação congruente com o Estado; e que promove os objetivos interesses nacionais. Ocorre que, como existe várias ideias e pensamentos sobre nação e como existe vários tipos de estados-nação, então tem-se várias formas de nacionalismo: nacionalismo étnico, nacionalismo religioso, nacionalismo cívico, nacionalismo integracionista ...
Pode-se citar como características:
Nação como única fonte legítima de poder político
Autodeterminação, governar a si mesmo sem interferências externas;
Subordinação de todos os problemas de política interna e externa ao desenvolvimento e à dominação hegemônica da nação;
Preferência pelo que é próprio da nação;
Exaltação de um povo/nação e das suas características, valores e símbolos;
Construção e manutenção duma única identidade nacional;
Preservação de tradições e costumes; e
Tendência ao isolamento econômico e cultural.
Nacionalismo Cristão
Nacionalismo cristão é o nacionalismo religioso filiado ao cristianismo. Como nos continentes americanos a forma mais comum ´o cristianismo evangélico é comum conceitua-lo como: forma de nacionalismo religioso que se concentra na promoção e na proteção da religião cristã evangélica em uma determinada nação. Isso pode incluir: a implementação de leis e de políticas baseadas no evangelismo, a promoção de programas educacionais e culturais; a defesa de práticas e costumes evangélicos ...
O nacionalismo cristão identifica a nação com a vontade e ação de Deus no mundo; confunde identidade nacional e cristã; e identifica o serviço da nação a serviço de Deus.
Teologia do Domínio
Refere-se a uma linha de interpretação da Bíblia e pensamento teológico sobre o papel da igreja na sociedade. Afirma que o cristianismo bíblico governará todas as áreas da sociedade, pessoais e corporativas.
Um dos seus aspectos mais distintos é que a interpretação bíblica resultou numa espécie de mandato para a administração cristã em assuntos civis, tanto quanto em outros assuntos humanos
Teologia do domínio expressão utilizada por proeminentes autores evangélicos para denominar um agrupamento de variados movimentos teológicos que apelavam diretamente à passagem específica no Gênese.
Movimentos voltados à criação de uma teocracia onde todos os aspectos da sociedade seriam regidos pela "Lei de Deus" e, ou de acordo com as leis no Antigo Testamento, que governavam os israelitas.
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A Teologia do Domínio, por sua vez, pressupõe que, com o impulso para controlar o mundo, Deus e o diabo se encontram em conflito permanente, nos planos espiritual e terreno. Sendo assim, a tarefa do cristão seria não somente a obediência e pregação dos mandamentos bíblicos, mas também a guerra incansável contra demônios que se manifestam no mundo terreno nas mais atividades humanas.
Teologia Da Prosperidade
É conjunto de doutrinas e ritos, que ensina que qualquer sofrimento do cristão indica falta de fé. Assim, a marca do cristão cheio de fé e bem-sucedido é a plena saúde física, emocional e espiritual, além da prosperidade material. “Evangelho da prosperidade”, para o qual Deus quer que os fiéis estejam fisicamente saudáveis, materialmente ricos e pessoalmente felizes.
A teologia da prosperidade pressupõe que a realidade material pode ser alterada por meio de palavras, ou pensamentos, se realizados com fé.
A fé em Jesus de Nazaré envolve a busca pela riqueza, boas condições de saúde e felicidade, bem como a visão de mundo do fiel deve ser “vida abundante”, prosperidade, riqueza, saúde...
Sistema de Lista Aberta
Sistema proposto e as respectivas normas estabelecidas, para que um candidato seja eleito e que distribui cadeiras de forma “proporcional à votação dos partidos em todo o território” aos cargos eletivos de: vereadores deputado estadual, distrital e federal. Acompanham o Brasil nesse sistema África do Sul e Portugal
O partido oferece uma lista dos candidatos, em número máximo estipulado por lei, que irão concorrer aos cargos “Número de Vagas para Cada Cargo” - de vereador, ou deputado estadual, ou deputado distrital e deputado federal.
