QUANTO VALE A VALE?
A participação do governo na Companhia Vale Rio Doce (CVRD) - de sua fundação, em 1942, até a privatização, em maio/1997 - era superior a 50% do todo de suas ações nominativas. O governo tinha direito majoritário de comando e usufruía grande fatia na distribuição dos lucros (dividendos).
Quando ocorreu a privatização, o valor global da CVRD ficou estimado em R$12,5 bilhões, incluídas inúmeras reservas ainda hoje não precificadas.
Valor da privatização (em 05/97): R$ 3,3 bilhões (ou seja: 1/4 do valor estimado).
Para efeito comparativo, no mesmo ano (1997) a Companhia de Eletricidade de Pernambuco foi privatizada por R$ 3 bilhões. Patrimônios que nem se deviam comparar, de tão distanciados um do outro. O governo de Pernambuco aplicou quase todo o montante recebido na duplicação dos 138 km da BR-232 (Recife-Caruaru), conhecida por Rodovia Luiz Gonzaga.
Tendo por base essa comparação esdrúxula, é o mesmo que dizer que a Vale Rio Doce, em 1997, valia tanto quanto a duplicação de um pedaço de rodovia em Pernambuco...
Até 2018, a participação do governo brasileiro na "Vale S.A." (título que substituíu o de "Companhia Vale Rio Doce" lá pelos idos de 2007) era de 26,5%.
De 2019 até 2022, sob a batuta do ministro da economia, Paulo Guedes, essa participação caíu fragorosamente para 8,7%. Fragorosamente, sim! Houve muito barulho para isso não acontecer, mas aconteceu.
Por conta do valor ínfimo da negociação, essa privatização (em 1997) significou o fim da participação estatal, não só na Vale S.A., mas sobre toda a mineração do país. Significou também uma interrupção nas destinações sociais da companhia.
As ações da Vale S.A., com a privatização da CVRD, ficaram assim distribuídas:
- LITEL (fundos de pensões das estatais: PREVI, PETROS e FUNCEF) = 41,77%
- BRADESPAR (Grupo Bradesco), financiador da CSN = 17,40%
- CSN (Cia. Siderúrgica Nacional, de Benjamin Steinbruch) = 16,30%
- MITSUI (multinacional com sede nos EUA) = 15,00%
- BNDESPAR (Carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) = 9,50%
- Grupo Elétron (do grupo Oportunity) = 0,03%.
Total das ações nominativas = 100,00%.
Mudanças/desfazimentos no período 2019/2022 sob a batuta do ministro da economia Paulo Guedes:
- Petros e Funcef negociaram suas ações e o grupo LITEL se desfez, restando a PREVI (fundo de pensões dos funcionários do Banco do Brasil) com 8,7% do capital da Vale S.A., única e ínfima participação estatal indireta na empresa;
- O BNDESPAR, em 09/11/2020, se desfizera de todas as suas ações, zerando por completo sua participação (ou participação do governo) no capital da Vale S.A.
Por força do contrato de privatização, o governo ainda pode atuar, indiretamente e de forma restrita, com apenas 12 ações do tipo Golden Shores (que não rendem dividendos). No caso, pode eleger e/ou destituir membros do Conselho Fiscal (são doze conselheiros, ao todo). Pode também vetar decisões da empresa como, por exemplo, venda ou encerramento de atividades em jazidas, portos e ferrovias. Só...
Por que o governo atual escolheria Guido Mântega para o comando da empresa, se pudesse fazê-lo?
Evidentemente, por ter a certeza de que Mântega faria a empresa voltar-se para o social, como no tempo da CVRD. Basta ver o caso de Brumadinho, que há cinco anos deve assistência mais humana aos parentes das vítimas do rompimento da barragem. Propiciaria, num prazo mais curto, a limpeza definitiva do leito dos rios atingidos pelos detritos e reconstruiria os imóveis destruídos. Isso seria cuidar do social, mas as grandes empresas privadas somente se voltam para o social depois de priorizar o lucro dos seus acionistas.
Tirante a abordagem política necessária de ser relembrada, peço ao distinto leitor que sopese a diferença entre uma companhia de eletricidade - restrita a um estado - e a pujança de uma empresa que detém todo o minério de ferro do país. Ambas negociadas praticamente pelo mesmo preço irrisório.
A "Vale" bem que valia mais, muito mais...
Nós, os brasileiros, é que perdemos uma das maiores mineradoras de ferro do mundo.
Como consertar?
(fernandoafreire.net)
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P.S.:
A imprensa acusa Guido Mântega de ter sido o causador da derrocada econômica do governo Dilma. Esquece ou nega que ele substituiu Palocci no ministério da fazenda e ali permanece por oito anos. Foi responsável pelo bom desempenho e reconhecimento popular do segundo governo Lula e do primeiro governo Dilma. Em nenhum momento a imprensa menciona que o segundo governo Dilma (ela não era petista) teve como ministro da fazendo Joaquim Levy, considerado de direita, de 01/01/2015 a 18/12/2015. Por sinal, muito criticado pelos próprios petistas, os mais radicais, pelo fato de Levy ter sido içado do grupo Bradesco.
A imprensa não cita também que, no seu segundo mandato, Dilma encarou as terríveis pautas bombas, aprovadas pela Câmara Federal, presidida por Eduardo Cunha, já com o propósito de derrubá-la. Esse, sim, o estopim da derrocada que culminou com o impeachment.
Pedaladas?
O processo foi arquivado, permitindo a liberdade de Guido Mântega. É bom lembrar que, dois dias depois de assumir o poder, Michel Temer praticou esse mesmo "crime" contábil, descaradamente.
O outro governo que se lhe seguiu também as praticou inúmeras vezes. As verbas orçadas para a educação, e desviadas para cobrir outras prioridades, não me deixam mentir. Nenhum foi condenado.
Que assim não seja!...
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