Habemus circus
O cidadão brasileiro terá espetáculo circense gratuito em breve. O pontapé inicial foi dado pelo presidente do Senado Federal, que fez a leitura do requerimento de instalação da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI). Composta por 16 senadores e 16 deputados, os membros serão definidos pelo critério da proporcionalidade partidária e a iniciativa a princípio, teria por objetivo apurar os fatos ocorridos nas sedes dos três poderes da União em data de 8 de janeiro. Provavelmente impregnados pelos mais nobres sentimentos presentes naqueles obstinados defensores da democracia, eis que nossos ilustres parlamentares resolveram também investigar o caso. Não obstante outras instituições como Polícia Federal, Ministério da Justiça, Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal acionados prontamente para o esclarecimento, responsabilização e exemplar punição aos participantes dos atos antidemocráticos daquela ocasião, o Congresso Nacional chamou para si mais essa responsabilidade.
Seria interessante se nossos zelosos representantes federais, ainda que sobejamente imbuídos de dedicação incondicional aos interesses maiores da pátria e do bem estar de seu fustigado povo, concentrassem seus esforços em votar projetos relevantes para o País, que estão à espera de resolução. Não se chegou a um acordo sobre temas imprescindíveis e inadiáveis como a reforma tributária e o “arcabouço” fiscal, entre tantas outras propostas de interesse público e que estão à mercê da pouca ou nenhuma vontade política para aprovação. Em meio a esse substancioso e quase insolúvel volume de projetos, quais os motivos factíveis então para se criar mais uma CPI nesse momento conturbado? A quem interessaria inflamar ainda mais o volátil e polarizado ambiente do Congresso Nacional?
A recorrente ingenuidade de alguns e a costumeira inépcia de outros encontrariam respostas nos discursos tendenciosos das correntes ideológicas, que manipulam de braçadas os rumos da sórdida política brasileira; nas justificativas tacanhas dos velhacos acostumados com as incontáveis e intermináveis benesses do poder. Essa gente procura apenas promoção pessoal, no brilho dos holofotes e nas lentes das câmeras. Vale lembrar de que em outros carnavais, depoentes foram intimidados e constrangidos por parlamentares inquisidores, uma forma nada republicana de angariar dividendos políticos sob o pretexto maroto da busca pela verdade dos fatos. São experts em montar o circo para o espetáculo previamente arquitetado, criando uma cortina de fumaça com o propósito maior de dissimulação e a julgar pela imensa audiência conferida às edições anteriores, o feito poderá ser equivalente.
È de se esperar acalorados embates de narrativas e o nível de civilidade equiparado à altura da guia rebaixada da calçada, pelo exacerbado antagonismo apresentado pelas diferentes inclinações ideológicas, o que não seria novidade. Ao respeitável público, cumpridor de suas responsabilidades como pagador de impostos, resta a sensação de que mais uma vez, estará representado no papel dos profissionais do riso, cujos trajes espaçosos e coloridos fazem a alegria da garotada. Àqueles autênticos emissários da alegria, uma salva de palmas, com o merecido respeito.