O eleitor escolhe votar, ou na legenda, somente na sigla e no número do partido, ou no número e no nome de um dos candidatos indicados pelo partido.
Realizada a apuração, as vagas são preenchidas numa distribuição feita em três estágios:
O primeiro, o partido tem que ter alcançado 100% e o candidato 10 % do “Quociente Eleitoral”, que é igual ao úmero de votos válidos dados a todos os partido (candidatos mais os de legenda) - “Total de Votos Válidos para o Cargo” dividido pelo “Número de Vagas para o Cargo”. Nessa fase já estão excluídos da seleção as legendas que não atingiram os 100% e todos os candidatos que não alcançaram 10% do Quociente Eleitoral.
O número de vagas conseguidas por cada partido é o “Total de Votos Válidos no Partido” dividido pelo Quociente Eleitoral”. Vagas preenchidas se o número de candidatos que alcançaram 10% “do “Quociente Eleitoral” for suficiente. Caso contrário as vagas restantes estarão sujeitas ao segundo estágio de seleção.
Segundo estágio muito semelhante ao primeiro somente que o percentual para entrar na seleção aos partidos ficou menor para 80% e dos candidatos subiu para 20%. As vagas serão preenchidas de acordo com a maior “Média Eleitoral Partidária” calculada dividindo-se “Total de Votos Válidos no Partido” pela soma “ “vagas já obtidas (Pelo QP -100%/10% e pelo segundo estágio 80% 20%) + 1
Se ainda não foram preenchidas todas as vagas estipuladas para o cargo naquele território, então a conclusão da seleção terá o terceiro estágio em que não existe barreiras de quociente eleitoral para partidos, mas mantém a barreira de 10% para os candidatos. E o critério de seleção é o mesmo do segundo estágio por meio da “Média Eleitoral Partidária”.
PRINCIPAIS DIVISÕES DO CRISTIANISMO
Correspondem às principais divisões de suas instituições, suas igrejas.
As primeiras instituições cristãs foram os cinco patriarcados com fundação pelos apóstolos, logo após a crucificação de Jesus de Nazaré. Esses patriarcados se estruturaram em igrejas e, depois de alguns séculos de conflitos entre a Igreja de Roma e as igrejas de influência grega, ocorreu o Grande Cisma, em 1054. Assim, surgiram: a Igreja Católica Ortodoxa – Ortodoxismo; e a Igreja Católica Apostólica Romana - Catolicismo
A outra principal divisão do cristianismo teve início com a Reforma Protestante liderada por Lutero, expressão da discordância com o que consideravam abusos, desvios e discrepâncias do clero e da centralização da autoridade no Papa. Surgiu o Protestantismo com o início da Reforma Protestante, em 1517.
Assim, são três as principais divisões do cristianismo: Ortodoxismo: Catolicismo; e Protestantismo. O desdobramento do protestantismo originou o Evangelismo. E, o movimento evangélico por sua vez, foi dividido historicamente entre pentecostalismo e neopentecostalismo.
A diferença entre os pentecostais e neopentecostais se concentra, sobretudo, no abandono dos traços sectários (envolvimento extremo, intolerante e obstinado) e ascéticos (voltados ao desenvolvimento espiritual, pela austeridade e refreamento dos prazeres mundanos) do pentecostalismo. As duas bases que sustentam o neopentecostalismo são a Teologia da Prosperidade e a Teologia do Domínio.
NCB – NACIONALISMO CRISTÃO BRASILEIRO – CARACTERÍSTICAS
Além a das características relativas ao nacionalismo, destacam-se como as principais características do nacionalismo Cristão Brasileiro:
Interferência da Igreja de Cristo no Estado e no Governo.
Identificação de o serviço da nação a serviço de Deus.
Definição da nação pelo cristianismo
Prevalência da moral cristã sobre a moral cívica, ou social
Governo justo das autoridades civis, para aplicação fiel de todas as Escrituras à vida dos brasileiros.
