LULA E A MÁQUINA DO TEMPO

 

O presidente brasileiro Lula da Silva tem uma obsessão: posicionar o Brasil no "clube" de países poderosos que definem o rumo da política mundial. Para isso, ele precisa ser a voz de algo maior que seu país e, por isso, busca ser o líder de toda a região. Ele tentou isso com relativo sucesso em seus mandatos anteriores, embora os escândalos de corrupção que se espalharam por vários países da América Latina devido à sua influência tenham estourado suas ambições.

 

Agora, de volta ao poder, ele tenta voltar o relógio para seus dias de ouro. Mas muita coisa mudou na América Latina (e no mundo) nos últimos dez anos. E a sequência de tropeços de Lula nas últimas semanas em relação à política externa mostra que o presidente brasileiro não entende as mudanças ocorridas ou está se apegando a uma estratégia que leva ao fracasso.

 

O primeiro tropeço ocorreu na recente cúpula do G7, onde Lula chegou querendo marcar uma agenda muito diferente da dos EUA e da Europa, apoiando exageradamente um suposto plano de paz da China para a guerra na Ucrânia. Sua tentativa de se manter equidistante entre Moscou e Kiev, e suas tentativas um tanto ridículas de evitar um encontro com o presidente Zelenski, foram o assunto dos meios de comunicação globais e causaram profundo descontentamento em Washington e Bruxelas. Fracasso em todos os aspectos.

 

Sua segunda tentativa foi ainda mais negativa. Ele convocou todos os líderes regionais para um "retiro espiritual" em Brasília para relançar as relações e o comércio em nível continental. Ao fazer isso, ele se colocou no centro do tabuleiro e buscou exibir a liderança de seu país.

 

No entanto, seja por fraquezas ideológicas, erros de cálculo ou contas pendentes, Lula cometeu um erro determinante. Ao receber o ditador venezuelano Nicolás Maduro antes do encontro, ele fez uma série de comentários completamente fora de contexto, defendendo o regime venezuelano, tentando "lavar" sua imagem internacionalmente e dizendo que as acusações de violações dos direitos humanos e a falta de liberdade política na Venezuela são apenas uma questão de "narrativas".

 

É uma afirmação beirando a imoralidade e que vai de encontro a dados duros e incontestáveis.

 

*O presidente brasileiro parece não perceber o quanto o mundo mudou na última década e, com sua tentativa de "limpar" Maduro, prejudicou seriamente sua ambição de ser líder e porta-voz da região.*

 

Talvez o exemplo mais contundente seja a onda de migrantes venezuelanos que invadiu quase todos os países do continente, sendo prova irrefutável do desastre do regime venezuelano e testemunho vivo da violência política no país. Mas, além disso, existem os relatórios de organismos internacionais, em muitos casos próximos à esquerda, e especialmente o relatório realizado pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet para a ONU. Não há espaço para duas opiniões, a Venezuela é uma ditadura e os direitos humanos são sistematicamente violados lá.

 

Esse episódio marcou tragicamente o encontro de presidentes e gerou uma crítica feroz de uma dupla que ninguém esperava.

 

Por um lado, o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, fiel à sua trajetória pessoal e à melhor história da política externa do país, disse que não se pode "tapar o sol com a peneira" e que Maduro é um ditador sanguinário. Que é ótimo potencializar o comércio e melhorar as relações, mas chega de criar novos organismos que só servem para engordar as burocracias às custas dos contribuintes.

 

Essa mensagem, que o próprio governo brasileiro tentou sufocar ao não transmiti-la ao vivo, conseguiu se destacar e solidificar a figura de Lacalle Pou como um líder político no continente.

 

Mas Lacalle Pou teve um aliado inesperado: o presidente chileno Gabriel Boric. Apesar de sua visão esquerdista, e uma esquerda bastante forte, Boric não teve contemplações com a hipocrisia de muitas pessoas em seu campo ideológico em relação ao que está acontecendo na Venezuela, Cuba e Nicarágua. E mais uma vez ele expôs isso publicamente. Talvez por sua ligação próxima a Bachelet. Talvez por compartilhar com Lacalle Pou uma sensibilidade quase geracional, que não aceita os cortes da Guerra Fria que ainda afetam pessoas como Lula.

 

Na prática, isso tem sido um fracasso retumbante para a política externa do Brasil. Longe de se posicionar como o líder natural da região, Lula da Silva saiu muito mal, questionado e com seu crédito seriamente afetado na opinião pública continental e global. No caso do Uruguai, o evento mostrou novamente um país pequeno, mas com dignidade e uma visão clara. E um presidente como Lacalle Pou, que continua crescendo como uma figura de referência para muitas pessoas na América Latina.

Autor desconhecido
Enviado por Moacir Rodrigues em 06/06/2023
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