QUEM VÊ CUECA, VÊ CORAÇÃO!

Carlos Roberto Martins de Souza

A vida é muito cruel com Boçal Nero, ela não dá tréguas, todo dia ela prega um peça no sujeito. Ele havia acabado de deixar o Palácio do Planalto, irado e ao mesmo tempo, envergonhado com a derrota, resolveu passar uns dias num apartamento do amigão Valdemar, era para relaxar e esperar o pior, pois sabia que os dias seriam difíceis. Solitário, teria que arcar com algumas atividades que não lhe eram peculiar, até para ajudar a aliviar o banzo. Chegou já trazendo um desconforto, pois havia acabado de engolir um “Lula”, que os brasileiros em empurraram goela abaixo, o que atacou seu sistema digestivo. Enquanto carregava as malas no apartamento, sentiu um tiro saindo da sua espingarda relepra, logo percebeu que algo não muito confortável havia acontecido. Acho que aquilo durou uns dez segundos, foi um jato forte e contínuo de merda líquida. Tava tão violento, que o jato de bosta se desfazia na cueca, como se fosse um spray, e a fedentina era levada pelo vento. Com o melado breando a bunda, escorrendo pelas pernas, com o odor de bicho podre tomando conta, nem ele suportou, restou pegar um pregador de roupas e cravar no nariz. Não havia segredo de justiça no fato com flato. E agora, Jair? Se livrar da peça seria o mais lógico, mas como? O drama estava apenas começando, as horas seguintes seriam mais um pesadelo, pois aquela maldita cueca colocaria ele em apuros, e põe apuros. Achando que ninguém saberia quem era o dono da obra de arte, decidiu jogar a peça lambuzada pela janela. Décimo andar, com um vento sul soprando forte, imaginava que se livraria fácil daquela desgraça. Pegou a dita cuja e arremessou, óbvio, dando gargalhadas de sua cagada que acabara de fazer, não na cueca, mas no ato de lançar ao vento seus feitos presidenciais remanescentes. O bicho é mesmo azarado, com a intensidade do vento, a merda criou asas, voando sem controle, foi pousar, como um bicho morto, na janela ao lado, no mesmo prédio. Eita azar! A cueca, por ser um presente de Mischeque, tinha o nome do Bozo gravado em alto relevo, era tudo que alguém precisava para pegar o criminoso, não pelo pé, mas pela bunda. A cueca descrevia, em grau, gênero e número, quem era o seu dono, pois carregava as impressões digitais, ou anais no tecido. O morador, ao acordar, como de costume, abriu sua janela, era pratica dar bom dia a um novo dia, mas o movimento que ele fazia com um certo prazer e brilho nos olhos, entoando um pensamento de liberdade, logo mostrou o dia lá fora que o aguardava. Mas, um odor bostal o derrubou, ele fora atacado pela catinga de merda que tomou conta do recinto. Voltou assustado para ver o que havia acontecido, e além do céu azul e dos pássaros cantando, tinha uma cueca personalizada pelo conteúdo, estampada no beiral da sua janela, ela, com o efeito do vento, ficou presa e não alcançou o destino final que, imaginou, seu dono pretendia. Uma música de terror tocava na sua cabeça, era um filme de suspense ao vivo e a cores. Ele não entendia como aquele negócio podre, com poder de voar, fez um trajeto tão complicado e foi grudar na sua janela. Com um cabo de vassoura na mão, ergueu a peça, e localizou o nome no único lugar limpo, era muito famoso, um cara conhecido pelas suas grandes cagadas, o cagão azarado era, nada mais, nada menos, que Broxonaro, e a primeira ideia era ajudar a bendita a chegar ao destino, o solo, pois não queria se envolver com merdas. Não era um caso de “Batom na Cueca”, mas de “Bosta na Cueca". Como parecia um prêmio aquela sina do destino, ele recolheu o feto junto com o tecido que o envolvia. Como não teria coragem de abrigar em casa um produto, no mínimo, excêntrico, decidiu procurar o dono cueca voadora. Afinal, quem vê cueca, vê o coração. Na ânsia de se livrar, deu um empurrãozinho, pegou na ponta dos dedos, e a sina de azarado se revelou, a cueca estava borrada, era uma cueca de um ser em aflição, que não conseguiu segurar seu aperto e fez cocô na calça. Ela, amiga intima do anel de