TIRO NO PÉ

 

Ao comparar as operações de guerra realizadas por Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto perpetrado pelos nazistas contra os judeus na Segunda Guerra Mundial, Lula cometeu um erro político e histórico de consequências catastróficas. Pois esse é um tema tão sensível, não só para o espírito do povo judeu, mas também para o resto da humanidade, que espera nunca mais passar por experiência semelhante.

Ninguém pode negar que a reação ao covarde ataque que os terroristas palestinos cometeram contra Israel é exagerada, na medida em que mata, indiscriminadamente, pessoas que nada tem a ver com o terrorismo do Hamas. Principalmente mulheres e crianças indefesas, que acabam sucumbindo sob o peso das bombas que estão destruindo as cidades palestinas. Elas nada tem a ver com as mazelas que seus líderes psicopatas perpetram em nome de suas ideologias doentias e odiosas.

É possível até acusar o governo israelense de estar cometendo crimes de guerra em razão da virulência com que o exército de Israel está agindo em Gaza. Mas comparar essas operações com o Holocausto é, no mínimo, uma declaração de ignorância e despreparo que um chefe de nação não pode cometer, sob pena de colocar todo o seu povo sob o crivo de uma indignação mundial que pode lhe trazer terríveis consequências.

O Holocausto foi uma página negra da História da humanidade onde um bando de loucos e perversos se julgaram no direito de exterminar um povo inteiro, que nas suas doentias concepções, não tinha o direito de existir. A violência com que Israel está agindo em Gaza é diferente, pois se trata de uma reação provocada no decorrer de uma luta milenar, cuja causa já se perdeu nas brumas da História, mas ainda remanesce como tradição profundamente impregnada no inconsciente de dois povos inimigos que disputam o mesmo território e veem, um no outro, um perigo para suas próprias existências.

Ao tocar num tema tão sensível para o povo de Israel, bem como para todos quantos não esqueceram as atrocidades nazistas, Lula deu um tiro no próprio pé. Além de dar uma prova de ignorância histórica e descortesia diplomática, manchou, indelevelmente a sua imagem junto à opinião pública internacional, levando junto com ele o povo brasileiro, que certamente não será poupado desse desconforto que ora atinge a diplomacia brasileira.

A clássica teimosia petista em não reconhecer seus erros já levou o partido à derrota mais de uma vez. Ao cometer esse crasso erro histórico, Lula está fornecendo aos seus adversários uma ótima trincheira, a partir da qual seus oponentes irão fustigá-lo com um fogo cerrado que causará ao partido muitas baixas.

A ignorância de uma pessoa comum pode ser perdoada. Ninguém é obrigado a ser versado em História e entender de diplomacia e política de Estado. Mas quando ela vem do chefe de uma nação, o preço a pagar é sempre mais alto do que o valor do prejuízo que ele causa.