NATAL SANGRENTO
NATAL SANGRENTO
VALÉRIA GUERRA REITER
“No próximo domingo, dia 17 de dezembro, a Praça Oswaldo Cruz será palco de mais uma atividade em defesa do povo palestino. O local, situado no centro de São Paulo, já serviu para a concentração de dois atos contra o genocídio sionista na Faixa de Gaza. Desta vez, reunirá os militantes da esquerda, ativistas da causa palestina e todos aqueles que queiram demonstrar o seu repúdio aos bombardeios israelenses, que já deixaram mais de sete mil crianças mortas”.
A conclamação acima se transformou em fato. E o Partido da Causa Operária funcionou como peça elementar para a tonificação dos cérebros adormecidos por narrativas ultraliberais, que querem camuflar verdades.
Vamos ler e reler o trecho abaixo postado, com bastante atenção; e posterior reflexão. Urge que se faça este exercício, que encontra terreno fértil para ser realizado às vésperas do episódio natalino.
Afinal quem somos nós? apenas um amontoado de células, de trilhões de células, que estão sempre em mitose e meiose. Quando estas unidades morfofisiológicas se desorganizam o holos se esvai. Assim também ocorreu com Jesus de Nazaré, o humano. E segundo as escrituras sagradas, não ocorreu com Jesus de Nazaré, o Deus.
Onde nasceu Jesus de Nazaré?
“A origem do cristianismo está intimamente ligada à Palestina. Nascido em Belém, criado em Nazaré e morto em Jerusalém, Jesus Cristo passou a vida pregando os seus ensinamentos na região. Os vestígios de sua presença estão por todo o território palestino – e na fé de uma minoria local estrangulada pelas ocupações militares de Israel.”
“Como ficaríamos se não existisse o termo/ato da RESISTÊNCIA no mundo? Será que já não estaríamos extintos? Vamos começar pelo valor etimológico do termo: continuar a existir. Pois é, como os escravos negros em nosso país poderiam continuar a existir caso não tivessem fundado os quilombos… será que o massacre na Ditadura nacional de 1964, não poderia ter sido muito mais estupendo, em sua volúpia de opressão, se não fosse o oxigênio da resistência ressurgido no tecido social contaminado?
A sanha capitalista é torpe e não mede esforços em prosperar, não há um cessar-fogo, em se tratando de imperialismo, lembrem de Hiroshima e Nagasaki”. E o mundo passa a conhecer melhor a respeito de um reduto chamado Faixa de Gaza, onde agora há um conflito, que se estabeleceu como tal (aterrorizante) desde o dia 07 de outubro de 2023.
A marcha contra o genocídio que neste espaço geográfico ocorre de forma sangrenta deveria nos atemorizar, no entanto, as luzes do Natal Comercial já foram acesas, e as vendas vão muito bem sim senhor!
A declaração do editor do Brasil do 247, o jornalista Leonardo Attuch, também demonstra muito bem, de que lado está a Imprensa fidedigna no Brasil, leiamos o trecho, em seu X: “A causa palestina se converteu na grande causa da civilização e da humanidade neste século 21”.
Me sinto muito à vontade para publicar aqui no espaço abaixo um conto meu premiado pela Perse Editora, em Concurso aberto, e por outra editora também: “A pequena vendedora de Isqueiros”, com objetivo de sensibilização a todos aqueles que estarão no dia 24 e 25 de dezembro comendo e bebendo em homenagem ao Rei dos Reis, aquele que fora crucificado, do ponto de vista religioso, por todos nós: humanidade.
O SILÊNCIO DA IGUALDADE
A PEQUENA VENDEDORA DE ISQUEIR
Tudo começou na véspera de Natal. Havia uma menina de olhos tristes, pele enrugada pelo sol, que vendia isqueiros para sustentar seus irmãos mais novos; sua mãe era catadora de lixo, e seu pai, um alcóolatra, porém a pequena Carolina não tinha medo da vida. No dia vinte e quatro de dezembro, ela sabia que sua barriga iria roncar mais do que nunca, já que nesta data, as mais variadas guloseimas iriam fazer parte da mesa de muitos abastados, e que ela e sua família não passavam de maltrapilhos desvanecidos. Carolina saiu de casa bem cedo, ou melhor, de madrugada, pegou carona no trem, e foi embora anunciando seu produto: isqueiros. Quase ninguém comprava, e quem o fazia, demonstrava (apenas) pena. Ou, às vezes; revolta, por ver uma criança, de apenas oito anos, solta pela cidade a vender. E diziam: - Malvestida, desgrenhada, e tão pequena. Como pode? Onde vamos parar...
Outros ficavam apenas silentes diante do quadro terrível. Calavam diante da desigualdade translúcida...
A criança destemida, desceu na Central do Brasil e dali pegou carona em um trem do metrô, rumo ao centro da cidade do Rio de Janeiro, iria tentar vender os cinquenta isqueiros que sobraram, já havia vendido cinco, porém isso era pouco. Caiu em campo de batalha, andando apressada por entre os transeuntes alucinados pela ânsia mercadológica de comprar, comprar e comprar.... Uma mulher alta, forte e bem-vestida, esbarrou na garota, e impacientando-se proferiu dois palavrões, depois seguiu seu farto destino: uma loja de queijos e vinhos.
A pequena vendedora, levantou-se do chão, catou todos os seus isqueiros, e continuou sua trajetória...
Entrou em uma lanchonete conhecida por seus sanduíches, que muitos dizem serem confeccionados com minhocas, e ofereceu sua mercadoria a um homem de óculos, muito apressado que carregava dois refrigerantes e dois sorvetes, ele se mostrou indignado com a presença da garotinha e queixou-se ao gerente dizendo ser um absurdo ele cansado e faminto, depois de enfrentar um péssimo e caudaloso atendimento: ser forçado a fazer caridade. O gerente que era um homem “cristão”, explicou que por ser natal, ele não se sentiria nada bem, em expulsar aquela criancinha tão carente dali.
A menina estava em pé, próxima a um casal que a fitava curioso…a mulher indagou o valor de cada isqueiro, e a menina respondeu animada: “UM REAL”; imediatamente a mulher abriu a bolsa e comprou tudo. Entregou uma nota de cinquenta reais à sortuda criança, que abriu um largo sorriso, e exclamou:- agora já posso comprar pães de rabanada, ovos, leite e fósforos para acender o fogão à lenha da mamãe para termos uma bela ceia ao lado do Senhor Jesus, no dia do seu aniversário, na noite de Natal.
Este homem que perdoou prostitutas e bandidos pregou amor, paz e união, corroborou com os dez mandamentos, incluindo o sexto: ‘NÃO MATARÁS. Será que vale a pena comer bacalhau, peru, ou beber vinho ao som musical de NOITE FELIZ, sabendo que neste momento, talvez, mais oito mil crianças palestinas estão perecendo explodidas; ou equivalentemente, enquanto várias crianças brasileiras não possuem o que comer, pois o salário-mínimo é uma afronta indigna à sobrevivência neste país desigual.
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