Socialismo líquido x socialismo embalsamado:
>Mind Games - John Lennon
We're playing those mind games together
Pushing the barrier
Planting seed
Playing the mind guerilla
Chanting the mantra
Peace on Earth
Jogos Mentais - (tradução)
Nós estamos jogando juntos estes jogos mentais
Movendo as barreiras
Plantando sementes
Fazendo a guerrilha mental
Cantando o mantra
Paz na Terra
> Rios, Pontes e Overdrives - Chico Science
"Rios pontes e overdrives, impressionantes esculturas de lama
Mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue!
Molambo eu, molambo tu, molambo eu, molambo tu
Molambo boa peça de pano pra se costurar mentira
Molambo boa peça pra se costurar miséria
Molambo boa peça de pano pra se costurar mentira, mentira, mentira
Molambo boa peça pra se costurar miséria, miséria, miséria
Molambo eu, molambo tu, molambo eu, molambo tu (...)"
A síntese é a estética da contracultura. E quem não entender isso, viverá a história como uma simulação.
Como havia fronteiras nos jardins da razão, inventamos a nossa própria ciência: maracatu atômico, computadores transformando Mind Games - John Lennon em "Pontes, Rios e Overdrives" - Chico Science.
Não há contrastes ou amálgama temática, há um dizer movido pelo busca de autenticidade: o drama mortal das ideias modernas nos dias de hoje. Se a opressão das grandes narrativas já faz parte do anedotário contemporâneo, a mesma autenticidade libertada disso pode ser agora substituída pela falsa liberdade de consumir.
Socialismo líquido: abraça árvores, abstrai pautas sociais do fundamento material e histórico e se apoia na mesma estética do consumo que condena. Não acha necessário ler Marx, carecendo de visão dialética da realidade. Pretende salvar o mundo por meio de mensagens e moralismo pós-moderno. Completamente imerso na modernidade líquida. Figurariam como ótimos exemplos para as anedotas de pensadores pós-modernos.
Socialismo embalsamado: finge que a queda da ex-URSS não significou nada (críticas pós modernas, questões econômicas, as novas formas de controle social e midiática, fragmentação), Lênin é o mesmo ontem, hoje e sempre. Esteticamente analógico, pretensamente vanguardista e tecnicamente reduzido a bolhas e nichos - assim como os reacionários e fascistas). Nega o estágio superior da guerra ideológica, como mera superestrutura e sem inteligência estética para se apropriar e resignificar.
Dialética negativa: o sistema avança colonizando inclusive os movimentos sociais. Os riscos de guerras nucleares, mudanças climáticas irreversíveis e retrocessos como humanidade se acentuam.
A crise do socialismo também é estética.
Decolonialismo e Marxismo:
Essas críticas decoloniais e mesmo pós-modernas se alimentam de uma coisa: distância entre o que se pensa sobre o mundo e seus conflitos e aquilo que move o mundo em termos de ideias e percepções de mundo. Há uma tendência do marxismo de desprezar esse nível cultural como se sua dinâmica fosse inteiramente dependente das estruturas econômicas.
Essa visão do homem racional e econômico (resquício de um iluminismo mal superado), ainda persiste, mesmo e apesar dos conceitos de alienação e fetiche. Essas revoluções na mente que não chegam ao homem comum, seja decolonial ou marxista, não possuem efetividade política e transformadora nenhuma. Sim, o marxismo tem seus autores que poderiam nos capacitar nisso, mas preferimos ficar em uma espécie de lugar especial supostamente garantido pela adesão aos interesses de classe dos trabalhadores - só faltou combinar com os trabalhadores. É pouco produtivo simplesmente recusar todas as análises e percepções que reunimos sob o nome de pós-modernidade, como se isso fosse um mero efeito da estrutura econômica. Subestimamos o papel da superestrutura na sustentação desse sistema e ao mesmo tempo nosso fundamento material parece estancado no começo do século XX.
A dialética se tornou um dogma e por isso infértil. Sem a capacidade de levar quaisquer reflexões para além do nicho que criamos, estaremos aprisionados ao simbólico esterilizado, cuja a serventia não passará de sublimação inofensiva do nosso desejo de justiça social. Talvez não tenha sido a implosão da ex-URSS a mais problemática questão para o marxismo hoje, mas sim que o marxismo opere hoje exatamente como os pós-modernos descrevem sobre as ideologias nos tempos de hoje: fragmentação ideológica, diluição de categorias como classe em diversos nichos pouco articulados e mesmo opostos, incapazes de prevalecerem como algo além de ideias, valores e ideologias de grupos e indivíduos. Já temos a fome, a barbárie, as desigualdades cada vez mais evidentes e todas os prognósticos ambientalistas e bélicos sombrios sobre o futuro
- o que nos falta ou o que em nós nos falta?