A CAGADA DO AZARÃO

Carlos Roberto Martins de Souza

Atordoado com as noticias nada favoráveis dando conta da quebra de sigilo por parte do Xerife Xandão, Broxonaro começou a sentir-se mal do bucho. Coisa normal. Ele, numa cadeira de balanço, embalando suas mágoas, e remoendo seus sonhos, percebeu uma cólica intestinal estranha, um reboliço sacudiu seu depósito de inteligência, ele havia entrado em transe. Imaginou que uma tirada de água do joelho resolveria o desconforto ou que um peido de metro traria a paz às tripas de volta. Mijo ou peido? Na confusão, chega seu advogado para acompanhá-lo num depoimento à Polícia Federal, ele então resolve prender o bicho no ventre, faria uma penitência fecal. Pensou, daqui até na delegacia não é longe, vou segurar as pontas, pois estou acostumado com minhas cagadas. Ademais, o Xande está me ensinando a segurar merda. Lá, com certeza, vou jogar fezes na Polícia. Entrou no carro, mas não contava com um acidente no caminho que o deixaria parado, preso dentro do carro. Com a demora, a pressão começou a aumentar, as tripas davam nó, o bucho do bicho entrou em erupção, o fiofó travou, a merda queria sair daquela merda. Ele, atordoado, sentiu a primeira repuxada na barriga, aquele prato à base de “Lula” tinha fecundado, eram as contrações do parto, depois de viver na base da merda, gerando no ventre sua cria, era a hora de dar a luz a sua merda mortal. Suando frio, trancando a bunda e rezando, ele se deu conta que a sua gravidez fecal era uma realidade, um pesadelo, e não uma dorzinha. Preso no carro, via seu tempo de puerpério chegando ao fim, sem chance de uma cesariana, o parto seria normal. Era o nono mês, não tinha escapatória, restava botar a merda para fora, e ali, na pista da Perimetral em Brasília, a coisa seria complicada, seria o parto humanitário, de cócoras, sem direito à higiene ou à água para lavar as mãos. Atordoado, vira para o advogado e diz que a coisa seria sem anestesia. Óbvio, o seu defensor não entendeu, achou que Broxonaro estivesse falando do depoimento. Ele, solicito, tentou acalmar dizendo que seria sem traumas, que era só relaxar, e deixar as coisas descerem. Bozo, vendo a confusão, foi logo acionando seu vocabulário particular, e lascou aquela “porrrraaaa!”, você não percebeu que eu estou entalado com merda? Cacete! Mal posso esperar você destravar a porta desta desgraça, meu fiofó vai explodir, mal posso entrar na merda daquela moita, preciso fazer um serviço de pedreiro”. Claro, ele não entendeu nada. Percebendo a situação, o parturiente tentou remediar e disse que precisava deixar um barro na touceira de capim, que precisava do lenço personalizado de seu representante para fazer as cortesias da casa. Desceu do carro, e todos os demais ocupantes de outros veículos perceberam a gravidade do caso. De um ônibus de estudantes ouvia-se coisas como “cagão”, “vai na merda", “deixa que eu limpo", “cuidado, no mato tem cobra", “segura a linguiça”. Alguém, num carro, reconheceu o Capetão e foi logo dizendo: “Vai fazer o que sabe, né?”. O Flávio Dino, por azar, também preso na confusão, baixou o vidro e mandou ver: “É tão cagão, que tem que se limpar antes de cagar". O Silas Iscariotes, com pressa, também vendo o drama, resolveu confortar o cagão: “O Senhor sempre ouve quem clama por socorro no tempo da angústia”. Um turista e escultor que visitava a cidade também deu sua força para levantar o moral e ao seu estilo disse: “Não se preocupe, cagar é uma obra de arte estilo barroco. Vai firme!”. Quando abaixou as calças, sentiu um alívio, mas nem deu tempo, um gambá, perdido em meio as plantas, sentido o cheiro de ovo podre, num pulo, agarrou a cueca mirando seu prato predileto. Com o pinto mole numa mão, as pregas no extremo da resistência, bateu o desespero, vendo que a situação saíra do controle, que a cagança faria estragos, meteu o dedo no buraco e exclamou para o animal: “Filho da Puta! Vou te processar”. Achando que tudo estava resolvido, agachou e colocou-se na posição para trazer ao mundo sua obra prima, num parto cheio de surpresas. Quando ia tirar o dedo do orifício anal, um carro de som da “pamonha" aproveitou para tirar sarro do infeliz, e logo anunciou: “Se precisar, a pamonha pode ajudar, sabugo é um ótimo limpador de rego". Sem cerimônias, o Véio da sofrência berrou: “Enfia este sabugo no rabo!”