Os Grupos Políticos e suas Bolhas
Ao final de um quatriênio apontando para o fim do mandato dos gestores e parlamentares municipais atuais, inicia-se mais um processo eleitoral não tão distinto doutras épocas.
Por todas as localidades os ajuntamentos de interesses e de grupos políticos diversos têm sido notados, uma vez que o processo eleitoral já se desenvolve em franco e escancarado despudor, despido de caráter por parte de alguns candidatos e também de eleitores, que, além do fanatismo político estão eivados de mácula e intenção descarada da venda do voto ou de sua anulação.
É perceptível que muitos são os problemas existentes na estrutura organizacional de cada município. Muitas são as promessas vãs das inúmeras campanhas, tantas milionárias até mesmo em minúsculos municípios dos grotões mais remotos e arbitrariamente relegados ao esquecimento pelo poder central.
Esses ajuntamentos de politiqueiros que infestam as municipalidades prometendo trazer a vida do povo para patamares deleitosos e perto de um paraíso onde o sonho ganha concretude, revela-se como um conto do vigário, por vezes. Uma terra onde emana leite e mel e onde todos serão felizes para sempre é a oferta do dia oferecida aos pobres incautos.
A despeito dos ataques mútuos, as pautas relativas às questões relacionadas à educação, saúde, assistência social, segurança pública e emprego têm sido negligenciadas no debate. Promover o ataque sistemático com orquestração programada acerca da vida particular de cada candidato tem sido a tônica das campanhas, em sua maioria. Discorrer acerca dos problemas da juventude, sem emprego e tendo que migrar para grandes centros, tem sido cada vez menos recorrente.
Os candidatos não falam para a população a apontarem saídas onde os graves problemas ainda afligem os mais carentes. Muitos desses candidatos discursam no âmbito de suas bolhas e falam para um povo que, além de palpitante incapacidade de avaliação mais séria, contenta-se com aquilo que ouve, porém pouco escuta e mal decide.
Muitos desses segmentos têm dificuldades na sustentação do processo democrático e na participação efetiva das transformações que a localidade exige.
Falar para a bolha e estar na bolha, é isto o comportamento de muitos pleiteantes. As grandes discussões ficam de fora do debate e ganha corpo o clientelismo, o assistencialismo e a sabujice expostos nos mais fiel puxa-saquismo.
A bolha não permite discussão aprofundada, uma vez que os novos problemas nas campanhas já se tornam velhos, pois são uma extensão da empreitada anterior. Falar para segmentos sistematicamente organizados é o que os mais potentados querem e impõem. Esses poderosos continuarão encastelados em seu mando e “se dando bem” na estrutura política vigente.
É preciso furar a bolha e apontar caminhos novos, com novas posturas por parte da população que gera, muitas vezes, monstrengos, iguais aos vistos recentemente no plano nacional ocupando a cadeira principal do Planalto.
Se faz necessário dar voz e vez aos pobres, dando um rosto a quem não tem rosto, ouvindo o grito de quem já nem grita por não ter mais voz nem força. Furar a bolha significa participar ativamente do processo escolhendo de forma assertiva, propositiva, sabendo que a dignidade merece respeito e a cidadania carece atenção. A vida não pode continuar a ser aviltada como querem muitos da classe política.
Quebrar resistências, derribar muralhas e construir ou reconstruir pontes deve ser a tônica das campanhas, seja para o executivo ou o legislativo.
É imperativo ouvir o ronco das ruas e observar as pessoas como seres de respeito e que carecem atenção, pois tudo começa no Município, como dizia Charlie Chaplin.
À classe política é imperativo furar a bolha e ver que fazer política não significa falar tão somente para os seus, mas, para todos indistintamente, não observando a cor da camisa que cada qual usa, pois isto nada diz. Essas cores se esmaecem com o tempo. As ideias não! No passar dos anos elas se robustecem desde que revigoradas no debate quando se fura a bolha.