LULA X CAMPOS NETO= SEIS POR MEIA DÚZIA
Os manuais de economia ensinam que dinheiro é apenas meio de troca. E todos sabemos que ele não é estável porque um dia ele compra certa quantidade de mercadorias e outro dia pode comprar menos ou mais. Geralmente menos, porque num país como o nosso, onde o padrão monetário é tão instável quanto a ideologia dos nossos políticos, deflação é algo tão difícil de ver quanto os pés de uma cobra.
John Maynard Keynes, economista famoso nos anos sessenta e setenta, assinalava que os principais motivos da instabilidade do padrão monetário eram o desemprego, a vida precária do trabalhador, o fracasso dos planos econômicos, os lucros exagerados do capital especulativo, os conflitos bélicos e as catástrofes naturais que destroem colheitas. Coisas que o nosso país conhece muito bem.
Se Lula não fosse esquerdista eu diria que ele se fundamenta em Keynes para sustentar a sua briga contra o presidente do Banco Central, que teima em manter a taxa de juros no padrão atual, considerado um dos mais altos do mundo.
E se tivéssemos que classificar Campos Neto numa das chamadas escolas econômicas diríamos que ele também é um keynesiano, porque segundo a sua ótica, a quantidade de dinheiro que circula na economia regula o preço das mercadorias. Destarte, crédito barato, significa mais dinheiro em circulação, e sem uma correspondente aumento de produção significa inflação. Por isso ele segura a taxa de juros provocando a ira de Lula e urticária nos economistas do PT, que gostariam de ver uma Selic bem baixinha.
Na verdade, se analisarmos as razões dos dois brigões, chegaremos a conclusão de que ambos estão certos e errados ao mesmo tempo. Lula tem razão quando alega que juros altos desincentivam investimentos e atravancam o desenvolvimento da economia. Economia estagnada significa desemprego, fome, perdas econômicas em todos os sentidos como dizia Keynes. Menos para os especuladores, que tem capitais para aplicar e auferem altos juros no mercado financeiro.
Por outro lado, a prática de juros baixos aumentaria o dinheiro em circulação, provocando inflação. Nisso Campos tem razão. Eu não sei o que é pior: uma economia estagnada, ou uma economia inflacionada.
Talvez devêssemos estudar o que está acontecendo na Argentina, que está vivendo as duas experiências neste momento. E a partir de uma análise criteriosa que envolva todas as variáveis apontadas, acabar com esse inútil debate que está ocorrendo entre o presidente da República e o do Banco Central. Economia não é uma ciência exata e não há fórmula padrão que possa ser aplicada sem riscos nem erros. O copo sempre estará meio cheio para um lado e meio vazio para o outro. Somente o diálogo e o estudo criterioso das necessidades e condições do país, sem levar em conta as ideologias, pode prover decisões proveitosas nesse campo. O resto é vaidade e teimosia. E disso é o que menos precisamos no momento.