O  ANARCOCAPITALISMO DE JAVIER MILEI

 

Javier Milei, o presidente eleito da Argentina, resume em poucas palavras seu pensamento econômico: “o Estado é o principal inimigo do desenvolvimento do país.”

Por isso ele promete cortar gastos públicos, desregular a economia, privatizar estatais, fechar o Banco Central, dolarizar a economia, mudar a legislação trabalhista, enfim, desmantelar todos os atuais fundamentos do sistema econômico argentino.

Os principais analistas econômicos identificam as ideias econômicas de Milei com as teorias defendidas pela Escola Austríaca, uma corrente de pensamento fundada pelo economista austro-húngaro Carl Menger no final do século 19. Os adeptos dessa doutrina acreditam que só a liberdade individual pode prover base segura para o progresso econômico. Isso significa eliminar o Estado das principais decisões econômicas, deixando por conta dos indivíduos a condução desse processo.

Esse tipo de pensamento econômico andou esquecido durante muito tempo, mas voltou a atrair a atenção dos economistas na década de 1970, após Friedrich Hayek, um adepto dessas teorias, receber o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1974.

O sucesso dessas teorias está principalmente na rejeição às teorias econômicas marxistas, keynesianas, monetaristas e neoclássicas, que dominaram o pensamento econômico durante todo o século vinte. Um dos principais arautos dessas ideias é o economista americano Murray Rothbard, a quem se atribui a criação do termo anarcocapitalismo,  termo que agrega as principais ideias do liberalismo extremado dos adeptos da Escola Austríaca. Ele propugna pela completa abolição da participação do Estado na economia. em prol da soberania individual, concedendo ao indivíduo liberdade total por meio da propriedade privada e do livre mercado. Segundo Rothbard,"O verdadeiro anarquismo será o capitalismo, e o verdadeiro capitalismo será o anarquismo". 

Em um ensaio escrito em fins dos anos setenta, Rothbard desenvolveu uma estratégia para fazer suas ideias vencerem politicamente através do "Populismo de direita” onde ele aconselha o uso do populismo com o objetivo estratégico de expandir as ideias libertárias. Nesse ensaio ele agrega a religião (centrada nos evangélicos conservadores) para dar às suas ideias um respaldo religioso capaz de  sustentar os valores conservadores que eles defendem.

Não é sem razão que o chamado paleolibertarismo e sua estratégia populista de direita tem sido identificados na política desenvolvida por Donald Trump, Jair Bolsonaro, Georgia Meloni, e agora Javier Milei, cada um com seu próprio estilo.

Resta saber se Milei conseguirá implantar suas ideias em um país onde toda a economia gira em torno do Estado. Tudo, na Argentina está atrelado à uma atividade estatal. Esse modelo, que se cristalizou durante o governo de Juan Domingo Perón, nem os militares, com a força das armas, conseguiram modificar. Na verdade, ainda mais o agravou.

A distância entre o que se diz nos palanques e o que se pode fazer depois de sentado no trono do poder é muito grande e geralmente os populistas que adotam tais discursos acabam morrendo no meio do caminho. Se Milei vai ser mais um deles, só tempo dirá.