DA SERIE ESTUDOS MARXISTAS: Sobre a Terceira Tese de Marx sobre Feuerbach
Por Adriano Espíndola Cavalheiro
A terceira tese sobre Feuerbach, escrita por Karl Marx, em crítica ao referido autor, traz reflexões fundamentais sobre a relação dialética entre as circunstâncias materiais e a ação transformadora dos seres humanos.
Ela é uma das teses centrais de Marx, que sintetiza sua visão sobre a relação entre as condições objetivas e a ação subjetiva na transformação da realidade. Um ponto de partida fundamental para nós, revolucionários, que buscamos não apenas interpretar o mundo, mas transformá-lo pela luta concreta da classe trabalhadora.
Nessa tese Marx critica a visão determinista e mecanicista do materialismo vulgar, que enxerga as pessoas apenas como produtos passivos do meio. Essa concepção esquece que as próprias circunstâncias são transformadas pela práxis humana. Os humanos não apenas sofrem a influência do ambiente, mas agem sobre ele, modificando-o.
Ao dizer que na tese em comento que “o educador tem ele próprio de ser educado”, Marx enfatiza que não existe uma elite iluminada acima da sociedade, imune às condições materiais. Todos estão inseridos nas circunstâncias históricas e precisam se transformar junto com elas. Isso é uma crítica a visões utópicas como a de Robert Owen, que acreditava em mudar a sociedade a partir de comunidades-modelo isoladas.
A chave está no conceito de práxis revolucionária: a unidade entre teoria e prática, entre a interpretação do mundo e sua transformação. Não basta contemplar a realidade, é preciso um engajamento ativo para mudá-la. As circunstâncias não mudam por si, mas pela ação consciente dos sujeitos históricos – no nosso caso, a classe trabalhadora e os movimentos populares.
É preciso entender, acrescento, que a práxis revolucionária passa pela construção de um partido que seja efetivamente um instrumento de luta dos trabalhadores. Um partido que eduque e seja educado pelas massas, inserido em seus combates cotidianos. Que elabore uma estratégia baseada na independência de classe e na perspectiva do poder operário e popular. Nesse sentido, são nossos esforços para construir o PSTU.
Esse é o sentido profundo da tese de Marx: nem determinismo, nem voluntarismo, mas o entendimento da história como um processo vivo, feito pela ação transformadora dos explorados e oprimidos. Teoria revolucionária e prática revolucionária em unidade dialética. Esse é o caminho para superar o capitalismo e construir uma nova sociedade.
Segue a transcrição da terceira tese sobre Feuerbach, de Karl Marx:
“A doutrina materialista sobre a modificação das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são modificadas pelos homens e que o próprio educador tem de ser educado. Ela tem, por isso, de dividir a sociedade em duas partes – uma das quais é colocada acima da sociedade.
A coincidência da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e compreendida racionalmente como práxis revolucionária.”
As “Teses sobre Feuerbach” são uma crítica contundente de Marx à filosofia de Ludwig Feuerbach, um pensador alemão que, apesar de suas posições materialistas, ainda mantinha elementos idealistas e contemplativos em sua teoria.