As falácias da extrema direita

Ultimamente, temos visto como a extrema direita tem tentado avançar de forma desavergonhada aqui no Brasil. O PL do aborto e o que propunha multar quem desse comida a moradores de rua apenas nos mostram que está mais do que na hora de apontarmos as falácias dos seus discursos inescrupulosos, desprovidos de lógica e que mostram que esses políticos não são e nunca foram pelo povo. Eles são e sempre foram pelos interesses das elites. Além disso, eles nunca apresentam um PL útil ou fazem uma proposta consistente quando falam. Tudo que fazem é atacar a esquerda, satanizá-la e dizer que ela é imoral, contra os valores morais e religiosos. E sabemos bem que atacar quem pensa diferente é a arma principal dos que não têm argumentos inteligentes nem provas concretas para sustentas os seus dizeres.

O deputado Sóstenes, autor do PL contra o aborto, defendeu que a menor estuprada que abortasse após a 22.ª semana poderia ser submetida a medida socioeducativa. O que é isso? Ser estuprada e engravidar de um estuprador já não é castigo suficiente para uma menina ou mulher? O seu discurso é absurdo, injusto e misógino, sendo totalmente condizente com a cultura do estupro, que considera a vítima culpada pela violência sofrida. Vale considerar que esse PL é inútil e, no final, só serviria para aumentar os índices de abortos clandestinos. No Brasil, é proibido roubar e matar e, todos os dias, ocorrem roubos e homicídios. A Lei Maria da Penha não diminuiu os casos de violência contra as mulheres e os feminicídios. Transformar o aborto após a 22.ª semana em um crime equivalente ao homicídio não irá impedir que ocorram abortos e fará com que mulheres pobres recorram a métodos rudimentares e perigosos ou clínicas clandestinas para abortar, correndo o risco de morrer de hemorragia ou infecção. Uma mulher que tiver dinheiro pagará um médico que fará o aborto em segredo.

Está muito comum vermos políticos da extrema direita como a deputada Chris Tonietto (PL - RJ) e Mical Damasceno (PL - MA) desrespeitarem o Estado laico e transformarem o plenário numa casa de oração, misturando política com religião, mostrando-nos que o bolsonarismo, com seu lema “Deus, pátria e família”, tornou-se uma seita perigosa aqui no Brasil. Pastores aderiram fortemente a Bolsonaro, que não tem a menor vergonha de usar o nome de Deus e o conhecido Nikolas Ferreira faz discursos verdadeiramente inflamados dizendo que “o bem vencerá o mal”, dando claramente a entender que a direita é o bem e a esquerda, o mal.

Chris Tonietto, uma ferrenha antiabortista, católica praticante, diz lutar pela “recuparação da identidade católica”. Essa não é a função de um deputado. O político pode ter a religião que quiser, mas não pode usar seu cargo para fazer proselitismo religioso e defender os dogmas de sua religião. Quem se elege para um cargo se elege para defender os direitos do povo. Religião é assunto privado, não do Estado. Os políticos da extrema direita seguidores de Bolsonaro, na verdade, usam a religião e o nome de Deus porque sabem que isso é útil para ganhar votos, visto que boa parte da população brasileira (especialmente os mais humildes) é religiosa e conservadora. Devido a isso, vemos tantos pobres de direita que se deixam levar pelos discursos desses políticos que dizem defender a moral e a virtude quando na verdade defendem os interesses dos poderosos.

