A mídia e o imbróglio venezuelano
O que está de verdade acontecendo na Venezuela após a eleição de 28 de julho passado? Garimpando o que parecem ser os fatos, principalmente na mídia dita alternativa, consegue-se saber alguma coisa: as apurações começaram normais, as tais atas eram divulgadas regularmente, e davam vitória à oposição; um ataque hacker vindo da Macedônia do Norte (!!!!) interferiu no sistema de apuração, impedindo a divulgação das atas restantes, a grande maioria; as primeiras atas divulgadas eram de redutos oposicionistas, elas não permitiam uma projeção dos resultados; mesmo sem as atas, o governo declarou a vitória de Maduro, aparentemente baseando-se nos boletins de urnas, mas sem as atas que os confirmassem; a oposição alegou fraude, afirmou que o resultado anunciado era falso; EUA e seus aliados, principalmente a Europa Ocidental, reconheceram a vitória da oposição; Rússia, China e outros reconheceram a vitória de Maduro; Brasil, México, Colômbia e outros esperam pela divulgação das atas para enfim se manifestarem sobre a eleição.
Mas faltam muitas informações verídicas nesse imbróglio! Quem promoveu o ataque hacker a partir da Macedônia do Norte? Elon Musk? A quem esse ataque interessava? Como podem EUA e outros reconhecerem a alegada vitória da oposição? Com base em que dados? E como podem Rússia e China reconhecerem a anunciada vitória de Maduro? Por quais motivos não nos chegam dados seguros do que realmente aconteceu?
Não é novidade que os EUA sabotam o governo e a estabilidade venezuelanos, desde que nosso vizinho sul-americano assumiu o controle do petróleo do país, as maiores reservas do mundo da principal fonte de energia. Não é novidade que os EUA patrocinam, direta ou indiretamente, a sabotagem de governos e países que tentam manter-se soberanos, sem submeter-se ao mando da nação que perpetrou o maior ato terrorista da história: as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Não é novidade que os EUA promovem guerras, golpes e lawfares (Vietnam, Coréia, Chile, Argentina, Afeganistão, Líbia, Síria, Paraguai, Brasil, Ucrânia, Palestina...) para proteger seus interesses econômicos e geopolíticos, favorecendo suas transnacionais e o deus mercado. Não é novidade que o “espectro da total dominação”, a ambição estadunidense de ser uma potência hegemônica, conduz à desinformação, à ignorância e ao extremismo, que engendra regimes autoritários mundo afora.
E a grande mídia, o que tem feito? Aqui entre nós, só se vê uma servil vassalagem à desinformação, que interessa aos EUA e seus agregados. Não se consegue ter acesso a duas opiniões. Só a opinião de que Maduro é um ditador, a Venezuela uma ditadura, a eleição uma fraude. Que vergonhoso papel da grande mídia e seus profissionais. Poderiam ao menos dar voz aos dois lados do imbróglio; não o fazem porque não estão comprometidos com a verdade, mas sim com alinhamentos fisiológicos que vêm de longe.
O imbróglio na Venezuela está personificando hoje os absurdos a que a ambição hegemônica dos EUA, e a subserviência da grande mídia, podem conduzir.