O ANJO NEGRO DO BOLSONARO?
No dia 5 de agosto de 1954 ocorreu no Rio de Janeiro o episódio conhecido como "Atentado da Rua Tonelero". Esse episódio foi uma tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, ferrenho opositor do então presidente Getúlio Vargas. O mandante do crime foi o seu ajudante de ordens, Gregório Fortunato, conhecido como o seu “Anjo Negro”. Lacerda saiu levemente ferido, mas o major da Aeronáutica, Rubens Florentino Vaz, morreu a caminho do hospital.
Na casa de Gregório foram encontrados papéis que mostravam que, apesar de receber um salário de 15 mil cruzeiros, ele era dono de um conjunto de bens estimado em torno de 65 milhões de cruzeiros, uma grande fortuna, incompatível com os seus rendimentos. Além das atividades ilegais de Gregório, as autoridades reuniram provas que o “Anjo Negro” do presidente também traficava influências e fazia negociatas inclusive com o filho mais moço de Getúlio, Manuel Sarmanho Vargas, o Maneco. O atentado desencadeou a crise política que culminou com o suicídio de Getúlio, em 24 de agosto de 1954.
Na última quarta-feira o ex-capitão do exército Ailton Barros foi preso pela Polícia Federal em operação que apura esquema de falsificação de dados de vacinação contra o Covid-19, operação essa que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e o seu ajudante de ordens Mauro Cid.
Nas mensagens apreendidas pela Polícia Federal Ailton Barros afirmou saber quem seria o mandante da morte de Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrida em 2018 e que até hoje não foi totalmente solucionada, pois embora os executores do crime tivessem sido presos, ainda não foi identificado quem mandou matar a vereadora.
O fato de Ailton aparecer nas mensagens que foram a base da operação da PF como um elo entre o ex-vereador carioca Marcelo Siciliano, alvo de busca e apreensão nesta quarta-feira, e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro têm preocupado as hostes bolsonaristas e com certeza vai tirar, se já não tirou, o sono do ex-presidente. Aliás, para seus opositores e desafetos, não poderia haver melhor situação para atacá-lo do que descobrir que ele, ou alguém das suas relações, têm alguma coisa a ver com o assassinato de Marielle. Já basta a confusão em que o seu ajudante de ordens Mauro Cid o meteu com a falsificação das carteiras de vacina. Isso sem contar as provas agora levantadas de que ele andou tramando um golpe de estado dias antes do fatídico 8 de janeiro, junto com o tal Ailton. Aliás, que um golpe de Estado sempre esteve nos planos do Bolsonaro, só mesmo os seus mais radicais simpatizantes teriam coragem de negar. Do jeito que as coisas estão caminhando para o lado do ex-presidente só falta agora descobrir que o tal Ailton era o seu “Anjo Negro”. Aí ele nem precisará de um maluco para tentar matá-lo. Porque, politicamente, ele já estará morto.