OLHANDO DE PERTO NINGUÉM É NORMAL
Loucura é definida como uma alteração mental que se caracteriza pelo afastamento prolongado do indivíduo de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir. Ou seja, é um comportamento que foge ao controle da razão.
Mas o que é racional e o que não é? Um ditado popular diz que de médico e louco todos temos um pouco. Jung, o psicanalista mais amado pelos intelectuais, justifica a loucura acusando o nosso cérebro de agasalhar um mundo desordenado e caótico que ele chamou de inconsciente.
Que o nosso cérebro hospeda mesmo um inconsciente onde as informações que temos do mundo são interpretadas da forma mais estapafúrdia parece ser indubitável. Basta lembrar dos nossos sonhos, onde tudo acontece de trás para a frente, de cabeça para baixo, ou como se fosse um daqueles desenhos animados em que um coelho se transforma em avião e parafuso vira porca. Há quem diga que isso é porque nosso cérebro guarda recordações do Caos inicial que era o universo quando ele saiu do Big Bang. Tudo é possível. Basta crer que é. Quando cremos que algo é assim, é porque é, e não importa que todo mundo ache que não é.
Loucura é uma palavra processual que resume um processo muito complexo que se desenvolve no nosso sistema neurológico. O masoquismo, por exemplo, é a palavra que resume um processo que ocorre na mente de um indivíduo que gosta de sentir dor. É paradoxal, mas é mais comum do que se pensa. Antigamente pessoas que sofriam desse complexo costumavam se mutilar com cintas de silício para provocar chagas em seus corpos. Outros chicoteavam a si mesmos ou pediam para ser mutiladas. O masoquismo estava ligado à religião e era praticado principalmente por fanáticos que pensavam obter assim uma espécie de iluminação. Mas hoje se sabe que essa compulsão é mais comum do que pensa e não tem, como se julgava antigamente, um fundo religioso. É psicológico mesmo. É um comportamento tão moderno quanto usar piercing, dançar rap, passar horas e horas numa fila de shopping center para comprar um ipod de última geração ou ser pisoteado por uma multidão só para ver a Anitta balançar o traseiro.
Hoje temos muitas formas de masoquismo que nos causa prazer. Passar horas e horas frente a uma TV assistindo ao Big Brother, ouvir os tais sertanejos universitários ou a chamada música sofrência, ver jogo da seleção etc. Mas a maior prova de que o título deste artigo contém alguma verdade é o nosso comportamento político. Metade mais um de nós votou num candidato que passou 580 dias na cadeia condenado por corrupção. Metade menos um votou no outro candidato que se revelou um psicopata de carteirinha. Depois disso só mesmo sair por aí rasgando dinheiro ou enfiando a cabeça no vaso sanitário. E quando vir um louco na rua não fique com pena dele. Ele está apenas expondo aquela parte que nós fazemos força para esconder.