"Intrigas políticas: os bastidores das eleições de 2002 na Paraíba"

As eleições de 2002 para o Governo do Estado da Paraíba foram um episódio singular, marcado por elementos que transcendem os limites do razoável, com a legislação eleitoral claramente desrespeitada pela coligação “Pra Frente Paraíba”, apesar dos esforços do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.

O então governador e candidato à reeleição fez uso explícito e constrangedor do aparelho administrativo, valendo-se de diversos meios questionáveis, como a instrumentalização de hospitais regionais para sua campanha. Parte da imprensa paraibana e sousense atuou de maneira parcial, levantando sérias suspeitas de vinculação com a máquina estatal. Além disso, destacam-se os gastos excessivos de campanha da coligação do governador, tanto para os candidatos a deputado estadual, federal e senado, quanto para a sua própria campanha.

A adesão repentina e inexplicável de prefeitos do interior do estado ao esquema do governo, assim como do candidato ao senado derrotado da coligação adversária, ocorreu entre o primeiro e o segundo turno, configurando-se como um dos fatos mais obscuros do processo. O Sistema Correio de Comunicação – rádio, jornal e TV – desempenhou um papel de relevância como cabo eleitoral do governador, superando em eficiência e importância o seu programa eleitoral gratuito. Publicações suspeitas e parcialidade marcaram as ações do Sistema Correio nos dias anteriores ao segundo turno, influenciando a percepção pública da eleição. A recusa em divulgar a pesquisa mais recente do IBOPE, que apontava a derrota do governador, em favor de outra pesquisa que indicava a vitória da chapa governista com mais de duzentos mil votos de maioria, foi mais um fatídico episódio que suscitou questionamentos.

O governador/candidato chegou a afirmar publicamente que teve sua campanha prejudicada pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba ao fechar o Sistema Correio, devido ao descumprimento da legislação eleitoral. Com tal pronunciamento, o governador, de maneira ingênua e desatenta, admite claramente a importância da atuação do Sistema Correio em sua campanha eleitoral.

Apesar do uso da máquina administrativa e de métodos duvidosos, nitidamente percebidos pela população paraibana, o governador foi derrotado com uma diferença de quase cinquenta mil votos, evidenciando sua limitação administrativa e política junto ao eleitorado estadual.

Em uma demonstração de falta de humildade para reconhecer a derrota, o governador protocolou um processo judicial no TRE-PB, alegando supostas irregularidades que deixaram o processo eleitoral viciado, atribuindo ao candidato opositor responsabilidades que eram exclusivamente suas. Contudo, o governador negligenciou o fato de que seu opositor não ocupava cargo ou função pública, tendo sido desincompatibilizado de seu última cargo – Prefeito de Campina Grande – em abril de 2002, aprovado em conformidade com a legislação vigente.

Deste modo, é de amplo conhecimento que o próprio governador foi o protagonista desses acontecimentos. Tal tentativa de transferência de responsabilidades, em termos mais técnicos, configura-se como uma atitude de notória desfaçatez e que não deve prosperar no TRE-PB.

Sousa-PB, 12 de novembro de 2002.

Josemar Alves Soares

Josemar Alves
Enviado por Josemar Alves em 22/11/2023
Reeditado em 23/11/2023
Código do texto: T7937496
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