Levar vantagem em tudo
Levar vantagem em tudo
Publicado no Blog Diário do Poder, Brasília, em 10/02/24
A expressão “levar vantagem em tudo” expõe as causas maiores da crise global: o individualismo e a ausência de valores morais presidindo o viver quotidiano. É um estilo de pensar e de viver que foi se impondo ao longo do século XX e início do sec. XXI. Uma maneira de pensar e de viver que julga normal esses comportamentos “democráticos” e “totalmente livres”, como sendo uma grande conquista da Humanidade.
O “levar vantagem em tudo” passou a ser uma regra da modernidade: as pessoas competem e só as mais competentes e espertas conseguem rendimentos estáveis, capazes de possibilitar o acesso aos bens e serviços desenvolvidos pela genialidade humana. A Solidariedade e a Compaixão vão se tornando palavras sem sentido, pois não correspondem a nada de concreto na vida desse grupo privilegiado. Os miseráveis são um estorvo, no mundo dominado pelos mais bem formados intelectualmente, aqueles que operam a extraordinária tecnologia presente em tudo. Sem estas duas virtudes, Solidariedade e Compaixão, que foram os alicerces da cultura Ocidental e dos seus sistemas sociopolíticos e jurídicos, pouco pode ser feito para uma mais justa redistribuição da renda e da eliminação da miséria.
A pessoa é um ser social que somente convivendo com os demais realiza sua natureza racional e livre. O indispensável viver coletivo, para que seja justo, precisa ser organizado em torno de Leis alicerçadas na ética. No Ocidente a reflexão ética foi, principalmente, transmitida pelas pregações das Igrejas Cristãs Históricas que, hoje, quase desapareceram como atores proeminentes na construção da história.
Com o passar dos séculos a natureza das pessoas pendeu para o “mal”, no sentido do progressivo favorecimento de grupos de pessoas, ambiciosas e egoístas, que, afastadas das reflexões sobre a ética social, foram se apoderando do poder político e da economia, formando a classe social dominante. Os referenciais da convivência ética são desconhecidos e não fazem falta para o funcionamento das atuais sociedades.
A Democracia não conseguiu resolver a questão da miséria e da desigualdade de renda: o “todos querem levar vantagem em tudo” é um comportamento consolidado. Sem a volta da crença na Solidariedade, presidindo a organização e funcionamento das sociedades, nenhuma proposta de resolução justa da crise social global prosperará.
Eurico de Andrade Neves Borba, 83, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, é do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, mora em Ana Rech, Caxias do Sul. eanbrs@uol.com.br