A PRAGA DO MESSIANISMO

 

Se há uma praga da qual a América Latina não consegue se livrar é a dos “ismos”. Varguismo, Peronismo, Bolivarianismo, Bolsonarismo, Petismo, são morfemas que, em política, são usados para designar uma determinada ideologia defendida por uma pessoa ou grupo em particular. Sua origem é um conceito milenar desenvolvido pelo povo de Israel, conhecido como messianismo.

O messianismo expressa a esperança de um povo oprimido de que, um dia, a providência divina mande alguém para livrá-lo da opressão e conduzi-lo à liberdade e à prosperidade. Toda a história de Israel está impregnada dessa esperança, a qual, pela influência que a Biblia exerce sobre os povos que adotaram as religiões derivadas do judaísmo, alojou-se no inconsciente coletivo dos povos ocidentais.

Messianismo é um conceito que não se aplica apenas no plano espiritual. Mais que o espiritual, ele se tornou um conceito político de profundas implicações. Principalmente nas nações menos desenvolvidas, a esperança da vinda de um “Messias” é um desejo profundamente instalado no subconsciente desses povos.

Nas nações que alcançaram maior nível de desenvolvimento esse conceito também existe, mas tem pouca influência no espírito do povo. Essas nações produzem grandes líderes e políticos influentes, mas não “Messias” salvadores. Salvo na Alemanha, com a experiência nazista, não há grandes exemplos dessa submissão psicológica em nações como a Inglaterra e os Estados Unidos, por exemplo. Na Inglaterra não se desenvolveram um “Churcismo”, “Elizabetismo”, “Stuartismo”, “ Cromuellismo” etc, só para citar as mais proeminentes lideranças que fizeram a história inglesa. Nem na América do Norte se fala em “Washingtonismo” ”Linconlnismo”, “Rooseveltismo” “Obanismo” etc.

Pelo menos até agora. Talvez o megalomaníaco Donald Trump consiga quebrar esse padrão, incutindo na cabeça dos seus simpatizantes um “Trumpismo” radicalizado que poderá abalar a democracia americana.

Voltando à América Latina, esse é nosso grande problema. Não conseguimos nos livrar desse estigma de povo pobre, servil e incompetente para resolver seus próprios problemas e vivemos sonhando com “Messias” que tenham fórmulas milagrosas para fazê-lo. Depositamos nossas esperanças em nomes ao invés de instituições. E ao fazê-lo não nos damos conta de que os “Messias” que surgem são apenas reflexos das nossas próprias incompetências em achar, por nós mesmos, os nossos caminhos. “Messias” liberais ou esquerdistas são farinhas do mesmo saco de grãos podres que as safras produzidas pela nossa educação servil e conformista produz. No Brasil temos o Lulopetismo, que nada mais é do que uma derivação esquerdopata das ideias varguistas que dominaram a política brasileira na primeira metade do século passado. Bolsonaro não fica atrás. É um reflexo piorado dos generais da ditadura militar. Até seu nome denuncia sua associação com o conceito messiânico. Na Argentina Milei, o novo “Messias” da direita argentina tenta fazer com que nossos vizinhos esqueçam o “Messias” Juan Perón e a santa da sua devoção, Evita Perón. E assim caminha a nossa pobre América Latina. De Messias em Messias para mais cem anos de solidão, como dizia Gabriel Garcia Marques.