NCB - ESTRATÉGIA DE PROJETO DE PODER
Projeto de poder evangélico, alicerçado nas teorias: do Domínio, e da Prosperidade, visando capilarizar a doutrinação evangélica e endossar a criação de uma nação cristã.
A estratégia é semelhante à utilizada nos USA, entretanto sem aquela estrutura de organizações privadas, para atuar no Parlamento, no Executivo e no Judiciário. E, em vez de se tornar forte como movimento, para depois se engajar politicamente, como aconteceu nos USA, fazer a incursão na política por meio de: eleições de líderes religiosos indicados pelas denominações evangélicas, em especial as pentecostais; formação de grupo com os eleitos, para trabalhar pela agenda evangélica, ou nacionalista cristã.
Estratégia facilitada pelo grande número de partidos e pela representação proporcional de lista aberta.
Esse grupo articulado de eleitos funcionaria, como a estrutura de organizações privadas criadas pelo nacionalismo cristão norte-americano e, também, semelhante a um partido, corresponderia ao Partido Republicano nos USA.
Ao processo de eleição das lideranças evangélicas, em especial as neopentecostais, corresponderia: conversão da fé religiosa de seus adeptos em adesão eleitoral, com a utilização dos cultos e dos meios próprios de comunicação; e promoção de “candidaturas oficiais”, a partir de um recenseamento interno na própria igreja, para indicar aqueles com maior chance de vitória.
NCB - ENGAJAMENTO POLÍTICO
Transição Indispensável e Facilitadora
As igrejas pentecostais, já instaladas no Brasil, desde a primeira década do século XX, à época, repudiavam e condenavam qualquer envolvimento com a vida secular.
Ao longo do século XX, ocorreu transição, de os “políticos evangélicos” a “políticos de Cristo”, quando acontece o uso da comunidade protestante para fins eleitorais. E a indispensável transição de “envolvimento secular condenável”, a “envolvimento secular desejado (e articulado)”.
Transição justificada pela mudança do perfil dos protestantes, predominantemente de denominações históricas, em seus 150 primeiros anos no Brasil, desde a chegada de anglicanos no início do século XIX, para uma prevalência de pentecostais, a partir do decênio de 1960.
Transição, na década de 90, amplamente refletida, em várias esferas da vida secular, quando “de Cristo” passou a ser adjetivo comum. Surgiram os “atletas de Cristo”, os “homens de negócios do evangelho pleno”, os “militares evangélicos”, “os homens de Deus” e os “políticos de Cristo”.
Nessa época também surgiram pagodes de Cristo, rock de Cristo, entre outros ritmos considerados profanos que, em muitos casos, contavam com personalidades famosas, que usavam sua influência para falar de Deus em programas seculares.
Entre 1933 e 1987, 50 parlamentares se identificavam como protestantes, sendo 94% deles ligados a denominações históricas e 6% representados por pentecostais. Entre 1987 e 1992, foram eleitos 49 candidatos evangélicos, sendo 45% representados por denominações históricas e 55% por pentecostais. Portanto, num período de cinco anos, praticamente, foi eleito o mesmo número de parlamentares evangélicos, que nos 54 anos anteriores. Além disso, nesse crescimento significativo, a participação dos pentecostais cresceu de 6% para 55%.
Ascensão Política
Processo de Seleção dos Candidatos Oficiais
O sucesso eleitoral dos “candidatos oficiais” está relacionado diretamente: ao tamanho da igreja, em termos de estrutura e número de fiéis; a intensidade do apoio dado pela instituição ao candidato; e a centralização de sua estrutura eclesial.
Numa igreja em que há forte centralização decisória, o número de candidatos e sua seleção é decisão da hierarquia, e os não selecionados não podem competir.
Esse processo, além de baratear os custos com campanha, garante os votos dos fiéis nos selecionados.
