...QUASE TODOS PERDIDOS, DE ARMAS NA MÃO.
Eu gostaria muito de não estar relembrando assassinatos brutais. Em nosso país, coincidentemente, homicídios monstruosos acontecem quase sempre contra pessoas de cor. Quando praticados com arma de fogo, parece até que o "alvo" dos atiradores nunca é "alvo" ao pé da letra. Isto é, atiram no alvo com o objetivo de atingir o ponto "negro" à sua frente. Paradoxo dos que são treinados para matar: mirar no branco para atingir o "negro".
Sei que não estou sendo muito "claro", mas vamos logo ao que interessa.
Era uma tarde de domingo: 14H40 do dia 07 de abril de 2019. Na estrada do Camboatá, Rio de Janeiro, o músico negro (Evaldo Rosa dos Santos), seu sogro (Sérgio Gonçalves), sua esposa (Luciana Nogueira, grávida), seu filho (de 7 anos) e uma amiga, todos de cor, passavam num carro alvo - Ford Ka - para comemorar o aniversário de outra pessoa da família num bairro próximo.
De súbito, sem qualquer comando de "pare" - para uma eventual investigação -, um pequeno batalhão de doze militares do Exército Brasileiro dispara contra eles, ou contra o carro (dá no mesmo), pelas costas, uma lufada de 257 tiros de fuzil.
A mulher grávida, o filho e a amiga conseguiram sair do carro para mostrar que era uma família que o ocupava. De nada valeu. Os tiros continuaram até o último cartucho. Um brinquedinho de video game.
Para se defenderem, os militares alegaram estar cumprindo a "Operação Muquiço", ainda como missão da Força de Segurança Pública. Uma inverdade, pois que a G.L.O. (Garantia da Segurança e da Ordem), no Rio de Janeiro, já havia expirado em 2018.
Morreram na tragédia: Evaldo (o músico, motorista) e, onze dias depois, no hospital, o catador de material reciclável, Luciano Macedo, negro, que se encontrava no local e que tentou socorrer a vítima.
Dois anos e meio depois (13/10/2021), a Justiça Militar condenou oito dos doze militares envolvidos.
O então presidente da República, Jair Bolsonaro, não demonstrou nenhum sentimento de pesar. Cinco dias depois do ocorrido, entretanto, chegou a se manifestar claramente em defesa dos militares envolvidos:
- "O Exército não matou ninguém, não, o Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de ser assassino"...
E mais:
Ainda em 2019, logo depois do trágico acontecimento, Jair Bolsonaro encaminha para o Congresso Nacional um Projeto de Lei isentando de qualquer responsabilidade os militares e agentes de segurança que praticassem homicídios durante a vigência da G.L.O. (Garantia da Lei e da Ordem).
Sei que o militar é treinado para matar, mas o povo nada tem a ver com seus crimes hediondos.
(fernandoafreire)