O IMPÉRIO DA “ODIOLOGIA”
A melhor fórmula para promover conflitos e separar pessoas é a chamada ideologia. Principalmente quando ela é centrada em crenças políticas ou religiosas, que geralmente tem como base a ambição, o desejo de supremacia e uma arraigada ideia de que a nossa sobrevivência depende da supressão de um possível adversário.
Não tem coisa melhor para criar escotomas em nossas mentes do que a ideologia. Escotoma é um tumor psíquico que nos torna cegos e surdos a qualquer argumento ou razão que venha dos nossos adversários. Ele é infenso a todo processo civilizatório. E ao que parece, são exatamente os povos mais civilizados que tendem a desenvolver esses tumores psicológicos com mais frequência. É o tumor que podemos chamar de “odiologia”.
Os alemães, por exemplo, o povo mais culto da Europa no início do século passado, levou ao máximo a prática da “odiologia” contra os povos que eles julgavam perigosos para a sua sobrevivência. E esse tumor os levou a desenvolver a mais eficiente máquina de extermínio que se tem notícia na História.
No campo das relações humanas, as reações são consequentes. Ódio gera ódio, da mesma forma que o amor gera o amor. Os judeus, povo que mais sofreu com as atrocidades nazistas está mostrando a mesma impiedade contra os seus desafetos palestinos, massacrando indiscriminadamente uma população inteira em nome de um direito de defesa que se confunde com a mesma “odiologia” que quase os levou ao extermínio.
É mais fácil odiar do que amar. É mais fácil separar do que unir. É mais fácil suprimir do que integrar. Política e religião são irmãs siamesas. Nascem juntas, ligadas e alimentadas pelo mesmo cordão umbilical. Só a golpes de cutelo podem ser separadas, mas ainda assim continuam sendo alimentadas pelo mesmo leite materno. No Oriente Médio nasceram as principais religiões do mundo. Todas tiveram a mesma origem, mas a luta pelos escassos recursos naturais de uma terra esturricada os separou em diferentes ideologias e crenças. Delas nasceu a “odiologia” que vive cobrindo-a de sangue desde as mais remotas eras.
O conflito entre Israel e os palestinos é milenar. Ele já está registrado na Bíblia com todas as suas tintas. Quem só vê nela um testamento de Deus para ser cumprido pelos homens também sofre de escotoma mental. A Bíblia, segundo a maioria dos historiadores positivistas, é um processo inteligentemente montado pelos rabinos israelenses para dar suporte a uma narrativa: a de que Israel é uma nação abençoada por Deus e tem direito de posse sobre as terras palestinas. Com o que não concordam seus vizinhos.
Não nos cabe julgar quem tem razão. Mas o que acontece no Oriente Médio deveria servir de lição para nós. Não deixemos que as nossas ideologias se transformem em “odiologia”. O universo é um organismo em eterna expansão. Tem lugar para todos. Não precisamos suprimir os outros para garantir o nosso.