Tragédia Gaúcha

O noticiário informa sobre a extensão da tragédia, que atingiu boa parte do Rio Grande do Sul, causada pelas chuvas intensas e, praticamente, contínuas.

Tragédia que ceifou, por enquanto, mais de centena e meia de vidas, desalojou milhares, destruiu residências, patrimônio público e privado. Prejuízo imenso, tanto social como econômico.

Os gestores públicos das esferas federal, estadual e municipal, indicam a necessidade de reconstruir, mas, prioritariamente, assistir aos diretamente atingidos. A sociedade brasileira se solidariza em manifestações e com envio de ajuda as mais diversas necessidades.

Mensagem recebida pelo celular, trazendo cópia de jornal “A Época”, de Caxias do Sul”, de 11 de maio de 1941, programa Repórter Eco de 19/05/ 2024 da TV Cultura e matéria de jornal “Pioneiro” de 17/05/2024, de Caxias do Sul e região, mobilizaram-me a selecionar e organizar informações dessas três fontes e utilizá-las como base à opinião crítica.

As catástrofes climáticas são consequências das atividades humanas, principalmente o desmatamento e a utilização de combustíveis fósseis.

Esses eventos extremos serão cada vez mais intensos e mais frequentes. Antes da tragédia gaúcha, maio de 2024, tivemos em fevereiro de 2023 a tragédia de desmoronamentos, causados por chuvas intensas no litoral norte do estado de São Paulo e, em outubro de 2023, a imensa seca no Amazonas.

As enchentes no Rio Grande do Sul, que atingiram cotas superiores a três metros: maio 1941 – 3,66ms; setembro 1967 – 3,11 m; setembro 2023 – 3,18m; novembro de 2023 – 3,46 m; maio de 2024 – 5,35 m.

Sobre a grande enchente de 1941 o noticiário, trazia algumas opiniões como:

- Fenômeno caracterizado por anomalia, que somente se repetirá com a concordância de fatores diversos, que dificilmente se sincronizam.

- De difícil previsão sua próxima ocorrência, mas há indicações gerais que permitem situar entre intervalos de 50 a 100 anos (1991 – 2041)

E as conclusões dum relatório:

- A causa principal foi a simultaneidade de precipitações nas bacias hidrográficas dos formadores do Guaíba. Teria sido mais calamitosa, se nesse período, tivessem predominado os ventos sul, que represam a Lagoa dos Patos e elevam o nível do estuário do Guaíba.

- Indicação de Soluções

1 – Proceder a defesa das cidades de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande por meio de diques de contenção.

2 – Proceder aterros das áreas menores, que sofreram alagamentos.

3 – Construção de pequenas barragens nas cabeceiras dos rios.

4 – Reflorestamento das bacias hidrográficas.

5 – Construção de rede de reservatórios compensadores e proteção por diques das áreas de maior rendimento econômico, ou de alta densidade demográfica.

6 - Abertura de grandes canais de comunicação entre o oceano e as lagoas dos Patos e Mirim, para reduzir a duração das cheias: Derivação do Jacuí pelo canal de Santa cruz e derivação do Guaíba pelo canal de Itapuã.

7 – Elevação imediata das cotas baixas das estradas, para evitar que as cidades permaneçam sem ligação com o interior durante as enchentes.

8 - Criar um grupo de estudos e obras para fiscalizar as obras e proceder as escolhas, ou criar outras alternativas, para serem adotadas como solução.

Dessas soluções indicadas, somente algumas foram implantadas.

Com relação a recente tragédia gaúcha e sobre medidas a serem tomadas, o noticiário indica que além das, de emergenciais de reconstrução, impõe-se soluções, que evitem essas tragédias, tal como alguns exemplos inspiradores: Japão com seus sistemas contra enchentes, por meio de sistema de túneis armazenadores de águas; Holanda com barreiras defensivas devido boa parte de seu território estar a baixo do nível do mar; e a China com cidades esponjas.

Além, como inspiração, de soluções utilizadas por outros países, a engenharia brasileira encontra-se bem mais desenvolvida do que em 1941. Estamos certos que especialistas podem encontrar e projetar solução de excelência, não somente para o Rio Grande do Sul, mas para todas as áreas de risco dos outros estados.

O que não mudou e, acreditamos que até ficou mais acentuado é, o comportamento dos gestores da coisa pública de somente atuarem corretivamente.

Além disso, o julgamento sobre a qualidade das ações dos agentes desse universo público e político, encontra-se tão reprobatório, que se tem dúvida sobre se as ações são feitas motivadas pelo cumprimento do dever, ou se devido à pressão por grande desgaste político e pela ameaça de acusação e julgamento, por crime de responsabilidade, caso não agissem.

O exemplo que ilustra muito bem esse comportamento é o que ocorre todos os anos com relação a dengue. Toda ação corretiva dos governos: propaganda educativa para dificultar a proliferação do mosquito, intensificação da fiscalização e orientação, bem como, agora, a vacinação, deveria ter início no início da primavera e não, somente, quando pressionados por constatação de epidemia.

A maior de nossas tragédias é o comportamento político nosso e o, de nossos políticos.

Concomitantemente à tragédia gaúcha, deputados e senadores, no Congresso Nacional, votam pela destruição da Política Socioambiental. Como ilustração, votam para diminuir a área de proteção da Amazônia, ou seja, liberar para desmatamento área equivalente a 30 vezes a destruição da floresta ocorrida em 2023.

Um outro projeto de Lei deixa sem proteção 50 % do Pantanal, que perdeu mais de 30% de sua vegetação, em incêndio de grande proporção, há dois anos.

Das emendas parlamentares, somente uma representante da bancada gaúcha destinou algum recurso, para rubricas relacionadas à tragédia. Provavelmente, o mesmo deve ter acontecido pelas bancadas dos outros estados com relação à aplicação de recursos em medidas preventivas.

A ocorrer alguma mobilização, ou é para, tal como numa procissão, quando se venera o sacro, venerar o mito representante do polo guia, ou para execrar o mito opositor ou, ainda, instituição rotulada como perseguidora do mito venerado.

Muito pouco, ou nada adianta renovar o Congresso, pela troca por mais jovens, ou mais mulheres, ou mais indígenas, ou mais negros, ou mais praticantes de religiões minoritárias, ou mais representantes de opção sexual não tradicional ... se a qualidade do trabalho legislativo continua a ser caracterizada por vícios históricos: corporativismo, patrimonialismo, fisiologismo e por instrumentos legais de baixa qualidade e quase sempre desvirtuados por “jabutis”.

Muito pouco, ou nada adianta uma sociedade ser renovada por uma geração digital, se continuam se omitindo de ser o poder, que do povo emana e, quando participa, o faz adorando mitos e se submete à condução do mesmo jeitinho de o gado em relação ao boiadeiro.

Não basta reconstruir o que foi devastado nas terras gaúchas pelas enchentes, seria quase como “enxugar gelo”. A próxima grande enchente que, no passado foi prevista entre meio e um século, hoje é prevista com mais intensidade e frequência.

É preciso, concomitantemente a reconstrução, implantar solução preventiva, inspirada na experiência em soluções bem sucedidas e na qualidade de nossos especialistas e de nossa engenharia.

É preciso impedir com soluções preventivas todas as áreas de riscos das cidades brasileiras fadadas a similares tragédias, provocadas pelas novas e agressivas condições climáticas.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 01/06/2024
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