Política, um mal necessário

Atualmente, estão registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 29 partidos políticos. Essa miscelânea de ideologias, uma verdadeira colcha de retalhos partidária acaba deixando o eleitor indeciso quanto à escolha de seus candidatos. Nessa farra insólita de siglas esquisitas, embarcam aqueles que enxergam a atividade política desse País como um dos melhores investimentos do mercado. Trabalha-se pouco, os subsídios estão muito acima da média geral dos trabalhadores brasileiros, as ultrajantes e intermináveis benesses ultrapassam sobremaneira os mínimos direitos garantidos pela Carta Magna aos cidadãos comuns e por aí vai. Nossos ilustres representantes, investidos da privilegiada condição, atuam para perseguir incansavelmente seus objetivos, sejam eles quais forem. Vale até descartar na lata do lixo os últimos resquícios de vergonha, dignidade e caráter. O maior exemplo de incongruência política veio do atual vice-presidente da República, ao se submeter vergonhosamente à chapa do partido outrora ferrenho e figadal adversário, visando unicamente a vitória nas urnas. Chegou a afirmar em discurso público que “o criminoso pretende voltar à cena do crime”, referindo-se ao atual mandatário.

A repentina mudança de opinião do vira-casaca “chuchu” demonstra claramente quais intenções carregam aqueles que almejam conquistar cargos eletivos. Os políticos profissionais ambicionam apenas e tão somente ampliar cada vez mais seus tentáculos de poderes. A lorota recorrente, contada há décadas em épocas eleitorais pelos representantes do povo, já não convence mais como antes. Com o advento da internet, as informações em tempo real levam diariamente ao eleitor as mazelas a que a sociedade é submetida. Essa situação perversa revela a flagrante e continuada omissão daqueles que haveriam de dedicar seu tempo e suas energias, visando cumprir com suas atribuições precípuas. Seja na fiscalização do executivo, no aprimoramento e na inclusão de legislação atualizada, que viesse efetivamente promover o desenvolvimento e o progresso das cidades e da nação, propiciando melhores condições de vida a seus habitantes. Ocorre que essas premissas básicas são ignoradas pelos representantes do povo salvo raríssimas exceções, que passam despercebidas diante de posturas essencialmente corporativistas e nada republicanas. A história mostra, em diferentes momentos, casos de corrupção envolvendo parlamentares e empresários no País, uma desprezível e altamente danosa relação de promiscuidade entre o público e o privado, que deixaram prejuízos bilionários aos cofres públicos.

Diante desse cenário, não se sustenta aquele surrado conselho para que o eleitor escolha com sabedoria seus representantes. Essa é uma falácia desbotada, mas sempre repaginada com invólucro ufanista, falsamente patriótico. Primeiro, porque após eleitos, os nobres pares literalmente desaparecem. Segundo, que o cumpridor fiel de seu “dever cívico” será esquecido até o próximo pleito eleitoral, uma vez que, para a casta privilegiada, o que interessa mesmo são os acordos partidários e os benefícios advindos deles. As demandas da população são colocadas em segundo plano e as legendas atendem a conveniências próprias. Terceiro, é de interesse de Suas Excelências que o cidadão esteja continuamente necessitado, um pretexto plausível para justificar suas existências e dos familiares, habilmente introduzidos na vida pública. Dessa forma, o poder se perpetua por gerações, representando uma verdadeira oligarquia. Exemplos dessa prática não faltam. Aos ingênuos pagadores de impostos, resta aturar pacientemente as filas imensas e apertar as teclas. Ou não. Enfim, ruim com eles, pior sem eles, porque a política será sempre, infelizmente, um mal necessário.