INEVITÁVEL COMPARAÇÃO

 

Talvez seja apenas demagogia, como dizem os bolsonaristas, mas que no jogo da captura da popularidade, Lula dá de dez a zero no “mito”, ninguém pode negar. As chuvas que castigam o litoral norte de São Paulo estão fornecendo um claro exemplo desse fato. Basta lembrar as atitudes de Bolsonaro em relação às tragédias que ocorreram em seu governo. Ele sempre teve dificuldades para mostrar alguma empatia com o povo que as sofria. Já Lula atendeu de pronto essas necessidades e não se furtou a aparecer junto com opositores no mesmo palanque.

Bolsonaro nunca se prestou a isso. Preferia o confronto ao invés da cooperação. Em 2022, enquanto 119 mil desabrigados na Bahia sofriam com os percalços provocados pelas chuvas intensas que caiam naquele estado, Bolsonaro posava de Indiana Jones em motociatas em Santa Catarina, lamentando ter que interromper suas rocambolescas aventuras para cumprir o mínimo que sua condição de primeiro mandatário do país exigia.

Essa falta de empatia com a população mais vulnerável do país o levou a praticar um comportamento errático e destrutivo durante a pandemia do Corona Vírus, recomendando medicamentos ineficazes e alimentando conflitos com os governadores pela questão das vacinas, quando deveria adotar uma política de cooperação e parceria para enfrentamento do problema.

Bolsonaro só se preocupava com a questão econômica. Tanto que seu ministro da Economia era chamado de “Posto Ipiranga”, uma paródia desse posto de serviços, que segundo a propaganda, fornece tudo que o cliente precisa. Seguiu à risca a cartilha liberal, centrada na velha teoria de Adam Smith, de que se a economia vai bem, o resto se ajusta naturalmente, porque uma “mão invisível” trabalha para levar os recursos para onde se precisa dele. O problema é que essa “mão invisível” se chama mercado e só meia dúzia de “eleitos” controlam seus movimentos. A grande maioria da população recebe sequer um aceno.  

Isso não quer dizer que a política distributivista do PT e cediço populismo lulista seja o remédio apropriado para curar a endêmica doença do subdesenvolvimento que assola grande parte do país. Não se pode distribuir o que não se tem. Primeiro é preciso criar condições para produzir. Depois fazer uma justa distribuição do produto. Um PIB robusto não é sinônimo de um IDH favorável. É preciso que o Produto Nacional Bruto caminhe junto com o Índice de Desenvolvimento Humano. É nesse sentido que os nossos dois combatentes precisam deixar a liça e começar a pensar seriamente em um projeto de país que contemple o crescimento dos dois índices em idênticas proporções. As eleições terminaram. Lula precisa descer do palanque e começar a governar. E Bolsonaro, se quiser se tornar um líder de verdade, precisa sair do “cercadinho” extremista que ele construiu e começar a agir como o verdadeiro estadista que seus apoiadores acham que ele é, mas que nunca foi até agora.