AVENTURAS SURREALISTAS

 

No dia 8 de janeiro de 2023 as sedes dos três poderes em Brasília foram depredadas por uma multidão de bolsonaristas inconformados com a derrota do seu candidato. Cerca de 1,4 mil pessoas foram presas. Algumas já foram denunciadas, processadas e condenadas por uma série de crimes previstos na legislação em vigor.

A invasão da Praça dos Três Poderes lembra dois outros fracassados golpes ocorridos na História política do Brasil: A Intentona Comunista de 1935 e o golpe Integralista de 1938, organizado por militantes de extrema direita, ambos no governo Vargas. Eles foram sufocados, mas deixaram um bom número de mortos e feridos e mais de mil e quinhentas pessoas presas.

Esse episódio lembra também o Putsch da Cervejaria, tentativa fracassada de golpe perpetrado pelo Partido Nazista contra o governo do estado alemão da Baviera, ocorrido em 9 de novembro de 1923. O objetivo de Hitler e seus aliados era tomar o poder do governo bávaro, para em seguida marchar sobre Berlim e destituir o governo do estado alemão. A ação terminou com Hitler e vários dos seus correligionários presos.

O paralelo entre o golpe nazista e o dia 8 de janeiro em Brasília é o fato de Hitler ter tentado envolver os militares sem sucesso. Hitler, no caso, tentou usar o famoso general Ludendorff como chamariz para atrair os militares para o seu lado.

Lá, como aqui, foi a recusa dos militares em participar do golpe que botou “água no chope” dos golpistas. Eles não sucumbiram ao “canto de sereia” dos nazistas assim como os militares brasileiros não ouviram o dos bolsonaristas. Gato escaldado tem medo de água fria, devem ter pensado os generais. Pelo menos é isso que o amigo do Bolsonaro, o Coronel Mauro Cid andou dizendo à Polícia Federal em sua delação premiada. Ele contou que Bolsonaro andou conversando com os chefes das Forças Armadas alguns dias antes da quebradeira do dia 8 de janeiro, analisando uma possibilidade de golpe, mas, ao que parece, só o Comandante da Marinha considerou viável a proposta.

Os generais tiveram juízo e não quiseram embarcar na canoa furada do ex-presidente. Bolsonaro nega tudo, mas a sua história passada não ajuda ninguém - a não ser os bolsonaristas radicais- a acreditar nele. Durante toda a sua gestão  o cheiro de 1964 andou no ar. E não temos dúvida de que, se ele tivesse ganho as eleições, já estaríamos vivendo, mais uma vez, sob o tacão de uma ditadura militar. O futuro não parece róseo para o ex-presidente. Ele pode acabar na cadeia. A política é uma deusa que não perdoa os perdedores. Mas é sempre bom lembrar que foi depois da prisão que Hitler conquistou o poder (e Lula também). Também já vai para cem anos que essas coisas aconteceram. Talvez seja hora de reler Gabriel Garcia Marques e Nietszche. Parece que o povo gosta dessas aventuras surrealistas, por isso elas vivem se repetindo.