Bancada Evangélica – Constituinte 1986
No ano de 1986, o membro da Assembleia de Deus, Josué Sylvestre, lança o livro “Irmão Vota em Irmão” (reforçando o crente vota em crente), incentivando os crentes a elegerem seus irmãos na fé, em defesa dos interesses das igrejas e da moralidade cristã, como representatividade cidadã.
Desse livro, extrato significativo: “...IRMÃO VOTA EM IRMÃO; isto é, crente vota em crente, porque, do contrário, não tem condições de afirmar que é mesmo crente, pois se afirmar isso e votar contra o irmão, estará desmentindo o próprio Jesus, que disse: “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se amardes uns aos outros...”
O ingresso definitivo dos evangélicos na política partidária ocorreu com a Constituinte, em 1986, quando se formou, a partir de 32 parlamentares evangélicos, sendo 18 deles pentecostais, a bancada evangélica.
Estratégia Exitosa
O predomínio numérico de parlamentares pentecostais, a partir da Constituinte, decorreu de articulação política por parte das principais denominações pentecostais brasileiras: Assembleia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja Universal do Reino de Deus.
Até as eleições de 2018, os neopentecostais e suas lideranças concentraram-se no “centrão”, hoje representados pelos Partido Progressista - PP, União Brasil (fusão entre DEM e PSL); Partido Social Democrático - PSD, Partido Liberal - PL – anteriormente - PR), além dos próprios Republicanos (anteriormente - PRB) e Podemos (que incorporou o PSC - Partido Social Cristão). Além disso, preferência pelas eleições aos legislativos.
Nesse mesmo período, o apoio foi dado a quem entrasse no poder, tática já utilizada e bem sucedida por alguns partidos. Foi dessa união com o centro-esquerda, que os evangélicos auferiram cargos, concessões de rádio e TV, passaportes diplomáticos ...
A bancada evangélica cresceu dos 32 iniciais, com a Constituinte, para 60 em 2002, 74 em 2014, período em que o movimento, estabelecido majoritariamente nos partidos do “Centrão”, apoiou a governos tidos como de esquerda, ou centro-esquerda.
FRENTE PARLAMENTAR EVANGÉLICA – FPE
Em 2003, houve a criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), que não é uma frente oficial, mas funciona como tal. Instituição com personalidade jurídica, estatuto próprio e regime interno. Como instituição pode convocar assembleias, eleger diretoria, cobrar contribuições, contratar funcionários, manter contabilidade...
A formação da FPE foi vista como necessária à organização e mobilização parlamentar evangélica, a fim de maiores probabilidades de êxito na consecução de seus objetivos. Em certos momentos, apresenta estratégia e atuação conjunta e reflete o poder de mobilização dos pentecostais na sociedade brasileira.
A FPE é hierarquizada em presidência, coordenação e equipe de assessoria, além de realizar reuniões semanais para discussão de pautas. Os membros são divididos por temáticas e são responsáveis por analisar projetos específicos e elaborar pareceres para orientação de voto dos demais parlamentares da FPE. A assessoria dos parlamentares em comissão prepara discursos para serem utilizados nas defesas de seus votos.
Para melhor caracterização da FPE, extratos de seu estatuto:
Art 2° (finalidades)
I - Promover a defesa e articulação política das bandeiras evangélicas junto ao Congresso Nacional;
II - Promover, junto à bancada que a representa, seminários, mesas redondas, audiências públicas, debates, estudos, discussões sobre temas de relevância para o segmento evangélico, junto à sociedade e governo;
...............
VI - Atuar junto ao processo legislativo, a partir das comissões temáticas existentes nas Casas do Congresso Nacional; e atuação no Plenário da Câmara e do Senado do Congresso Nacional, segundo seus objetivos, combinados com os propósitos de Deus, e segundo Sua Palavra.
Art. 6°
....................
I - A Assembleia Geral será integrada pelos membros efetivos com direito a voto, sendo assegurado o direito de voz aos demais membros.
