DA CASTRAÇÃO COMO MÉTODO LIBERAL
A grande virtude do político contemporâneo, é o pragmatismo.
O senso de realismo crítico, fundamental tanto à caminhada eleitoral, quanto ao desenvolvimento partidário.
Não se admite mais o delírio ideológico, nem este era o desejo dos fundadores das correntes de pensamento.
Falando pelo setor que muito desonestamente a mídia denomina "esquerda", levou-se décadas em debates áridos e inclusivos, chatíssimos na verdade, enquanto o mundo real se distanciava, supersonicamente.
Digo assim, porque como defensor do humanismo socialista que Marx nos deixou, e no qual também reconheço valor em Proudhon, considero que os veios históricos do pensamento humanista modernos, precisam ser assimilados, para que se tenha instrumentos de intervenção no debate econômico, com um programa de ativação produtiva, em mãos.
Porque não é o que acontece.
Vemos o atual Governo Lula navegando em córregos liberais, impondo uma certa coloração social, sem contudo alterar regras de controle da economia, que mantém intocáveis grandes Capitais e imensos lucros.
Continuamos enviando às matrizes pacotes de lucros que justificam o alto índice de progresso humano no mundo civilizado.
Ou seja: justamente o nosso trabalhador esfola a saúde nos pisos industriais, para sustentar os níveis estratosféricos de padrão de vida, no Primeiro Mundo, onde é distribuído este resultado, por trabalhadores que sequer sabem onde ficam os lugares que sustentam seu nível de vida.
O que fazer para inverter este quadro?
É necessário um novo contrato social, no qual um Pacto de Construção do Novo Estado, conste como obrigatório.
Não porque tenhamos instituições podres.
Ao contrário.
Mas, nossa instituições estão baseadas em princípios de classe que não podem continuar.
Somos uma sociedade plural, mas a hegemonia no controle do Estado é restritiva, exclusiva aos detentores dos meios de produção e de multiicação do Capital.
Ou seja: vivemos a pluralidade secundária, permitida apenas às manifestações e atividades que não imponham intervenção nos meios produtivos.
É neste ponto que o Estado tem que mudar.
Todo projeto de diminuição do Estado, ou de retirada do seu papel de intervenção ou regulação, é direcionado contra os interesses populares.
É que interesses são estes?
Preponderantemente trabalhistas, vinculados à participação da força de trabalho na composição do Capital, e, por tabela, na estrutura formadora do Estado.
Quanto maior a participação da força de trabalho (braçal ou intelectual) na composição do Capital, majoritária deve ser o seu papel instituidor dos Poderes Públicos.
Mas, na prática é o que acontece, ou está em vias de acontecer?
De maneira nenhuma.
As massas de trabalhadores endividados não transferem para a organização representativa do Parlamento esta condição.
Diminuído numericamente frente ao intelectual, o trabalhador braçal direcionou seu voto migratoriamente ao inimigo de classe, confiando na figura assexuada do Empreendedor para livrá-lo da escravidão que o subjuga ao Patrão, em uma incongruência política inexplicável.
O trabalhador intelectual, que opera a produção com envolvimento muito maior na decifração do lucro do que o braçal, por ser ele o definidor numérico, vê-se como associado ao comando estratégico da Empresa Moderna, sem se dar conta de que apenas substitui em campo o extenuado operário que já não acompanha o ritmo da produção tecnológica.
Ou seja, a miséria da política reside no repúdio que o subjugado tem da ideia de ser apenas um servidor de interesses que o excluem, o que é mais imperdoável quando manifesto pelo dito, "trabalho pensante", porque este recebeu educação suficiente, e instrumentos de interpretação, para pensar.
E pensa errado.
Nenhum projeto de desenvolvimento econômico e progresso social avança sem que inseridas as reivindicações desta massa de obreiros produtivos, que não se entende como proletariada, por não encontrar identidade no papel tradicional de trabalhadora.
Este é o desafio: convencer ao produtor do bem que o papel de empreendedor não lhe cabe, e que só participa hegemonicamente do controle do Estado, se estiver presente como força de trabalho. Do contrário, os donos do Capital não aceitam a presença de quem não detém recursos para se apropriar dos meios.