casamento do vazo com a bunda, testemunha “o cu lar" do desastre, precisava ser descartada logo, pois havia o risco de contaminação ambiental. Lá embaixo, quase que no condomínio inteiro, ia aparecendo uns pontinhos marrons, bem pequenos, separados por uns metros cada um. Era o vazamento de elementos merdoativos. Aquilo cobriu as paredes, os carros, as árvores, como se fosse uma garoa de merda. A cueca voadora ganhou um contexto, e contextos contam histórias em nosso imaginário, e nos leva a conjecturar. Cueca de presidente, como presente! Vindo do céu! Por estar suja de cocô, a tal cueca se tornou mal vinda naquele andar, já que precisava de, no mínimo, uma boa lavagem dedicada de seu dono. Mas esse dono, muito provavelmente não querendo que seu aperto se revelasse para outras pessoas dentro do apartamento, resolve enviar a merda toda pelos ares, com o entendimento de que, melhor que encarar de frente aquela borrada nas calças, sua parte de responsabilidade era fazer a cueca desaparecer pelo mundo. Se não estivesse tão aterrorizante, sem possibilidade de receber visitas, sozinho, imagino eu, poderia ter jogado a tal cueca no lixo, pensou o nobre vizinho sortudo. Para evitar qualquer vergonha, fez a coisa desaparecer seguindo a crença socialmente instituída de que, se os olhos não vêm, o coração não sente. Mas a cueca, além de ver tudo, sentiu e carregou. O morador, gentilmente desceu, foi à portaria, avisou ao porteiro que uma merda voadora havia feito um pouso forçado, sem escalas, na sua janela, mas que, por azar, já tinha o prefixo do avião na mão, ou na cueca. Autorizado, subiu com a coisa amarrada numa sacola de supermercado, e que, pela potência da carga, deixava rastros por onde passava. Alguém no elevador, intrigado, questionou sobre o produto, e ouviu que era apenas uma encomenda misteriosa. Ou pastosa. Chegando ao apartamento, educadamente, apertou a campainha e atuador. Lá de dentro veio um sonoro Pooorrraaa! Azedo, o cagão pensava ter se livrado de seu fantasma, que a visita era formalidade do prédio. Abriu a porta, e soltou e berrou: - Cacete nem cheguei e você já vem me perturbar? O vizinho o reconheceu, achando estar fazendo uma obra de caridade, perguntou: - Estou procurando um “cagão misterioso”, foi o senhor, por acaso, que lançou uma aeronave pela janela? Ou melhor, pérolas aos porcos? Ou melhor, um merdel embrulhado na cueca? Com sua habilidade de mentiroso, já foi logo afirmando que sua educação não permitia tal aberração. Por fatalidade, ou por castigo, ele soltou aquele super peido de fiofó relaxado, foi uma coisa hilária. O vizinho saiu do sério e disse: - Puta que Pariu!!!! Eu achava que já tinha visto de tudo nesta vida, mas peido com casca, nunca!!!! E a ocasião faz o cagão, e cagar exige talento. Assustado, pois alguém tinha descoberto sua façanha, ele continuou negando, e ainda esnobou: - Fui presidente desta porra, nunca fiz nenhuma cada! Talkey? Puta que o pariu! Me esquece! O vizinho, vendo que era ele o dono do “Pavão Misterioso”, pegou pesado: - Olha, seu presidente, fazer merda também deixa digitais, e a do senhor está gravada, em alto relevo, tem até sua rubrica, ou o senhor não se chama “BOLSONARO”? O vizinho, vendo que o cara não assumia a paternidade da merda, abriu o saco ali mesmo na porta, pegou a carniça com uma caneta, pendurou bem no nariz do Cagão. Ao ver a peça, ele esbravejou: - Mas este cheiro não é do meu deposito, não sou tão podre assim. A testemunha do crime, indignada com o tratamento, abriu a ceroula e lá se lia o nome, o que deixou o Capetão desconcertado. Acuado, vendo a merda que havia feito, tentou minimizar o fato: - Quando o inesperado ocorreu, imaginei que ia "Dar merda", quando joguei pela janela, pensei, "Deu merda", mas eu “Sabia que ia dar merda", e deu! Sei que cu não tem paladar, mas parecia que a merda saía azeda. Satisfeito com o final, o morador arrematou: - Fique atento da próxima vez, pois às vezes o cu se recusa a obedecer, ele cria vontade própria, e quem vê cueca, não vê coração!