II - A Mesa Diretora integrada por um Presidente, seis Vice-presidentes, 1° Secretário, 2° Secretário, três Vogais, 1° Tesoureiro, 2° Tesoureiro, um Capelão e coordenador de cultos, 1º Secretário Executivo, 2º Secretário Executivo, dois Coordenadores Jurídicos, dois Assessores Jurídicos, dois Coordenadores Legislativos, dois Assessores Legislativos, um Auxiliar de Capelania.
Teve-se muitas dificuldades para conseguir dados sobre a evolução quantitativa da FPE, não só pela disponibilidade de dados, mas, também, pela natureza dos mesmos, visto que alguns expressam somente o número de parlamentares eleitos evangélicos e outros os parlamentares que a constituem - evangélicos e mais outros que a ela se filiam por identidade a sua agenda.
Assim, o grande sucesso da bancada evangélica, depois FPE, pode ser constatado pelo crescimento do número deputado: dos 32 iniciais, com a Constituinte, 1998, aos 60 em 2002, aos 74 em 2014, para 86 deputados em 2019 e 212 em 2023, estes últimos numa significativa percentagem distribuídos nas legendas PL, Republicanos e União Brasil.
DESTAQUES PARA FATOS E DECLARAÇÕES
A seguir enumeram-se série de fatos e declarações muito bem sintonizadas com a agenda nacionalista cristã brasileira.
Em março de 2016, o candidato á presidência em 2014, pastor Everaldo e outras lideranças do PSC - Partido Social Cristão anunciaram Bolsonaro como pré-candidato à presidência, quando foi feito um ato político para marcar sua entrada no partido.
Em dezembro de 2018, já acordada sua indicação ao ministério do presidente eleito Bolsonaro, a pastora Damares Alves, no púlpito da Igreja Batista Lagoinha, na cidade de Belo Horizonte:
“As instituições piraram nesta nação, mas há uma instituição que não pirou. Esta nação só pode contar com essa instituição, que é a igreja de Jesus”;
“o mundo não vai mudar pela política, mas pela Igreja”; e
“é o momento da igreja governar”.
Em 9 de janeiro de 2019, decreto publicado no DOU alterou a estrutura do Ministério de Relações Exteriores e entre outras: extinguiu a Divisão de Mudança do Clima e a Subsecretaria Geral de Meio Ambiente Energia e Ciência e Tecnologia - estruturas administrativas que defendiam os interesses do Brasil relacionados a clima, meio ambiente, energia e sustentabilidade ambiental.
No dia 15 de janeiro de 2019, Bolsonaro assinou o Decreto N.º 9.685, que flexibilizou as regras para a posse de armas de fogo no país.
No final de abril de 2019, a gestão do Ministério da Educação - de Abraham Weintraub, anunciou o bloqueio de 30% na verba das instituições de ensino federais, entre as 60 universidades e os quase 40 institutos em todo o país, com os gastos não obrigatórios – gastos com custeio e investimentos – obras.
No dia 7 de maio de 2019, foi assinado o Decreto Presidencial n.º 9.785/2019, que: visou facilitar o porte de armas à série de profissões, incluindo advogados, políticos e caçadores; permitiu a compra de armas, com grande poder lesivo, e a prática de aulas de tiro, por menores de 18 anos, desde que com a autorização de um dos responsáveis.
No dia 4 de junho de 2019, Bolsonaro entregou à Câmara dos Deputados um PL - projeto de lei que muda o Código de Trânsito Brasileiro. A proposta ampliava de 20 para 40 pontos o limite para suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), eliminava exames toxicológicos para motoristas profissionais e acabava com a multa para quem não usa cadeirinhas para crianças no veículo.
Em 15 de agosto de 2019, em despacho publicado no DOU – Diário Oficial da União, o presidente da República, Jair Bolsonaro determina ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, que suspenda o uso de radares estáticos, móveis e portáteis, até que o Ministério da Infraestrutura “conclua a reavaliação da regulamentação dos procedimentos de fiscalização eletrônica de velocidade em vias públicas.
