Sobre ameaça chinesa e linguagem política
Acabo de ouvir entrevista de um dirigente empresarial catarinense sobre a precariedade das conexões comerciais internacionais brasileiras. Como é bom ouvir uma pessoa inteligente, bem informada e ao mesmo tempo sensata.
O entrevistado ressaltou que o brasileiro precisa aprender a se comunicar no mundo dos negócios e aproveitar as oportunidades existentes, e esse mundo (literalmente) inclui China, Rússia, Índia, certos países africanos e muitas outras economias.
Ele foi essencialmente pragmático, e não disse explicitamente, mas deduzo daquilo que falou que os chineses não pretendem contaminar o mundo com a ideologia comunista. Pretendem, tão somente, tirar vantagem das oportunidades econômicas e enriquecer o próprio povo, algo que deveria ser também a nossa preocupação.
Na entrevista, conversa vai, conversa vem, o assunto derivou para a política e o entrevistado acabou falando que a contribuição governo brasileiro é "zero". Achei isso nada construtivo. É verdade que é péssimo o retorno dos impostos pagos na forma de ensino público, assistência médica, segurança e outros serviços das diversas esferas de poder. Mas, daí a dizer que o brasileiro (ou o empresário brasileiro) só paga impostos e nada recebe de volta, é desperdiçar palavras e o tempo de quem ouve ou lê uma opinião tão rasa, pra não dizer maldosa.
Fiquei pensando... se o brasileiro precisa aprender a se comunicar no mundo dos negócios internacionais, precisa também aprender a falar de política.
Opinião política construtiva é analítica e sensata. É bem informada e consistente com algum ideal político, ou algum programa de governo. Aponta erros e soluções, distribui informação correta. Não pode ser tendenciosa, maldosa, maledicente, mentirosa, hipócrita, passional, gratuita.
Ninguém tem obrigação de ser especialista em administração pública nem mestre em oratória, embora qualquer um tenha o direito de se expressar e opinar.
Não obstante, o senso comum - que no final das contas é o que se reflete nas urnas -, não serve como base para quem se propõe a participar do poder público, ou quer influenciar a opinião alheia.
Tem horas em que o debate político se assemelha a uma imensa assembléia de araras e papagaios. Nada se aproveita do que se ouve, e pouco se aproveita do que os "mui amigos" postam nas redes sociais.
Se quisermos mudar essa realidade, podemos começar pelas redes sociais, não passando pra frente qualquer postagem sem antes verificar se é verdade, a quem interessa, a quem pode prejudicar, se prejudica ou ajuda a melhorar o mundo.
Quem escreve ou fala, pode começar lembrando sempre que tudo o que publicamos tem consequências, afeta a vida de quem lê ou ouve, afeta o futuro do ser humano.
Tudo isso é bom, mas é preciso
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Entrevista: Ralf Hinsching, na Jovem Pan
https://youtu.be/QyBBFR9kAu4?si=NnLwuolF9os_fyR0