A extrema direita não tem escrúpulos em se valer de teorias da conspiração fajutas para dizer que a esquerda é o mal e é contra os princípios morais e religiosos, convencendo os mais pobres de que eles, os da direita, são pelos valores éticos e uma boa prova é vermos o discurso ridículo de Nikolas Ferreira, que, num ato pró-Bolsonaro, falou que agradecia primeiro a Deus por estar ali e depois disse que o jovem podia ser de direita e conservador e não tinha a obrigação de aderir à doutrinação ideológica esquerdista que haveria nas universidades. Uma outra teoria ridícula que eles usam é a da ideologia de gênero, tese rasa sem nenhuma lógica. A deputada Chris Tonietto já foi processada por homofobia ao associar o movimento LGBTQIA+ à pedofilia e deputadas como Ana Campagnolo dizem que professores doutrinam ideologicamente os alunos segundo teorias esquerdistas que pretendem deturpar os verdadeiros fatos históricos e que se leria pornografia em sala de aula. Segundo a direita, a ideologia de gênero quer impor a homossexualidade como se fosse uma coisa normal. Não esqueçamos de Damares Alves, que disse que meninos deviam vestir azul e meninas, rosa. Porém, sabemos bem que não se pode ensinar ninguém a ser gay ou trans. A pessoa simplesmente é. Uma boa prova de que a ideologia de gênero não passa de uma falácia é o fato de que sempre existiram homossexuais, bissexuais e transexuais muitos antes de se falar em movimentos LGBTQIA+ e ideologia de gênero. Gays e trans sempre existiram e sempre existirão, independentemente de qualquer teoria. Aliás, os parlamentares da extrema direita fazem o maior barulho para dizer que criança não deve ir a paradas gay mas nada dizem a respeito de padres e pastores pedófilos e parecem esquecer que as crianças sofrem mais abusos em casa ou nas igrejas, onde se presume que deveriam estar seguras.

Outra falácia perigosa da extrema direita é a de tentar dizer que a época do regime militar não foi realmente uma ditadura. Ana Campagnolo, deputada estadual em Santa Catarina, é uma clara admiradora do torturador Ustra e, por ser professora de História, chegou a declarar que os livros de História não mostram a época do regime miltiar como realmente foi. Ana Campagnolo é bastante conhecida por ser uma antifeminista e afirmar que os homens são as maiores vítimas de violência doméstica. Ela já chegou a elaborar um projeto de lei absurdo em que dizia que se devia prestar apoio a meninos e rapazes que fossem vítimas de violência motivada pelo feminismo. É verdade que os homens e rapazes são as maiores vítimas de crimes violentos, porém devemos lembrar que quem mais comete violência contra os homens são outros homens. As estatísticas não mentem. Aliás, a Brasil Paralelo tem prestado um grande desserviço por ajudar a difundir a ideia de que a época da ditadura militar não foi como aprendemos nos livros de História. Com certeza, nunca leram o livro Brasil nunca mais. É quase certo que a Brasil Paralelo, por ter dado espaço ao ex-marido de Maria da Penha, acabou contribuindo para espalhar a ideia de que ela mentiu e nunca foi realmente vítima de violência doméstica. Se ela mentiu, não temos certeza, no entanto é certo que temos que partir do princípio de que é óbvio que ele iria dizer que é inocente. Outra coisa é que, se Maria da Penha realmente mentiu, isso não influi nos dados estatísticos que mostram mulheres apanhando ou sendo mortas pelos companheiros e ex-companheiros.

Esses políticos da extrema direita adoram falar de meritocracia e vitimismo, dando a entender que grupos como os dos negros, gays, pobres e mulheres na verdade são vitimistas e se dizem vítimas de preconceito para conseguir privilégios com base nas suas condições. Falam como se nunca tivesse havido opressão contra essas pessoas. Então, vai uma pergunta: por que esses povos têm há tanto tempo lutado contra discriminação e injustiças? Ninguém vai lutar contra o que não existe, mas a extrema direita, de forma desavergonhada, diz que não há preconceito. Um bom exemplo é o da vereadora Jessicão, (PL - PR) que, embora seja lésbica assumida, apoia Bolsonaro e, em uma entrevista à Jovem Pan, ela, que diz que o PT é um partido que apoia coitadinhos, chegou a dizer que não existe homofobia, mas falta de respeito. Segundo ela, se um gay sofrer violência, é necessário ver se ele não deu motivo para isso, num discurso similar ao de quem diz que a mulher estuprada provocou o estuprador. Que absurdo, não é?

Outra falácia usada por esses políticos é a da meritocracia. Eles dizem que, se alguém é pobre, é porque é acomodado ou não tem competência para melhorar de vida. Ora, sabemos bem que isso de meritocracia não existe. Só poderia haver meritocracia se houvesse igualdade de condições, o que sabemos bem não ser o caso aqui no Brasil. Claro que um filho de família abastada, que sempre teve privilégios e estudou em escolas particulares terá mais chances de ter um bom emprego e prosperar. Bem, ainda se poderia falar mais mas por enquanto isto é o suficiente para mostrar que a extrema direita não merece crédito nem está interessada em defender os interesses do povo.