Bolsonaro destacou que os fixos, radares instalados ao lado das rodovias não entram nessa suspensão, pois não vamos alterar contratos com as empresas que operam esses equipamentos. Entretanto, a intenção é ao fim do prazo, não renovar esses contratos.
Em agosto de 2019, após o então diretor e presidente da Ancine, Christian de Castro, ter sido afastado do cargo por decisão judicial, Bolsonaro disse que queria um nome "terrivelmente evangélico" para substituí-lo.
Em 27 de agosto de 2019, o, então presidente da república, em reunião com os governadores da Amazônia Legal, transmitida ao vivo:
“ ... hoje, se o garimpo é ilegal, nós queremos legalizar. O que é legalizar? É ouvindo o Parlamento. Não vou tomar nenhuma decisão usando uma caneta “compacto”, ou uma caneta “bic”. Tá. Isso daí está bastante avançado no Ministério de Minas e Energia. Pretendemos brevemente apresentar essa proposta”.
“Os senhores sabem quantos territórios quilombolas, só na Amazônia Legal, já certificados estão em trâmite final de demarcação. Alguém sabe por acaso? Acho meio difícil. 936, só quilombolas. No tocante a reservas indígenas, né. Na fase final, 54 novas áreas, só na Amazônia Legal. Também, para daqui a alguns meses, a ser demarcado, mais 314 áreas indígenas, só na Amazônia Legal. E dizer aos senhores, também, que esta guerra aqui está acima dos estados, tá, é nossa é do Brasil”.
Em 5 de novembro de 2019, Bolsonaro entregou pessoalmente ao Congresso o “Plano Mais Brasil”, um conjunto de medidas preparadas por Paulo Guedes e sua equipe, com o propósito declarado de impedir novas crises das contas públicas nacionais e reduzir o tamanho do Estado.
Em 16 de janeiro de 2020, Roberto Alvim, o então secretário especial da Cultura, publicou um vídeo nas redes sociais em que parafraseia trechos de um discurso feito a diretores de teatro em 1933 por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista.
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. (Roberto Alvim)
A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada. (Joseph Goebbels).
No dia 24 de março de 2020, Bolsonaro em pronunciamento em rede nacional: “... Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade. 90% de nós não teremos qualquer manifestação caso se contamine. Devemos, sim, é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e avós. Respeitando as orientações do Ministério da Saúde. No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho,...”
Em reunião ministerial em de 22 de abril 2020, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, em uma de suas falas, ataca o STF – Supremo tribunal Federal: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.
Em reunião ministerial em de 22 de abril 2020, o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Sales: “Precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade, no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID e ir “passando a boiada”, e ir mudando todo o regramento, simplificando normas”.
Entre muitos atos do Ministro do Meio Ambiente Ricardo Sales – 2020-2022
Instruções normativas:
N° 4 – “autoriza a regularização de propriedades rurais em terras indígenas, ainda não homologadas”.
Nº 13 – “Diminui pela metade a distância entre áreas que recebem pulverização aérea de agrotóxicos e áreas de aldeias povoadas e bairros”
Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, DaMares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, qualificando o projeto do Ministro de Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, de “ressorts integrados”, onde somente 3% seriam utilizados para cassino e sem impacto às famílias dos trabalhadores: “pacto com o diabo”.
Em 03 de agosto de 2021, a Câmara dos Deputados aprovou, por 296 votos a 136, o texto-base do Projeto de Lei (PL) 2633/20, chamado de “PL da Grilagem” - flexibilização de normas de regularização fundiária, que regulariza a ocupação indevida de terras públicas.
Em agosto de 2021, o então Ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, marcou reunião com o Ministro da CGU, Wagner Rosário, entregou documento, baseado em comentário recebido em viagem a municípios e denúncia anônima, sobre intermediação indevida, e pediu que investigasse o documento.
