Malditas joias sauditas
Que ironia! A repercussão do caso das joias que Bolsonaro recebeu do governo da Arábia Saudita lembra o caso de Al Capone nos EUA, nos idos de 1920-30. Ele foi uma notória personagem do mundo do crime, acusado de assassinatos, fraude, extorsão, corrupção e agiotagem. Era um líder gângster sem escrúpulos, violento e frio. Controlava ilegalmente casas de jogo, bordéis, bancas de apostas, clubes noturnos, destilarias e cervejarias. Chegou a faturar 100 milhões de dólares por ano, e foi considerado figura de importância, no nível de Albert Einstein e Mahatma Gandhi.
Com tanto dinheiro, poder e celebridade, a justiça não conseguia provar seus crimes e prendê-lo. Foi preciso que ele acabasse condenado pelo crime de sonegação fiscal, muito menos importante que os demais delitos que cometia. O gângster não conseguiu comprar, exterminar ou intimidar os responsáveis pelo sistema pecuniário público que o enquadrou. Acabou preso, mas só cumpriu oito anos de prisão, com a pena reduzida por questões de saúde.
E o Bolsonaro? Que chegou a ser preso e considerado culpado por insubordinação e atos de terrorismo por tribunal militar, embora depois tenha sido salvo em instância superior por dúvidas nas provas? A personalidade de Bolsonaro parece não diferir muito daquela de Al Capone. Da mesma forma que o gângster, o capitão brasileiro tem a capacidade de angariar comparsas e poder, amiúde graças à força da intimidação com que confronta adversários e a malignas alianças.
São muitos os crimes imputados a Bolsonaro: conluio nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília; mentiras sobre o processo eleitoral e o STE; culpa no genocídio indígena na terra yanomami; conivência com garimpo ilegal em terras indígenas; crime contra a humanidade na gestão da pandemia de Covid-19; culpa no aumento do desmatamento da Amazônia; elevação do número de incêndios florestais e emissão de CO2; vazamento ilegal de dados de inquérito sigiloso da PF acerca de hackeamento no TSE; falsa associação entre a vacina contra Covid e riscos à saúde; vinculação a quadrilhas disseminadoras de mentiras; emprego irregular de verbas públicas; prevaricação; charlatanismo; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares...
E estas são só as acusações que aparecem nas principais denúncias formais, fruto da CPI da pandemia e de inquéritos no STF, na Procuradoria Geral da República e no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Agora, a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização, Controle e Defesa do Consumidor do Senado Federal abriu inquérito para apurar possível relação do “presente” das joias sauditas com a venda da refinaria Landulpho Alves, na Bahia. Pela metade do preço! A um fundo de investimentos de Abu Dabi! Suspeita-se que as joias não sejam um presente, mas uma maldição. Um tipo de suborno para viabilizar uma negociação lesiva ao interesse do Brasil e dos brasileiros.
Veremos se hoje, em nosso país, a justiça difere daquela do tempo de Al Capone.