Quanto pior melhor

Há quem, reagindo com o fígado a graves questões ideológicas e políticas, abrace o “quanto pior melhor”, uma versão do “quero ver o circo pegar fogo”. Gente que desdenha a sorte das gerações futuras e do Brasil nação. Mas na eleição de 2022 para a presidência no Brasil, os eleitores votaram no avanço. Venceu o sonho de um país com justiça social, próspero e soberano.

Anos de retrocesso tivemos desde as “jornadas de junho” de 2013, que culminaram com o golpe que afastou Dilma e o lawfare que prendeu ilegalmente Lula e gerou a criatura Bolsonaro. Retrocesso moral, ético, civilizatório, econômico. Sim, econômico! Ainda não foram revelados todos os rombos deixados pelo desgoverno vencido nas últimas eleições. Há quem diga que a economia foi bem. Foi? Sim, o agronegócio rendeu muito. Graças à valorização das commodities agrícolas no rastro de guerras e crises internacionais. Quem ganhou com isso? A população? Não! Foram os grandes proprietários rurais. Nos últimos anos os ricos ficaram ainda mais ricos, e os pobres ainda mais pobres.

Agora ressurgem os antidemocratas, de novo mal agourando anos de retrocesso para o governo Lula. Os mesmos que, após a reeleição de Dilma em 2014, não só boicotaram, mas sabotaram o governo que tentava diminuir os abismos sociais no Brasil. Fizeram de tudo, desde sonegar investimentos e contratações, promover demissões, sonegar estoques, fomentar paralizações e até alimentar a boataria alarmista negativista que apavora o leviano deus mercado.

A lógica reacionária antidemocrática é a lógica do lucro absurdo de uns poucos que se locupletam às custas da maioria da população, mantida na pobreza. Liberdade, nessa lógica nefasta, é poder continuar explorando o trabalhador, em benefício da atrasada elite econômica, que ainda não superou a monarquia e a escravatura. É a lógica do Estado mínimo e do mando do interesse privado, que submete não só o cidadão, mas todo o aparato de governo. Essa é a lógica que promove a obscena concentração de renda, a precarização do trabalho e a disseminação da miséria. É a lógica que origina a secular guerra social, a criminalidade e a insegurança. A verdadeira prosperidade alicerça-se não nesta perversa lógica, mas na justiça social, na igualdade de oportunidades, na valorização do trabalho, na distribuição de renda e no fomento à dignidade humana.

A liberdade do indivíduo vai até onde começa a liberdade do outro; daí a necessidade de governos fortes e com propósito. A China soube aplicar este princípio. Por esse motivo, após livrar-se dos impérios que a sangravam, imunizou-se contra interesses alienígenas e impôs severa regulamentação estatal sobre a atividade privada. Por isso prospera econômica e socialmente.

Há íntima cumplicidade entre a elite brasileira movida pelo lucro e interesses hegemônicos internacionais, econômicos e ideológicos. Os privilégios e ambições são mantidos à custa de intervenções armadas, embargos, especulações de mercado, golpes contra democracias, guerras midiáticas, cognitivas e jurídicas. Países que tentam manter-se soberanos frente à voracidade do império são demonizados. Ou são embargados, ou sofrem golpes para entronizar tirânicos governos fantoches, ou foram já invadidos, destruídos e subjugados. Cuba, Venezuela, Chile, Vietnam, Afeganistão, Iraque, Irã, Síria, Líbia, Brasil, Ucrânia são só alguns dos muitos exemplos.

A elite antidemocrática não vai largar o osso. Não vai deixar de apostar no “quanto pior melhor” enquanto o governo for de viés popular e contrariar sua ganância. Cabe então ao povo assumir seu papel na História.