Um dos erros do sistema Ditadura no Brasil
Aquela epidemia poderia ter sido contida em sua fase inicial, na periferia de São Paulo. Entretanto, como o regime militar tentou esconder a doença e demorou a tomar as medidas para frear seu avanço, o surto virou uma tragédia, causando 2500 mortes apenas no município, em 1974. Só então, diante de uma calamidade que podia ter sido evitada, o governo começou a vacinar a população.
Nos primeiros anos, mesmo diante do aumento da incidência de casos, e com mortalidade oscilando de 12% a 14% dos doentes, a ditadura escondia os números da população e negava a existência de uma epidemia. Para calar jornais, rádios e TVs, os militares se valiam do Decreto-Lei 1077, de 26 de janeiro de 1970, que estabeleceu censura prévia aos veículos de comunicação. Médicos e sanitaristas não podiam dar entrevistas. Apenas a partir de 1974, quando os hospitais em São Paulo estavam lotados de doentes e não havia mais como negar, os generais começaram a reconhecer o problema.
Motivação era comercial,temiam que a imagem do Brasil,no estrangeiro fosse mal vista,com os produtos brasileiros a importar,no chamado e tão mencionado "Milagre Econômico".
De acordo com pesquisadores de saúde pública, o Brasil vivia a ilusão do “milagre económico”, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e aumento da desigualdade social. Os generais temiam prejuízo à imagem do país no mercado global no caso de reconhecer a epidemia de uma doença para a qual já existia vacina. O assunto, então, foi considerado questão de segurança nacional.
O que ceifou muitas Vidas,até se tomarem as devidas providências.
A professora Ritas Barradas Barata, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, trabalhou na linha de frente do combate à epidemia de meningite na cidade e, anos mais tarde, escreveu o livro “Meningite: Uma doença sob censura?", lançado em 1988. De acordo com ela, apenas a mídia impressa podia noticiar, mas sem citar números e sem ligar o problema a causas sócio-econômicas. Além disso, o termo "epidemia" para se referir à situação estava vetado.
Segundo Barradas, enquanto a meningite matava moradores da periferia de São Paulo, os militares conseguiram abafar o assunto. Mas, quando a epidemia atingiu bairros nobres e centrais da cidade, as autoridades foram obrigadas a admitir que havia uma emergência sanitária em curso. A esta altura, porém, o problema tinha se tornado uma bola de neve. O Hospital Emílio Ribas, referência na capital, contava com cerca de 400 leitos, mas chegou a abrigar mais de mil pacientes internados.