. Não deixando por menos, o locutor arrematou: “Vai sair pamonha quentinha, pamonha molinha, pamonha de bosta verde". A ira subiu, Bozo percebeu que estava em apuros, que não tinha saída, e ai lembrou do filósofo e pensou: “Cagar ou não cagar, eis a questão!”. Decidiu, por unanimidade, soltar as amarras e botar o tal barro no chão. No entanto, o gambá, faminto, ainda estava na cena do crime, e agachado, já tomado pelo suor, Boçal Nero percebe o bicho olhando fundo no seu fundo, de olho na penca de fruta podre. Enlouqueceu, queria terminar a obra a qualquer custo, vendo a merda, acompanhada de várias malas de gases, sendo pressionada a descer na estação, pegou uma pedra e arremessou contra o bicho, mas como a outra mão estava no buraco negro, perdeu o equilíbrio e, de novo, berrou: “Isto é putaria, é praga da esquerda”. Com o dedo cravado no “zerinho", ele tenta se colocar na posição segura de parturiente em perigo. O advogado, percebendo a gravidade, sai e vai se certificar, chegando lá, vê a cena cômica e pergunta se precisa de ajuda, ao que Broxonaro, educadamente, diz: “Vá se feder! Eu quero um mandado de segurança para eu cagar, porrrrra! Talkey? O bucho estava em polvorosa, e o pobre dedo, cansado da posição fecal, exigiu ser trocado, e neste movimento, um alivio salvador desceu em forma de gazes perfumados, fazendo crer que seria o fim, e que o parto seria normal. O fedor do dedo, vítima da cirurgia de tapa buraco, tomou conta do entorno. Cenas passaram pela cabeça, a do banheiro presidencial fazia o cabra chorar de saudades, óbvio de poder se livrar da merda. O trânsito liberou, e um cidadão, vendo que a coisa merecia cuidados, disse: “Fica com Deus! Que as merdas o acompanhe!”. O ex-machão só não deu um tiro, pois, na ânsia de se livrar da bosta, deixou a arma na bolsa. E veio um “desgraça” como resposta. Suando frio, tentou pegar um pedaço de papel trazido pelo vento, queria resolver o problema da limpeza, e foi aí que se deu conta do conforto que tinha, lembrou da maciez e do perfume daquele seu companheiro de privada, o “Neve", que até refrescava a bendita cagada. Num vacilo causado ao tentar afugentar uma abelha que voava tentando alcançar uma flor, veio o desequilíbrio, e pimba, a criança nasceu. O dedo, que servia de trava de segurança, escapou e foi merda para todos os lados, sapatos, cueca, calça, foi uma bela borrada. O gambá, de longe, com aquele olhar de quem estava feliz, se pudesse diria: “Bem feito! Não quis me dar os ovos, levou merda!”. A coisa ficou tensa, era hora de encarar a merda de frente, sem perceber, levou o dedo na boca e deu aquela lambida, na ânsia de limpar o sofredor. Foi aí que percebeu que merda é merda. O amigo, atordoado, voltou e quis tirar o merda da merda, e vendo a lambança, ofereceu sua “Toga” como socorro dos aflitos. Cego com o terror, ele confessa: “Cara, caguei, caralho!”. Um silêncio bostal tomou conta, a cara de bunda suja parecia denunciar o caos, pois tinham hora marcada na policia. O advogado, acostumado com o hilário dos tribunais, não se conteve, caiu na gargalhada, o que provocou a ira do seu cliente cagão. Tentando mostrar empatia, o defensor diz que estava tudo sob controle, que merda por merda, ele teria que explicar as merdas que fez. Decidiram, com o cagão togado, irem visitar o delegado. “Que se dane, já estou sujo mesmo, pior que tá não fica”, resmungou Broxonaro. Mas ainda não tinha acabado o calvário do infeliz, no carro, com um flanela na bunda, o bucho sentiu as dores pós parto, veio um peido tipo bufa, aquele de pregas relaxadas, que não deu tempo de segurar, afinal de contas, aquilo era um traque para quem já estava todo cagado. Na delegacia, um oficial quis, por dever de ofício, saber o que havia acontecido, e com toda a fineza, o advogado explicou que seu cliente havia gerado tanta merda, num parto de emergência, e que por um acidente, não conseguiram chegar à maternidade. Foram para a sala de audiência, mas o merda fedia tanto, que o delegado, sentindo o incômodo, decidiu fazer o depoimento por vídeo conferência, mandou levar um notebook para o banheiro, óbvio, acompanhado do cagão, lá seria feito os procedimentos. Revoltado, Bozo tentou adiar, alegando “IMUNDIDADE", mas o delegado achou por bem acabar com toda aquela cagada. Ele ainda afirmou que só queria acabar com aquele dia de merda.