AÇÃO E REAÇÃO
A infeliz declaração do Lula a respeito do plano do PCC para matar o senador Sérgio Moro pôs em relevo o mal que faz nós deixarmos que a nossa mente reativa seja a informante do nosso comportamento. Aliás, esse é um dos grandes males que vêm transformando a política brasileira numa atividade mais destrutiva do que construtiva.
A função da oposição, por exemplo, não é tentar atrapalhar o governo do adversário, fazendo tudo para que ele não tenha sucesso. Oposição é importante e precisa existir para fiscalizar os atos do governo e apontar os possíveis erros que ele pode cometer, evitando assim consequências indesejáveis para os governados. Mas parece que no Brasil de hoje a oposição perdeu essa perspectiva. Ela age como se fosse uma sombra sinistra que anda atrás do governante, com uma foice nas mãos, esperando que ele tropece e exponha o pescoço para o golpe fatal. Isso foi o que as esquerdas fizeram durante todo o governo Bolsonaro e agora é o que os bolsonaristas estão fazendo com o Lula.
O grande problema é a natural tendência do ser humano de reagir por instinto a toda e qualquer agressão. Com isso acabamos sendo mais reativos do que proativos. Bolsonaro passou todo o tempo do governo dele batendo nas esquerdas em resposta às agressões que sofria dela. Com isso deixou de fazer muita coisa necessária para melhorar a vida dos brasileiros. Por isso perdeu a eleição.
A mesma coisa pode acontecer agora com o Lula. Seu ódio pelos adversários e sua sede de vingança contra quem, no passado, lhe causou constrangimentos e dores, pode fazer dele um governante mais preocupado com reações do que com as ações que dele se esperam para melhorar a vida do povo brasileiro.
De um chefe de governo espera-se mais do que diatribes contra seus adversários. Esperam-se ações. Quanto à oposição seria de bom alvitre que atentasse para o verdadeiro sentido da palavra. Porque, em se tratando de política, oposição não é opor-se sistematicamente às ações do governo, impedindo-o de governar, mas sim apontar os seus erros, com a finalidade de impedir que ele prejudique os governados. Se o objetivo da oposição for apenas prejudicar o adversário para que ele não faça um bom governo, o que ela está fazendo não é prejudicar o governante, mas sim o povo que ele governa. E se o governo passa a maior parte do seu tempo reagindo aos ataques que recebe da oposição, o resultado será o mesmo. Será difícil descobrir quem faz mal maior.
Na nossa vida cotidiana já percebemos o mal que nos faz adotarmos comportamentos reativos, de preferência ao proativo. Seria bom que os nossos políticos também percebessem isso, e ao invés de reações virulentas, ditadas pelo ódio, passassem à uma proatividade informada pelo desejo de servir com eficiência quem os elegeu.