A MARCA DE CAIN E A GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

“Cain disse ao seu irmão Abel: saiamos fora. E quando estavam no campo, investiu Cain contra seu irmão Abel e o matou. “ Gênesis, 4; 5,6


Aconteceu que a terra foi separada do céu
E entre os homens também ocorreu assim;
Daí o pastoreio foi entregue ao irmão Abel,
A agricultura para o irmão chamado Cain,

Mas como tudo é construído por parelhas,
Eles deviam, um ao outro, complementar.
Abel, jovem pastor, resolveu criar ovelhas,
E a Cain, coube a missão de a terra arar.

E desde os dias mais antigos sobre a terra,
Essa disputa insana nunca mais se acabou.
Agricultura com o pastoreio não combina.

Foi por isso que os irmãos foram à guerra,

Nessa luta, Cain ao seu irmão Abel matou.
A carnificina, nessa terra, jamais termina.
 

A história de Cain e Abel é uma metáfora da forma de ocupação das terras palestinas e da luta entre os povos que promoveram essa ocupação. Israel, povo pastor (simbolizado por Abel) sempre esteve em constante conflito com seus vizinhos palestinos (aqui simbolizados por Cain), praticantes da agricultura. Cabe lembrar que os povos palestinos, na Bíblia conhecidos como arameus, filisteus, amonitas, moabitas etc. já habitavam a Palestina muito antes dos hebreus (antecessores dos judeus) ali se estabelecerem. O livro de Josué é uma crônica que relata como os israelitas conquistaram o território do antigo reino de Israel, e as crônicas dos reis Saul, Davi, Salomão e demais monarcas de Israel conta como eles agiram para conservar e ampliar esses territórios. Os povos palestinos, quando não foram dizimados pelos exércitos de Israel, eram empurrados para terras inóspitas e improdutivas para a agricultura, que era a sua principal ocupação econômica. Por isso os conflitos nunca deixaram de ocorrer na Palestina. Mesmo nas épocas que o povo de Israel esteve exilado, como durante as conquistas assírias e caldeias, em que os israelitas foram dispersos pelos assírios, ou levado como escravos para a Babilônia, esse conflito nunca deixou de existir, pois os israelitas remanescentes na Palestina jamais deixaram de lutar para conservar suas conquistas e os palestinos nunca renunciaram ao seu desejo de expulsá-los, como se infere das Crônicas do Esdras.

O conflito entre os criadores de animais e agricultores é recorrente. Ele sempre existiu em praticamente todos os países, onde pecuaristas e agricultores lutam pela posse da terra. No Brasil esse conflito se reflete atualmente no problema dos "sem terra", ou seja, colonos que buscam terras para plantar, mas sempre esbarram em grandes fazendas, principalmente de criação de gado, ocupadas por poderosos pecuaristas.

É evidente que o conflito do Oriente Médio hoje incorpora muitas outras questões históricas, sociológicas e econômicas. Tornou-se uma questão de interesse mundial face à importância geopolítica que o Oriente Médio assumiu para o interesse das grandes potências. Uma delas é a grande reserva de petróleo que existe na região e que interessa, principalmente, as nações mais desenvolvidas, como Estados Unidos, China e o bloco europeu. A polarização política, simbolizada pelo conflito entre a direita e esquerda, que o mundo assumiu depois da segunda guerra mundial, no Oriente Médio está centrada em Israel (uma espécie de cabeça de ponte do Ocidente na região) e nos países muçulmanos de governo fundamentalista (como Irã, Iraque, Afeganistão etc), que são apoiados pelo bloco composto pela China, Rússia e outros países que resistem à  hegemonia do Ocidente.

A suposta marca que Deus teria colocado no rosto de  Cain, nesse sentido, seria uma advertência aos próprios israelenses. Cain é um assassino. Ele cometeu um crime contra Israel, mas qualquer vingança que Israel queira tomar contra ele implicará em mais mortes e guerras. Por isso está escrito em Gênesis 4:15: “O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que ninguém o ferisse ...”   

Pelo visto, nem Israel (Abel) nem Cain (os palestinos) entenderam a metáfora bíblica dos dois primeiros filhos de Adão. E o resto do mundo também. E continuam se matando até hoje.