Bolsonaro Prova Que Deus Não Existe

© Paulo Bitencourt

(Autor dos livros ‘Liberto da Religião’, ‘Perdendo Tempo Com Deus’ e ‘Com Zeus Não Se Brinca’)

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Milhares de coisas no Universo, como colisões de galáxias, explosões de estrelas e buracos negros, e na Terra, como erupções vulcânicas, terremotos e crianças com câncer, apontam para a inexistência de Deus. Se não estiver sob efeito de lavagem cerebral religiosa, que induz a ter medo de refletir, para onde você olhar verá coisas que seu bom senso naturalmente classificará de evidências de que o Universo não foi criado por Grande Arquiteto, Relojoeiro Divino ou Designer Inteligente algum, ou que, se foi, o Criador é ou sádico ou está se lixando para sua criação. Se Deus existe, é como diz uma canção de Chico Buarque: um cara gozador que adora brincadeira. Eu acrescentaria: de mau gosto.

A política é uma das coisas que mais fazem pessoas duvidarem da existência de uma inteligência por trás do Universo. Hilariamente, os próprios crentes se encarregam de evidenciar a inexistência dessa inteligência: através de suas preferências políticas.

Como qualquer criança sabe, Deus está tradicionalmente associado ao Conservadorismo e, portanto, à Direita. “Deus Conosco”, por exemplo, foi um lema usado também pelo exército nazista, e “Deus, Pátria e Família” foi o slogan tanto do movimento fascista Ação Integralista Brasileira quanto do ditador português António Salazar, e é o lema do Irmãos da Itália, o partido de direita que atualmente governa o país de Galileu Galilei (preso por expor erros de astronomia da Bíblia).

O ditador de direita Adolf Hitler era considerado o escolhido de Deus. Em missas e cultos, padres e pastores o exaltavam como verdadeiro cristão. A esmagadora maioria dos alemães e austríacos não via incompatibilidade alguma entre a maneira de Hitler pensar, falar e agir e Cristianismo. Do contrário, esses seguidores de Jesus teriam saído às ruas aos milhões, parado o país e, assim, impedido o ditador com bigodinho de Charlie Chaplin de cometer as atrocidades que cometeu. Como qualquer criança sabe, esse escolhido de Deus foi responsável pelo extermínio de milhões de pessoas.

Os ditadores de direita Francisco Franco, da Espanha, e Ante Pavelić, da Croácia, aliados do ditador com bigodinho de Charlie Chaplin, eram considerados tão cristãos que para seu tipo de ditadura até há um nome: nacional-catolicismo. Como qualquer criança sabe, esses escolhidos de Deus foram responsáveis pelo extermínio de cerca de meio milhão de pessoas.

Ser considerado o escolhido de Deus é a coisa mais fácil do mundo: basta você dizer que foi escolhido por Deus. Donald Trump, por exemplo, e Jair Bolsonaro fizeram isso. Funcionou (e ainda está funcionando). Esses imbrocháveis podem literalmente dizer e fazer o que quiserem, inclusive o oposto do que Jesus mandou. Nenhuma de suas palavras e nenhum de seus atos são capazes de fazer os crentes pararem de considerá-los os escolhidos de Deus.

Cristãos consideram Trump o escolhido de Deus apesar de, entre um monte de outras afrontas a Jesus, ter estuprado sua primeira esposa e traído sua terceira com uma atriz pornô. Enquanto milhões de americanos passam fome, Trump recebe milhões de dólares em doações de seguidores de Jesus, a quem esse escolhido de Deus afronta.

Cristãos consideram Bolsonaro o escolhido de Deus apesar de, entre um monte de outras afrontas a Jesus, ter colocado bombas em quartéis e, ao vivo na TV, conclamado ao assassinato do presidente Fernando Henrique Cardoso e a uma guerra civil, que mataria 30.000 pessoas (“se vão morrer alguns inocentes, tudo bem”, disse ele). Enquanto milhões de brasileiros passam fome, Bolsonaro recebe milhões de reais em doações de seguidores de Jesus, a quem esse escolhido de Deus afronta.

Um dos eventos mais bizarros (e reveladores) da história do Evangelicalismo no Brasil foi, após ter sido eleito presidente, Bolsonaro (que, segundo os próprios evangélicos, é idólatra, pois é católico) ser ungido com óleo por Edir Macedo, o dono de igreja mais rico do mundo e que pode ser chamado de charlatão (ele perdeu o processo que moveu contra alguém que o chamou disso). Macedo promete curas, mas não cura suas próprias mãos, que são atrofiadas (não sei se é por causa delas ou porque suga dinheiro de trouxas que ele é carinhosamente chamado também de Edir Morcego).

Uma das perguntas que não querem calar, a que crentes se contorcem para dar as respostas mais tresloucadas, é: Se Bolsonaro é o escolhido de Deus, por que perdeu a reeleição? A lavagem cerebral religiosa é tanta que, em vez de verem a derrota de Bolsonaro como prova de que nunca foi escolhido por Deus, ou de que, se foi, ele o rejeitou, crentes a veem como prova de que verdadeiramente é o escolhido de Deus, visto que estaria sendo perseguido por ser o escolhido de Deus.

É de fazer até a pessoa mais otimista do mundo perder a esperança na Humanidade.

Outras das perguntas que não querem calar: Por que o Criador do Universo foi se interessar por política brasileira só em 2018? O que estava fazendo no dia em que deveria ter ajudado seu escolhido a se reeleger? Ocupado, brincando de jogar estrelas em buracos negros? Se Bolsonaro é o escolhido de Deus, Lula é o escolhido do Diabo, correto? Quer dizer que o Diabo tem poder para melar os planos de Deus? Ou será que, como no livro de Jó, Deus fez uma aposta com o Diabo? “Aposto que você não consegue fazer os cristãos pararem de considerar Bolsonaro meu escolhido”. Com uma risadinha de canto de boca, o Diabo pensou: “Essa eu ganho fácil! É só eu fazer Bolsonaro perder a eleição”. Bolsonaro perdeu. E o Diabo, também.

Para mim, crápulas como Bolsonaro serem considerados os escolhidos de Deus é prova de que Deus não existe. Se, porém, existe e crápulas como Bolsonaro são seus escolhidos, Deus realmente é um cara gozador que adora brincadeira. De mau gosto.

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