No dia 21 de março de 2022, o jornal Folha de São Paulo divulgou áudio do Ministro, pastor Milton Ribeiro, onde ele afirma priorizar, em repasse de verbas do MEC, prefeituras cujos pedidos de liberação foram negociados por dois pastores, Arilton Moura e Gilmar Santos que não possuem cargo no governo. Após a divulgação dos áudios, outros dez prefeitos confirmaram essa influência indevida. "Gabinete paralelo" composto por pastores evangélicos, que opinavam na distribuição de verbas federais destinadas à educação e intermediavam encontros com autoridades.
Em agosto de 2022, Anderson Torres Ministro da Justiça fez parceria com entidade religiosa denominada Ministérios Pão Diário. Um dos produtos, o aplicativo “Pão Diário - Segurança Pública”, que oferece cursos como “Tornando Deus e Sua Palavra uma prioridade” e “Aprendendo a orar”. Um dos programas de podcast foi batizado de “O Senhor é o meu Pastor”. Há ainda um plano de leitura intitulado “Deus me ouve”.
14 de junho de 2022, cerimônia realizada na sede da Bolsa de Valores de São Paulo, que marcou a conclusão da privatização da Eletrobras.
14 de junho de 2022, o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord informou que até o momento foram privatizadas 36% das empresas estatais – de 209 para 133 (BR Distribuidora, agora Vibra Energia; TAG-Transportadora Associada de Gás, que agora aluga seus dutos á Petrobrás; Codesa-Companhia Docas do Espírito Santo ...)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encerra-se esse trabalho com a convicção de que se conseguiu, de forma razoavelmente satisfatória, informar sobre: nacionalismo cristão brasileiro; e o sucesso desse projeto político e de poder.
Além disso, chegar a um desenho bem aproximado do perfil do nacionalismo cristão brasileiro:
Reduzir o Estado brasileiro ao mínimo, por meio das privatizações, desregulamentações, enfraquecimento das atividades de controle e fiscalização, bem como depreciar suas instituições;
Opor-se à separação de Igreja, com Estado;
Sobrepor a moral cristã à moral cívica brasileira;
Restaurar o Estado cristão, anterior à República;
Restaurar a família como centro da vida brasileira; e
Inclinar-se a isolamento econômico e cultural.
Expressam, também, não tanto quanto o perfil, tal como se fosse uma caricatura do nacionalismo cristão:
o slogan da campanha de Bolsonaro à presidência, apropriado da Brigada de Infantaria Paraquedista, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”; o slogan de seu governo – “Pátria amada Brasil”, último verso do hino nacional; e
as afirmativas feitas pela ministra do governo Bolsonaro, pastora Damares Alves, no púlpito de igreja evangélica em Belo Horizonte – “As instituições piraram nesta nação, mas há uma instituição que não pirou. Esta nação só pode contar com essa instituição, que é a igreja de Jesus”; “o mundo não vai mudar pela política, mas pela Igreja”; e “é o momento da igreja governar”.
Sim, o mundo mudaria se o homem mudasse, se transformasse, evoluísse e, essa evolução teria maiores probabilidades de ocorrer se a Igreja exercesse a sua função primordial a de religião, do latim “religare”, ou seja, orientar, educar os homens a religarem o elo perdido entre o humano e o divino.
FONTES:
Artigos:
NACIONALISMO CRISTÃO
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/8153442
NACIONALISMO CRISTÃO NORTE AMERICANO I
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/8163854
NACIONALISMO CRISTÃO NORTE AMERICANO II
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/8168811
NACIONALISMO CRISTÃO NORTE AMERICANO III
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/8179545
NACIONALISMOI CRISTÃO BRASILEIRO I
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/8184462
Sites: agenciabrasil.ebc.com.br; bncamazonas.com.br; brasildefato.com.br; camara.leg.br; cnt.org.br; jusbrasil.com.br; periódicos.uem.com.br; pt.wikipedia.org;
oeco.org.br; e wikipedia.org.