VOLTANDO A ANDAR PARA FRENTE

Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil terá crescimento do PIB em torno de 3%. Em ambos anos, o agronegócio teve desempenho positivo, com boas safras e aumento da exportação, vem sendo um fator comum e importante. A indústria segue andando de lado, quando cresce é pouco, os serviços também tiveram crescimento. São números expressivos e bastante positivos, conseguidos de formas diferentes, entretanto, com um fator excepcional em comum: aumentou a renda das pessoas e este crescimento levou a economia como um todo.

 

Em 2022, o principal fator para a renda das pessoas foi o auxílio emergencial. Não importa que foi concedido com finalidade eleitoral praticamente sem contrapartida e turbinado por auxílios a categorias como taxistas e caminhoneiros, o relevante é que recursos chegaram para a maioria das pessoas. Em 2023, houve a volta do Bolsa Família, o primeiro aumento do salário mínimo em muitos anos e o aumento da isenção do Imposto de Renda das pessoas físicas (IRPF) para R$ 2.620. Aumentar a renda das pessoas num país onde 80% das pessoas são assalariados, informais ou microempresários com ganhos abaixo de R$ 2.000 produz um efeito muito grande na economia.

 

Houve outras boas notícias em 2023. A principal é a histórica aprovação da Reforma Tributária, após mais de 20 anos de tentativas, houve acordo para mudar o sistema para uma forma que traz como principal vantagem a maior simplicidade para os tributados cumprirem suas obrigações e para os governos arrecadarem. É uma reforma feita para os empresários, que traz poucos benefícios para os trabalhadores, com exceção do sistema de cashback, pelo qual parte dos impostos pagos por pessoas de baixa renda poderão ser devolvidos em dinheiro.

 

Entretanto, o importante é que foi obtida por negociação entre vários grupos no Congresso, não imposta por um governo militar como a última, e que está sendo revista a distribuição de renda, que é o maior problema do Brasil. Temos uma população de algo como 210 milhões, porém, apenas 5% de milionários e uns 15% de classe média, uns 42 milhões de brasileiros no total consomem bens de maior valor, os que geram riqueza para a economia. Se conseguíssemos ter ao menos 50% da população entre classe média e ricos, seríamos um mercado consumidor interno de 100 milhões de consumidores, maior do que o de qualquer país europeu.

 

A Reforma atual muda a distribuição de renda, que é o caminho para o desenvolvimento. Falta mexer no principal, no ganho das pessoas, a reforma do Imposto de Renda Pessoa Física. Pena que parte de nossa elite prefira que tudo fique inalterado neste, sem ver que um mercado de 100 milhões de pessoas os faria muito mais ricos do que um de 42 milhões. No entanto, a falta de conhecimento e mitos criados por ideias ultrapassadas propagadas intencionalmente para evitar mudanças fazem com que as pessoas achem que isso é ideia de comunista, e não de quem quer um país mais desenvolvido, com um mercado interno maior e menos dependente de exportações de bens agrícolas.

 

Outras boas notícias foram as reduções do desmatamento na Amazônia, do desemprego, da inflação, dos juros e do câmbio. Na política, o poder está mais dividido do que nunca entre Executivo, Legislativo e Judiciário, o que é bom, pois ninguém consegue impor tudo que quer, e acabaram-se os confrontos diários que o próprio governo criava. Claro que há problemas, a imensa desigualdade, a violência, as mortes no trânsito, a pobreza, a falta de investimentos, a corrupção e o lento progresso da educação, todavia, houve melhoras por dois anos seguidos, o que é de se comemorar.

 

Não lembro de muitos momentos na história recente com dois anos de crescimento acima de 2% seguidos, algo muito difícil num país ainda polarizado e dividido. Se conseguirmos manter isso por mais um, a sensação de melhora será muito grande. É inédito ao menos na última década, e voltar a andar para frente é sim algo a festejar nesse fim de ano.

 

Que possamos conversar mais e continuar crescendo, para que seja de verdade um Ótimo Ano Novo !

 

 

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 22/12/2023
Reeditado em 28/12/2023
Código do texto: T7959818
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